Nos ruminantes, a maioria dos processos digestivos, especialmente a fermentação de carboidratos e degradação das proteínas da dieta, devem-se à microbiota ruminal: bactérias, protozoários, fungos e arqueas.
Esta microbiota simbiótica proporciona nutrientes ao hospedeiro, especialmente ácidos graxos voláteis (AGV), proteína microbiana e vitaminas, ainda que também ocorram perdas de energia devido à produção de metano.
Apesar da estabilidade ruminal por sua constância funcional e resiliência do ecossistema microbiano (Weimer et al, 2015), a microbiota ruminal apresenta grandes variações individuais (Jami y Mizrahi 2012) e pode ser alterada por mudanças dietéticas abruptas, ou importantes, por exemplo, de conteúdo no amido ou gordura.
Os suplementos lipídicos começaram a ser utilizados para aumentar os valores energéticos das dietas e cobrir as necessidades energéticas em vacas leiteiras, ou gado de corte em sistemas intensivos. Porém, também podem ser utilizados para modificar o perfil de ácidos graxos (AG) da carne (Wood et al., 2008) ou do leite, modulando suas propriedades dietéticas, organolépticas e tecnológicas.
A adição de gordura na dieta pode: Modular a função do rúmen, diminuindo as emissões de metano (Martin et al., 2016). Diminuir a ingestão e conteúdo de gordura no leite (Rabiee et al., 2012). Um limite para a suplementação das dietas de ruminantes com gorduras é seu efeito negativo sobre a degradabilidade ruminal, especialmente quando tem alto conteúdo de AGI (Brooks et al., 1954).
Neste trabalho vamos nos concentrar na influência da gordura sobre a microbiota ruminal. A maioria dos AG da dieta são ésteres de glicéridos: TRIACILGLICEROIS, principalmente, em concentrados GALACTOLIPÍDEOS e FOSFOLIPÍDEOS na forragem, exceto nas ensilagens nas quais as lipases vegetais liberam os ácidos graxos.
A biohidrogenação (BH) compreende vários passos, dependendo dos AGI, e várias rotas, dependendo da dieta e ambiente ruminal (Griinari et al., 1998).
Os fosfolipídeos e galactolipídeos podem ser hidrolizados por algumas cepas de Bacillus fibrisolvens (Hazlewood e Dawson 1979). Os tricilglicerois também são hidrolizados por diferentes espécies do grupo Butyrivibrio (Latham et al., 1972), porém a Anaereovibrio lipolyticus é a bactéria hidrolizadora de triglicéridos mais conhecida.
A lipase da Anaereovibrio lipolyticus foi estudada pela primeira vez por Henderson (1971) e seu genoma contém três genes que codificam lipases (Prove et al., 2013). As t...