Nutrição Animal

Insetos na alimentação de aves: o futuro que nunca deixou de existir

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Para ler mais conteúdo de nutriNews Brasil 4º Trimestre 2023

Leilane Rocha Barros Dourado

Médica Veterinária, Professora da Universidade Federal do Piauí
Leilane Rocha Barros Dourado

Luciana Barboza Silva

Entomóloga, Professora da Universidade Federal do Piauí
Luciana Barboza Silva

Stélio Bezerra Pinheiro de Lima

Doutor em Zootecnia, Professor Associado da Universidade Federal do Piauí
Stélio Bezerra Pinheiro de Lima
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As aves, animais onívoros, sempre ingeriram várias espécies de insetos para suprir parte das proteínas e gorduras demandas ao seu “adequado” desenvolvimento e isso também acontecia com galinhas da espécie Gallus Gallus domesticus enquanto eram, predominantemente, criadas soltas, até o início do século XX. Com a implementação das tecnologias produtivas, as “galinhas” começaram a ser criadas em galpões e, portanto, passaram a consumir apenas as rações processadas e disponibilizadas nos comedouros.

Na busca por rações cada vez mais equilibradas e capazes de nutrir animais cada vez mais exigentes, os nutricionistas passaram a considerar nas suas formulações de rações apenas alimentos produzidos ou coproduzidos pelo homem e que possuíam disponibilidade ao longo do ano e boa densidade nutricional.

Nesta edição o professor Stelio Bezerra juntamente com sua equipe, nos fornecem um panorama sobre o uso de insetos na alimentação animal!

No Brasil, a tradicional dobradinha milho e farelo de soja se consolidou e é referência comparativa para qualquer avaliação nutricional de eventuais alimentos que possam ser adicionados nas rações animais, sejam por aspectos nutricionais ou econômicos.

Nesse contexto, de se buscar eventuais substitutos para esses alimentos tradicionais, certamente o maior desafio é encontrar fontes viáveis para constituir a fração proteica da ração, mesmo que em associação ao farelo de soja. É claro que as farinhas de origem animal produzidas em frigoríficos e abatedouros são eficientes, mas possuem algumas limitações de uso, particularmente da opinião pública de países mais desenvolvidos que não enxergam com ‘bons olhos’ essa utilização.

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[cadastrar]Pesquisar e estabelecer tecnologias de produção para as variadas espécies de insetos alimentícios, com potencial nutritivo, nos parece ser um cenário com elevada perspectiva de sucesso, particularmente quanto as vantagens ambientais quando comparado com outras cadeias produtivas.

Nesse contexto, acreditamos também que a criação de insetos não ficará restrita à produção de farinhas para eventuais inclusões em rações animais, mas será capaz inclusive de gerar alimentos direto para os seres humanos, como concentrados proteicos e fontes de fibra (quitina).

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Nesse cenário, já existem legislações que regulamentam a utilização de insetos e farinhas na alimentação animal. Na Europa, em 2017, foi liberada a utilização de insetos para alimentação de animais aquáticos e em agosto de 2021 para aves e suínos.

insetos-tenebriosO Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA-Brasil) publicou ofício circular 33/2023, em julho de 2023, que orienta fiscais agropecuários e produtores/ fabricantes de insetos de como devem proceder para o registro dos seus estabelecimentos e algumas normas para o processo de criação, processamento e comercialização de seus respectivos produtos. Apesar de ser a primeira manifestação mais sólida sobre o assunto do órgão brasileiro, o ofício não possui peso jurídico de lei ou de decreto e, portanto, novas regras devem surgir rapidamente a medida que a cadeia cresce.

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Em paralelo ao debate de regulamentação, as pesquisas desenvolvidas em vários países do mundo apontam claramente à possibilidade da utilização das farinhas de insetos na alimentação dos animais não ruminantes, particularmente os de maiores expressividades produtivas, como aves, suínos e organismos aquáticos.

Sajid et. al. (2023) afirma que as farinhas de insetos apresentam grande potencial como fonte alternativa de proteína na nutrição de aves com diversas vantagens, incluindo seu valor nutricional e custo-benefício, mas que também existem desafios e limitações associadas ao seu uso, incluindo a necessidade de produção de insetos em larga escala, marcos regulatórios e aceitação do consumidor.

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Khalifah et. al. (2023) chama atenção ainda para as propriedades nutracêuticas das farinhas de insetos que apresentam efeitos positivos na produção avícola, além de serem ecologicamente corretos, com melhora no peso corporal de frangos de corte e produção de ovos em poedeiras. No entanto, enfatiza que mais pesquisas em histomorfologia, histoquímica, imuno-histoquímica e da biologia molecular é necessária para garantir que estas substâncias sejam eficazes e seguras para uso animal e humano.

A composição química das farinhas de insetos naturalmente apresenta elevadas variações, principalmente quando comparamos espécies diferentes. Shah et al. (2022) relata valores de proteína bruta (PB) que variaram de 33% na larva de mosca doméstica e 55% de PB para larvas de mosca soldado negro e Tenebrio molitor (TM). Os níveis de gordura variaram de 6,20% (mosca doméstica) até 25% para TM.

 

É importante salientarmos ainda que, mesmo dentro da mesma espécie de inseto, a depender da dieta e da idade de abate, os níveis de composição química mudam bastante, conforme pode ser averiguado na publicação de Gkinali et al. (2022), que os níveis de proteína bruta da larva de TM variaram de 45,70 à 65,60% e os níveis de gordura de 19 a 43%.

Lee et al. (2022) relata que a inclusão de farinhas de insetos na alimentação de aves pode resultar em melhores índices produtivos, além de boa digestibilidade e efeitos bioativos na saúde intestinal.

carne-ave-insetosCom elevados níveis de inclusão ou com inclusões inferiores a 1%, os trabalhos demonstraram melhorias na morfologia intestinal, aumento na microbiota benéfica e incremento na produção de ácidos graxos voláteis. Resultados de Józefiak et al. (2018) com inclusão de diferentes tipos de farinhas de insetos em níveis que variaram de 0,05 a 0,2% afetaram a microbiota intestinal. Vasilopoulos et al. (2023) observou que a inclusão de larvas desidratadas de TM em até 10% melhorou ganho de peso e rendimento de carcaça de frangos de corte fêmeas abatidas aos 35 dias de idade.

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Lavel et al. (2022) incluíram até 10% de farinhas do bicho da seda e da mosca do soldado negro e encontraram resultados significativamente melhores para peso vivo, ganho de peso e conversão alimentar em frangos de corte machos da linhagem Ross.

Em trabalhos do nosso grupo de pesquisa, ainda por serem publicados, determinamos os valores de 4300kcal/ kg de EMAn para a FTM e coeficientes de digestibilidade da PB de 79% em frangos de corte na fase inicial. Avaliando o desempenho de frangos de corte alimentados com até 10% de inclusão de FTM na fase de 1 a 7 dias e posteriormente alimentados com ração a base de milho e farelo no período de 8 a 42 dias, não foi observado nenhum efeito significativo sobre os parâmetros zootécnicos avaliados (peso vivo, consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar).

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dietas-aves-insetosEm outro experimento, utilizando os mesmos níveis de inclusão da FTM (2,5; 5,0; 7,5; e 10%) porém alimentando os frangos no período de 1 a 21 dias com as dietas experimentais e depois no período de 22 a 42 dias com rações sem a inclusão de FTM, não se observou diferenças estatísticas nos parâmetros produtivos avaliados. Em um terceiro experimento, fizemos a substituição do farelo de soja pela FTM em até 21%, resultando em níveis práticos de inclusão de FTM em até 6%, para frangos com até 33 dias de vida e não se observou efeitos estatísticos sobre parâmetros zootécnicos. Nossos trabalhos apontam claramente para resultados satisfatório de desempenho zootécnico quando frangos de corte foram alimentados com rações com FTM.

Portanto, é possível concluirmos que a inclusão de farinhas de insetos na alimentação de aves é nutricionalmente viável, mas ainda é preciso considerar que a disponibilidade dessa farinha é o maior entrave para os formuladores de rações aqui no Brasil, particularmente para as fábricas de grande porte. A curto prazo, precisaremos pensar em níveis de inclusão menores ou em rações para fases de produção com menor consumo de ração, pois consequentemente menor será a demanda desse produto. Acreditamos ainda que, a produção de insetos por pequenos agricultores será importante para melhorar a disponibilidade de proteína para criações de aves caipiras.

 

Referências bibliográficas sob consulta. [/cadastrar]

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