Além disso, a microbiota intestinal fermenta compostos indigestíveis que chegam ao cólon, gerando metabólitos importantes para a função intestinal e saúde do hospedeiro.
Dentre esses metabólitos, os oriundos principalmente da fermentação de carboidratos, como os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), apresentam importância na absorção de água e eletrólitos, peristaltismo e controle da inflamação intestinal.
Já, alguns metabólitos provenientes da fermentação de compostos nitrogenados, como
- A amônia,
- Aminas biogênicas e
- Fenóis
Podem contribuir para processos inflamatórios, como a colite e a carcinogênese do cólon, bem como aumentar o odor fecal.
Como alguns grupos de microrganismos do TGI apresentam predileção por produzir metabólitos da fermentação de carboidratos ou proteínas, a modulação da microbiota a favor da eubiose, pode favorecer a produção de AGCC e controlar a produção de compostos putrefativos.
Os filos bacterianos predominantes identificados no microbioma intestinal de cães saudáveis são:
- Firmicutes,
- Bacteroidetes,
- Proteobacteria,
- Fusobacteria e
- Actinobactéria (Figura 1).
Figura 1. Filos e gêneros bacterianos predominantes nos segmentos do TGI de cães saudáveis.
Adaptado de Grzeskowiak et al. (2015) e Lee et al. (2022)
Vale ressaltar que cada animal tem um perfil microbiano único, dependente da
- Idade,
- Dieta,
- Fatores ambientais,
- Fisiológicos e
- Individuais.
Por outro lado, as características comuns observadas na microbiota de animais com algum distúrbio intestinal ou quadros de disbiose são: redução da diversidade de microrganismos, aumento de bactérias como E. coli, Streptococcus e Clostridium perfringens e redução de Faecalibacterium, Blautia, Fusobacterium, Turicibacter e Clostridium hiranonis.
Benefícios e possíveis mecanismos de ação dos probióticos
Os benefícios do uso dos probióticos na nutrição canina têm sido divulgados na literatura científica (Tabela 1), principalmente nas últimas duas décadas (com o avanço das técnicas moleculares), sendo os mais comuns:
Tabela 1. Efeitos da suplementação de probióticos sobre a saúde de cães.
Probiótico |
|
|
Grupo |
Efeitos no grupo probiótico |
Referência |
Mistura probiótica¹ |
|
|
D.R.C |
↑ Taxa de filtração glomerular |
Lippi et al. (2017) |
B. subitilis B. licheniformis |
|
|
C.S |
↓ Compostos putrefativos |
Bastos et al. (2020) |
B. subtilis |
|
|
C.S |
↑ Diversidade da microbiota |
Lima et al. (2020) |
L. rhamnosus GG |
|
|
D.A |
↓ Indicadores de dermatite |
Marsella (2009) |
L. sakei |
|
|
D.A |
↓ Gravidade da doença |
Kim et al. (2015) |
B. longum |
|
|
D.A |
↓ Lesões cutâneas |
Lee et al. (2020) |
S. boulardii |
|
|
E.C |
↑ Consistência das fezes |
D´Angelo et al. (2018) |
Mistura probiótica² |
|
|
D.I.I |
Disbiose normalizada |
Rossi et al. (2014) |
L. acidophilus e L. johnsonii |
|
E.C |
↑ Lactobacillus, ↓ diarreia |
Sauter et al. (2006) |
L. fermentum, L. rhamnosus e L. plantarum |
Di.A |
↓ C. perfringens e E. faecium |
Gómez et al. (2016) |
E. faecium |
|
|
Di.A |
↓ Diarreia aguda |
Nixon et al. (2019) |
L. reuteri e L. bulgaricus |
|
|
Di.A |
↑ Consistência das fezes |
Shmalberg et al. (2019) |
L. casei Zhang, L. plantarum, B. animalis |
Di.A |
↓ E. coli; ↑ Faecalibacterium |
Xu et al. (2019) |
↑ = aumentou; ↓ = reduziu¹L. casei, L. plantarum, L. acidophilus, B. breve, B. infantis e S. salivarius²
L. casei, L. plantarum, L. acidophilus, L. delbrueckii bulgaricus, B. longum, B. breve, B. infantis e S. salivarius thermophilus
D.R.C = Doença renal crônicaD.A = dermatite AtópicaE.C = Enteropatias crônicasD.I.I = Doença inflamatória intestinalDi.A = Diarreia agudaC.S = Cães saudáveis
Os principais mecanismos de ação dos probióticos incluem:
- Exclusão competitiva por nutrientes e sítios de ligação na mucosa intestinal, reduzindo as bactérias potencialmente patogênicas;
- Colonização e restabelecimento da microbiota normal por meio da sua modulação, melhorando, assim, a disponibilidade de metabólitos microbianos considerados benéficos;
- Estímulo do sistema imune, por meio de interações com o epitélio do hospedeiro e o sistema imune associado ao intestino;
- Produção de metabólitos e peptídeos antibacterianos.
Características dos probióticos
Como forma de garantir que os probióticos cheguem viáveis ao intestino grosso, são necessários alguns critérios, como: ser microrganismos não patogênicos ou tóxicos, possuir resistência ao pH do estômago, enzimas digestivas e sais biliares, ter capacidade de sobreviver e realizar metabolização no ambiente intestinal e resistir às condições de processamento e armazenamento até o momento do fornecimento da alimentação ao animal.
Assim, os probióticos frequentemente utilizados na nutrição canina que atendem à essas características são as bactérias pertencentes aos gêneros: Bacillus spp., Lactobacillus spp., Bifidobacterium spp. e algumas espécies de Enterococcus spp. e as leveduras (Saccharomyces spp.).
Considerações finais
As evidências científicas sugerem que os probióticos têm potencial de promover a saúde e o bem-estar de cães saudáveis ou podem ser utilizados com um agente coadjuvante no manejo de distúrbios gastrointestinais, como casos de diarreia aguda e/ou crônica e doença inflamatória intestinal.
Ademais, o uso desse aditivo pode contribuir com a redução da produção de compostos putrefativos, que são tóxicos em altas concentrações e responsáveis pelo aumento da produção de gases, odor fecal e doenças inflamatórias, como a colite.
No entanto, como o ambiente intestinal é extremamente complexo e afetado por múltiplos fatores e suas interações, ainda há necessidade de maiores estudos para melhor compreensão da efetividade de diferentes cepas de probióticos em cães com diferentes condições clínicas.
REFERÊNCIAS
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