1. No Brasil, os sistemas de produção de bovinos são baseados principalmente em pastagens por ser a fonte mais econômica. Como é realizado o planejamento forrageiro aqui na propriedade?
Para ler mais conteúdo de nutriNews Brasil 3 Trimestre 2022
1. No Brasil, os sistemas de produção de bovinos são baseados principalmente em pastagens por ser a fonte mais econômica. Como é realizado o planejamento forrageiro aqui na propriedade?
Na propriedade trabalhamos com sistemas rotacionados com módulos adubados e outros não. Os módulos que ainda não receberam adubação são bem manejados e, por isso é possível termos forragem verde e de qualidade. Além do Milheto Valente que compõe os pastos do sistema rotacionado, temos também áreas de pastagem com capim Marandu e capim Piatã.
As áreas compostas por milheto são manejadas na altura de 80 cm para entrada e 30 cm para a saída dos animais. Nessa gleba, temos 60 novilhas de 370 kg sendo manejadas. A ideia é fazer a recria na pastagem com o máximo de ganho de peso e terminá-las em confinamento.
A área de escape é a gleba onde os animais permanecem quando o rotacionado não é suficiente. No sistema rotacionado utilizamos como planta forrageira o Milheto Valente.
Logo após a saída do gado do piquete realizamos a adubação com uma fonte de nitrogênio. Há ainda uma parte do rotacionado que não foi adubada. A diferença entre esta e o pasto adubado é discrepante quando avaliamos a produtividade da forragem.
2. A área não adubada recebe a mesma quantidade de animais? Você observa diferença entre o pasto adubado e aquele que não foi fertilizado?
Sim, é notável a diferença. Na área de rotacionado adubado a capacidade de suporte de animais é maior, consigo manter mais bovinos na área por tempo superior quando comparado aos pastos não adubados. Na pastagem sem a adubação a capacidade de suporte é relativamente inferior.
Os animais alcançam a altura de saída mais rápido. Quando isso ocorre, manejamos o gado para a gleba que chamamos de “pulmão “ ou “área de escape” da fazenda.
3. Para formação das áreas de pasto, qual foi a adubação utilizada?
Para formação da pastagem fizemos a correção do solo conforme demandou a análise química. Foi utilizado sulfato de amônia e fosfato com adubo orgânico mineral. Em cobertura, entramos com fonte de nitrogênio, sulfato de amônia na dosagem de 180 kg por hectare.
Agora para o manejo dos piquetes no rotacionado a gente aduba após a saída do gado.
Para mantermos esta rotina, planejamos no início do ano a compra dos adubos. Observamos que deixar para adquirir próximo ao uso, os custos aumentam muito.
4. Qual a raça de bovinos foi escolhida para a produção a pasto? Na fazenda é feito o ciclo completo?
Na fazenda trabalhamos com animais da raça Angus. A utilização dessa raça no Brasil tem crescido consideravelmente devido a qualidade da carne e sua valorização no mercado. O custo de aquisição dos animais é maior, mas o valor pago quando vendemos o gado terminado, compensa o investimento feito. Por exemplo, as fêmeas Angus terminadas são comercializadas a preço de machos, o ganho é em média 10% a mais no valor da arroba. Esse bônus cobre o investimento feito durante a compra.
5. Os animais são suplementados?
Os animais são suplementados. A suplementação utilizada é feita na fazenda por formulação própria de uma consultoria que nos dá assistência. Atualmente, usamos sal mineral aditivado para os animais no rotacionado e, para o gado em terminação além da silagem fornecemos no cocho ração aditivada com levedura e bactéria. O consumo é estimado em 120 g por animal dia.
6. No período das águas os animais são suplementados?
Não, é só sal mineral aditivado com bactéria. Essa suplementação auxilia no ganho de peso do gado.
A bactéria age principalmente impedido a proliferação de microorganismos patogênicos presentes no intestino do animal. A melhora da saúde intestinal favorece a absorção de nutrientes e, consequentemente o desempenho do gado.
No caso do confinamento, por exemplo, fornecemos também levedura viva especifica para o rúmen a Levucell ®. Essa levedura melhora a digestão da fibra por favorecer a proliferação de fungos, de bactérias e de outros micro-organismos ruminais.
Além disso, a levedura auxilia no estresse térmico, porque reduz a produção de calor oriundo da dieta.
7. Em relação a produtividade, qual o ganho médio diário tem conseguido?
Em relação à fonte de renda da propriedade, no ano passado nós produzimos um pouco de feno da braquiária que já tínhamos e de capim natural (Marandu e Piatã) para vendermos. Este ano está sendo feito silagem para consumo próprio e para a venda.
E os animais estão sendo manejados no milheto e no sistema rotacionado tradicional composto por pastos de capim Piatã, Marandu e Humidícula. Essas pastagens já haviam na propriedade antes da nossa chegada.
No rotacionado de Milheto valente, o ganho de peso médio diário é em torno de 1400g a 1500g por dia. No verão, quando o gado é suplementado com o sal aditivado conseguimos em torno de 800g por dia e no inverno, em torno de 400g por animal dia. No inverno o suplemento é a base de sal mineral aditivado, não utilizamos proteinado.
Ao invés de ser um sal proteinado com farelos, a gente usa sal com ureia aditivado. Isso porque economicamente é mais viável, o custo é menor quando comparado ao proteinado. Além disso, temos conseguido boa eficiência alimentar.
8. Qual a previsão de abate dos animais?
A ideia é que os animais angus que chegam com idade em torno de sete a oito meses de idade na fazenda, sejam recriados a pasto e sejam terminados em confinamento. A previsão é que esses animais sejam terminados no cocho com 90 dias de confinamento. Assim, conseguiremos terminá-los precocemente.
9. Em relação aos custos com a alimentação, nos últimos meses assistimos à valoração de commodities como soja e milho. Como vocês têm convivido com essa alta no mercado de grãos?
Este é o nosso segundo ano nesta fazenda. Ainda não foram comercializados animais. Temos gado de recria e os lotes que serão terminados em confinamento. Tendo como base outras propriedades que temos, onde o sistema adotado é o mesmo, prevemos boa margem de lucro tanto dos animais em pastejo, como do gado que é confinado.
A alta no mercado do milho e da soja não afetou o nosso planejamento. Isso porque, a base da alimentação do gado é pastagem, quase não se utiliza ração. O uso de dietas a base de ração é destinado principalmente ao gado confinado.
A dieta dos animais angus que serão confinados será a base de casquinha de soja e gérmen de milho mais levedura e bactéria. A silagem será adicionada para complementar a dieta total.
10. Qual o planejamento para a propriedade nos próximos anos?
Para o futuro avaliamos a possibilidade de prestar serviço por meio do “boitel”. Nesse caso, receberíamos animais prontos para a terminação. Isso nos possibilita aumentar a receita da fazenda. Além disso, acredito que será possível comercializar volumoso.
Alguns produtores por falta de planejamento, principalmente, enfrentam durante a seca a falta de volumoso e, têm necessidade de adquirir alimento para suplementar o rebanho.
Esta é uma excelente oportunidade para o comercio de silagem. Acredito que nessa época de seca a silagem será bem valorizada. O ano passado nós tivemos silagem de milho a R$ 1.000,00 a tonelada. Este ano já está mais de mil reais.
11. A silagem de milheto você consegue comercializar a um preço mais acessível?
Conseguimos reduzir um pouco o preço, mas a silagem de milheto também é bem valorizada. Apesar do custo de produção ser menor, a composição nutricional é semelhante a silagem de milho, por isso recebe valor próximo. Desse modo, quem produz o silo de milheto consegue ter melhor margem de lucro quando comparado a produção de silagem de milho.
O milheto é mais rustico em comparação ao milho. No entanto, demanda a utilização de inoculante para a confecção da silagem. Utilizamos bactérias que favorecem a estabilização do pH e melhoram a fermentação.
Uma das maiores vantagens do milheto plantado para a silagem é a janela de colheita que é maior em relação ao milho, ao sorgo e a outros materiais. Este é um ponto positivo do milheto porque na época de colheita é comum ter área que chove bastante.
Problemas como quebra de maquinário, falta de funcionário, entre outros fatores, pode prejudicar a colheita. Com a janela de colheita maior, a qualidade da silagem não fica comprometida.
12. Qual a sua opinião em relação a aceitação do milheto pelos produtores?
Os produtores ainda precisam conhecer o manejo do milheto. Já ouviram falar que é bom, mas quase não fazem uso porque o milheto é uma planta anual, ou seja, acabou o ciclo você tem que plantar de novo.
A chegada de novos híbridos no mercado tem mudado um pouco a o conceito dos produtores a respeito do milheto. Isso porque, os novos cultivares possuem uma janela de colheita e/ou de plantio maior.
Um bom exemplo é o híbrido que utilizamos aqui na fazenda, o Valente. Esse cultivar tem suportado ser pastejado de 10 a 15 vezes.