Práticas para otimizar a utilização do amido em silagem de milho e grão úmido

Vacas leiteiras de alta produção exigem dietas ricas em energia para atingir seu máximo potencial genético. Comumente, grãos de cereais são usados como fonte de energia nas fazendas de leite devido à alta concentração de amido. 

No grão de milho, por exemplo, a concentração de amido é em torno de 70% e representa 75% do valor energético. Porém, a digestibilidade ruminal e do trato total de amido variam drasticamente entre diferentes fontes de energia.

Uma maior disponibilidade do amido tem o potencial de melhorar utilização de nutrientes e diminuir os custos com alimentação.

Quando bem balanceadas, dietas com alta digestibilidade do amido podem aumentar a eficiência alimentar. Isto pode ocorrer devido a uma maior produção de leite, ou uma menor ingestão, mas mantendo a produtividade. 

Contudo, a digestibilidade do amido de silagem de milho planta inteira, silagem de grão úmido de milho e o milho moído seco podem ser afetados por diversos fatores.

Por exemplo, o endosperma (região do grão onde se concentra o amido) é protegido pelo pericarpo que, se intacto, cria uma resistência à atividade de microrganismos ruminais.

Isso exige o rompimento dos grãos, visto que os grãos quebrados aumentam a acessibilidade do amido para os microrganismos que irão realizar sua degradação no ambiente ruminal. 

Grão pouco processado ou intacto não sofre digestão ou esta pode ser muito prejudicada, podendo afetar negativamente o desempenho do animal, gerando perdas econômicas causadas pela perda dos grãos nas fezes.

Por exemplo, dietas contendo silagem de grão úmido de milho com tamanho médio de partícula abaixo de 2 mm tem maior digestibilidade do amido no trato total de vacas leiteiras em comparação com grão úmido de milho com com tamanho médio de partícula maior que 2 mm (Figura 1).

Figura 1. Efeito do tamanho médio de partícula de silagem de grão úmido de milho na digestibilidade do amido no trato total.

Da mesma forma, o aumento do tamanho médio de partícula reduz a digestibilidade do amido no trato total em estudos baseados em dietas com milho moído seco (77,7% a 93,3% para tamanho geométrico médio de 4 mm e 1 mm, respectivamente).

Isso é relacionado ao aumento da área de superfície para digestão bacteriana e enzimática de partículas mais finas.

Mas também existem outros fatores que afetam a digestão do amido, como os tipos de endosperma em grãos de milho, vítreo (duro) e farináceo (macio). A principal diferença está na característica física, afetando assim a utilização do amido pelo animal. 

Grãos mais vítreos possuem grânulos de amido menores e mais densos, além de serem encapsulados por uma matriz proteica mais densa que funciona como uma barreira na digestão do carboidrato.

Portanto, aconselha-se que produtores busquem híbridos com endosperma de textura macia, quando disponíveis, uma vez que pode apresentar uma disponibilidade maior de amido em comparação aos grãos de textura dura. 

Quando o milho atinge o ponto ideal para a colheita da silagem, os grãos representam entre 30% e 45% da matéria seca, podendo compor quase metade da massa colhida em algumas silagens. Inicialmente, os grãos são preenchidos por um líquido branco rico em glicose.

Com o tempo, essa glicose se transforma em amido, que se acumula no grão da coroa até a base, onde ele se fixa no sabugo.

A transição entre o líquido branco e o amido amarelado é conhecida como “linha do leite”. Essa transformação bioquímica aumenta a dureza do grão, reduzindo a digestibilidade do amido.

Assim, a colheita deve ocorrer quando entre 50% e 75% do grão estiver preenchido por amido, o que pode ser identificado visualmente pela linha do leite.

Embora grãos completamente cheios contenham mais amido e, teoricamente, possam fornecer mais energia, nem todo esse amido será aproveitado pelo animal devido ao avanço da maturidade das plantas, o que diminui sua disponibilidade. 

Outro fator importante é que uma quantidade maior de endosperma com textura mais dura está associada a plantas com maior maturidade, o que por sua vez pode causar grãos a se tornarem menos suscetíveis à quebra durante o seu processamento na colheita.

Apesar de uma maior digestibilidade do amido e produção de leite obtidas quando a silagem de milho é colhida usando um processador de grãos com espaço entre rolos entre 1 e 3 mm, esse benefício é reduzido quando colhendo silagens mais maduras.

Alguns anos atrás, nós observamos que o processamento de grãos resultou em um aumento na digestibilidade do amido no trato total de vacas leiteiras em dietas oferecidas contendo silagem de milho planta inteira entre 32% a 40% de matéria seca, mas não quando a silagem de milho planta inteira estava acima de 40% de matéria seca.

A maturidade também afeta a digestibilidade ruminal in vitro do amido na silagem de grão úmido. Sugerimos um teor de matéria seca entre 68 e 72%, mas esse valor pode alterar devido as condições de cada propriedade. 

Um maior tempo de fermentação pode reduzir – mas não remover – os efeitos negativos de um atraso na colheita.

Como é possível visualizar na Figura 2, aos 30 ou 45 dias de ensilagem, a digestibilidade do amido aumentou em média 7 unidades percentuais, sugerindo estar relacionada a fase de fermentação que normalmente ocorre durante este período.

Inclusive, todos os estudos apresentaram um aumento gradual na digestibilidade ruminal in vitro do amido após maior tempo de armazenamento.

Embora permitir um período de ensilagem prolongado possa ser benéfico para aumentar digestibilidade do amido em situações onde as plantas são colhidas mais secas, ou os grãos são mais duros, mais estudos são necessários para determinar seu real impacto, já que um período prolongado de fermentação possivelmente não vai compensar os erros de manejo cometidos antes da ensilagem.

Figura 2. Efeito dos dias de ensilagem na digestibilidade ruminal in vitro do amido.

figura-2-dias-ensilagem

Portanto, é recomendado a utilização de híbridos com endosperma mais farináceo se disponível, uma vez que os grãos apresentam uma disponibilidade maior do amido para sua digestão no rúmen e no trato total de vacas leiteiras.

Além disso, estar atento a maturidade da cultura para colheita é essencial, já que plantas com maior maturidade tendem a acumular uma maior proporção de lignina.

Inclusive, os grãos passam a ter uma acessibilidade menor por se tornarem resistentes ao rompimento, dificultando sua degradação no ambiente ruminal e no trato total.

Ainda na colheita, é importante realizar o ajuste dos rolos para que os grãos sejam quebrados, e dessa forma, a digestão seja facilitada e o valor energético seja potencialmente utilizado para afetar positivamente a produção de vacas leiteiras.

Apesar de nem sempre ser possível, permitir um período prolongado de fermentação pode ocasionar um aumento gradual da digestibilidade de amido, e possivelmente minimizar – mas não excluir – algum dos efeitos negativos de maturidade, vitreosidade de grão, entre outros fatores.

Referências sob consulta junto ao autor

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