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Micotoxinas e Micotoxicoses em Silagens e Insumos para alimentação de bovinos

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Micotoxinas e Micotoxicoses em Silagens e Insumos para alimentação de bovinos

 

Importância do Monitoramento de Micotoxinas e Micotoxicoses na Produção Animal

A OMS, através da FAO (2020) define junto ao CODEX Alimentarius as micotoxinas como metabólitos fúngicos, que tem a capacidade de provocar alterações patogênicas em animais e homem. Sendo as micotoxicoses as síndromes de etiologia tóxica, resultante da absorção das micotoxinas.
Estas podem ser produzidas em vários pontos durante a cadeia de produção de alimentos sendo:
antes e após a colheita
armazenamento
processamento
transporte
distribuição

Estudos demonstram que a ocorrência de micotoxinas é responsável por perdas de bilhões de dólares em todo o mundo, seja através de perdas diretas ou indiretas, resultante de prejuízos à saúde humana e animal, além de rejeição e condenação de produtos alimentícios.

A ocorrência de micotoxinas é sazonal e diferenciada geograficamente, o que dificulta o diagnóstico das micotoxicoses em animais de criação, principalmente sob a forma subaguda ou crônica. As condições que afetam a produção de toxinas pelo fungo incluem:
linhagem do fungo
susceptibilidade genética da planta hospedeira
conteúdo da mistura
composição da ração
temperatura ambiental
umidade relativa do ar e do substrato
além da população microbiológica presente, dentre vários outros fatores.

As aflatoxinas e fumonisinas são as toxinas de maior preocupação nas regiões tropicais e subtropicais, diferentemente do que ocorre na Europa e em outras partes do Hemisfério Norte, onde a contaminação com micotoxinas na pré-colheita por vários membros do gênero Fusarium, incluindo deoxinivalenol e zearalenona, são a maior preocupação.
A Figura 1, demonstra a importância e preocupação das ocorrências e notificações de matrizes alimentares com contaminação apenas de aflatoxinas em produtos tipo exportação enviados a comunidade europeia. Isso apenas reforça que os sistemas de monitoramento e gestão são as melhores formas de controle de micotoxinas.

Figura 1: Notificações por países de origem de matrizes alimentares contaminadas por aflatoxinas, encaminhadas para a Comunidade Europeia (UE), que entraram no sistema Rapid Alert System for Food and Feed (RASFF) entre 2009 a 2019 (European Parliament and of the Council, 2002; Ráduly et al., 2020).

 

Fontes Alimentares Diversificadas e Importância da Conservação de Alimentos para Bovinocultura

Para um rendimento satisfatório na criação de bovinos destinados a produção de carne e leite, implica na:
utilização de alimentos de boa qualidade
bons rendimentos nutricionais e econômicos
além claro de gestão e aplicação de técnicas de conservação de alimentos adequada.

Um dos principais problemas enfrentados pelos pecuaristas é o alto valor das rações e insumos industrializados. A fim de minimizar os custos, sem comprometer a produtividade do rebanho a utilização de conservação de forragens e grãos produzidos a campo diretamente na propriedade, além de utilização dos subprodutos agroindustriais vem se tornando uma prática constante nas propriedades.
A suplementação alimentar em épocas de seca é necessária para manutenção dos níveis nutricionais exigidos para manutenção dos níveis de produção. Alimentos ensilados, principalmente silagens de milho e sorgo (as mais utilizadas no cenário brasileiro), vêm sendo aplicadas com essa finalidade.
O cuidado com a alimentação animal deve-se estender não só ao valor nutricional, mas também a qualidade do alimento, porque além do milho, que participa com mais de 50% como ingrediente de ração e base para a ensilagem produzida no país, outros insumos como o sorgo, algodão e trigo também estão presentes.
Os ruminantes são reconhecidamente mais resistentes que os monogástricos no tocante às micotoxicoses. Porém o descontrole durante o processo de produção da silagem decorrente a uma alta micobiota contaminante do silo e potencial ocorrência de níveis de micotoxinas, pode ser um risco alto demais e certamente prejuízos irão advir.
A indústria mundial de alimentos, principalmente a de insumos destinados a animais, necessita reduzir os níveis de micotoxinas presentes em ingredientes ou alimentos terminados, bem como garantir alimentos com qualidade nutricional e custo reduzido.
São necessárias estratégias que busquem desenvolver práticas sustentáveis de conservação de alimentos, ademais de estratégias biológicas de monitoramento e descontaminação de micotoxinas.
Soluções que viabilizem não apenas a conservação das forragens, que pode ser adequadamente utilizado para alimentação animal, bem como proporcionar um aumento na qualidade do produto final obtido são necessárias.
A potencial ocorrência de micotoxinas causa perdas diretas e indiretas a bovinocultura, o impacto econômico global das micotoxinas na agropecuária é algo difícil de ser mensurado.

Nesse aspecto as análises de perdas econômicas geradas pela contaminação por micotoxinas têm sido feitas de forma individualizada por cadeia envolvida. O FDA (U.S. Food and Drug Administration), estima que as perdas anuais nos Estados Unidos nas safras de milho, soja e amendoim cheguem a US$932 milhões e outros US$500 milhões são investidos em pesquisas e no monitoramento desses metabólitos fúngicos, resultando em uma perda total de US$1,5 bilhão anualmente (Cast, 2003).
Em estudo realizado pelo grupo durante o monitoramento de amostras encaminhadas ao laboratório de análises, pode ser constatada a incidência de aflatoxinas durante a cadeia produtiva de leite. Ponto importante demonstrar a taxa de passagem da micotoxina do alimento consumido pelos bovinos, metabolizado e depositado no leite.
Estimava-se que cerca de 2% era a relação mais favorável dentro de estudos e avaliações com animais de aptidão na produção leiteira. Porém, estudos recentes colocaram em evidência que tal taxa está correlacionada com dois fatores: potencial produtivo do animal e estágio de lactação.
Os valores de 2,5 a 5,0% referem-se a vacas com produção média entre 15-25 kg/dia, podendo em estágio de lactação avançado chegar a 30 kg/dia. Com isso, a relação do risco toxicológico se torna cada vez mais evidente, reforçando planejamentos no processo de produção do alimento (Oliveira et al., 2020).
Na Tabela 1 os níveis detectados de Aflatoxina M1 (AFM1) estão dentro dos limites propostos pela legislação vigente no Brasil, porém os níveis de aflatoxinas totais na alimentação destes animais afetam significativamente os parâmetros produtivos a campo, além de afetar a manufatura deste leite ao longo da cadeia de produtos. Reforçando a importância do monitoramento e continuo controle da cadeia de produtos, isso não apenas irá reforçar o padrão de qualidade do produto, como certamente irão gerar ganhos diretos nos índices de produção.

Importância do Controle das Micotoxinas nas ensilagens destinadas a bovinocultura Brasileira

A bovinocultura brasileira é dos maiores rebanhos comerciais do mundo, dados do IBGE no último Censo Agropecuário. Os ganhos com a pecuária bovina, em países como o Brasil atingem aproximadamente R$ 5 bilhões de reais/ano (FAO, 2019). Dentre os efeitos patogênicos relevantes a serem destacados para bovinocultura, podemos utilizar este quadro (Quadro 1), adaptado de Alonso et al. (2013).

Os microrganismos presentes na silagem têm um importante papel no sucesso do processo de conservação. A microbiota basicamente pode ser dividida em microrganismos desejáveis e indesejáveis.
Aqueles que devem estar presentes são as bactérias ácido lácticas (Lactobacillus spp, Pediococcus spp, Enterococcus spp, entre outros) e os microrganismos indesejáveis são aqueles envolvidos na deterioração anaeróbia (Clostridium spp, Aspergillus spp., Penicillium spp., Fusarium spp., grupos das Enterobactérias, entre outros fungos filamentosos e leveduras) (Keller et al., 2013).
Reforçar esta microbiota desejável e favorável e principalmente inibir o desenvolvimento da microbiota deteriorante é o principal trabalho a ser realizado quando se pretende ter sucesso para produção de alimentos dentro da propriedade.

Entre esses fatores os mais destacados na bibliografia são: tipos de substratos,
temperatura e umidade.

São fatores que influenciam diretamente nos níveis de contaminação fúngica e produção de micotoxinas. Certamente controlar todos estes fatores é virtualmente impossível, porém o monitoramento será a melhor ferramenta para controlar não apenas a qualidade das forragens, como também mitigar o risco de micotoxicoses.




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