O arroz é um grão produzido para alimentar humanos, o que não impede que, excepcionalmente, o grão também seja utilizado para alimentar animais domésticos e produtores de carne, cuja alimentação se concentra numa fonte de carboidratos (o milho) e de proteínas (a soja). De acordo com estudos realizados pela Embrapa Suínos e Aves, desde uma perspectiva nutricional, o arroz marrom (descascado, mas não polido), pode complementar ou substituir o milho na alimentação animal, emborra existem outras alternativas mais racionais para alimentá-los (mandioca, batata doce, farelo de arroz e de algodão, entre ouros).
Mas o alto preço do milho em anos recentes, tem motivado produtores de suínos e aves a olharem para o arroz como uma alternativa ao milho, dado o valor relativo de ambos os grãos. Um alívio para os produtores de proteína animal do Rio Grande do Sul (RS) e de Santa Catarina (SC), maiores importadores de milho entre os estados brasileiros e responsáveis pela produção de 91% da safra nacional de arroz, o que os leva a enfrentar altos preços do milho e da soja trazidos de outros Estados, ao tempo que sobra arroz nos armazéns locais, o que contribui para reduzir sua cotação no mercado.
A alternativa do arroz no lugar do milho na formulação de rações para alimentar animais domésticos produtores de carne parece ser racional desde que o preço do arroz também não esteja nas alturas, o que não é o caso neste momento, visto que há uma sobre oferta de arroz no mercado sul brasileiro, como consequência da boa produtividade, da Pandemia da Covid 19, do conflito Rússia-Ucrânia, da valorização do dólar frente ao real, e de quebras na primeira e segunda safras de milho no Brasil nos três últimos anos, deixando o grão de arroz mais barato, relativamente ao milho.
Segundo estudos do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), o preço médio da saca de milho e soja cresceram, respectivamente, 93,9% e 68,1% nos três últimos anos (2021), intuindo que o custo de produção de suínos e de aves aumentou, aproximadamente, na mesma proporção.
O preço do frete também conta no preço final dos grãos. Então, se a falta de milho ocorre em regiões onde sobra arroz, como acontece no RS e SC, responsáveis pela maior parcela da produção nacional do grão e, também, grandes produtores de carnes, a combinação é perfeita.
- É nessa região onde existe o maior déficit de grãos para alimentação de suínos e aves e também, onde se concentram os excedentes de arroz. Por outro lado, se a falta de milho ocorre longe do centro produtor de arroz, o custo do frete para levar o excedente de arroz para onde o milho está faltando, pode não valer a pena.
A ração utilizada na alimentação animal está excessivamente concentrada no uso do milho e na soja como matérias primas para a produção de carnes. E isto não é bom. Seria desejável que se buscasse outras alternativas para garantir um fluxo contínuo de alimentos para suprir as necessidades de suínos e de aves.
O cultivo do trigo e do triticale, por exemplo, entre outros grãos de inverno, seria uma excelente estratégia fazendo uso de áreas ociosas após a colheita da safra de verão e que ficam disponíveis durante a estação fria.
O uso de cereais de inverno na alimentação de suínos e aves já é uma realidade na região sul do Brasil e com os elevados preços das matérias primas tradicionais utilizadas na alimentação de animais domésticos (milho e soja, principalmente), a tendência sinaliza para um crescente aumento na utilização dessa alternativa.
Segundo informa a Epagri (Empresa de pesquisa agropecuária do Estado de Santa Catarina), foi lançado recentemente um programa de incentivo ao plantio de grãos de inverno no Estado, objetivando reduzir sua enorme dependência do milho, a maior entre os Estados brasileiros e também, buscando aproveitar as terras agricultáveis que ficam ociosas no período de inverno.
O Rio Grande do Sul aderiu à mesma estratégia e está incentivando um Projeto denominado de Duas Safras (lançado em 2021), que visa incentivar o uso das áreas ociosas no inverno e ainda costurar acordos com as indústrias de suínos e aves para garantir contratos de compra futura dos cereais produzidos nos meses frios.
Por: Eng. Agrônomo Amélio Dall’Agnol, ao Folha de Londrina