A compreensão da interação gene/nutriente é importante para o suporte nutricional de cães e gatos, pois nutrientes e compostos bioativos e fitoquímicos podem modificar o fenótipo do animal em função da modulação da expressão gênica.
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Nutracêuticos na dieta de cães e gatos
Nutrir adequadamente o cão e o gato é a base para uma vida saudável e longeva. Para atender essa premissa, os nutricionistas desenvolvem dietas a partir de dados de exigências nutricionais em aminoácidos, ácidos graxos, minerais e vitaminas, relacionados à necessidade energética nas diversas fases fisiológicas e recomendadas nas diferentes bases de dados das diretrizes nutricionais para cães e gatos, como: FEDIAF, NRC ou AAFCO.
Os nutrientes exigidos são encontrados nos ingredientes e sua disponibilidade está relacionada com a digestibilidade da matéria-prima, que pode ser influenciada por:
A compreensão da interação gene/nutriente é importante para o suporte nutricional de cães e gatos, pois nutrientes e compostos bioativos e fitoquímicos podem modificar o fenótipo do animal em função da modulação da expressão gênica.O conhecimento e aplicação dessa base nutricional é essencial. No entanto, com o mapeamento genético foi possível ter acesso a novas informações relacionadas à comunicação entre os compostos dos ingredientes e os genes, surgindo a genômica nutricional, que através da nutrigenômica avalia os efeitos dos nutrientes e componentes bioativos da dieta na expressão dos genes e, a partir da nutrigenética, são estudados os efeitos da variação genética do indivíduo na resposta à dieta.[cadastrar]
Compreender essas interações dos nutrientes de forma direta no gene ou através de relações epigenéticas permite selecionar quais componentes nutricionais são mais benéficos para a saúde do animal e com isso, transformar o modelo de desenvolvimento das dietas através do equilíbrio do indivíduo como um todo, reduzindo o risco de doenças.
Dentre as doenças, algumas serão mais beneficiadas com os estudos em nutrigenômica, como as crônicas degenerativas relacionadas ao estresse oxidativo, as inflamações crônicas e o desequilíbrio do sistema endocanabinóide e metabólico.
O padrão de vida dos cães e gatos na sociedade atual é completamente diferente de algumas poucas décadas atrás. Muitos realizam pouca ou nenhuma atividade física, ficam muitas horas sem ter o que fazer e em pequenos espaços, sofrem de ansiedade de separação e muitos tutores possuem extrema dificuldade em compreender que as necessidades comportamentais e nutricionais dos cães e gatos são diferentes dos seres humanos, tornando o ambiente em que eles vivem estressante.
Mudar a dieta por um perfil individual é promissor, mas também é necessária uma mudança no estilo de vida desses animais, pois o ambiente como um todo pode modular a expressão gênica.
O componente alimentação contribui com um grande percentual para modular a saúde do animal, fundamental quando se verifica que a expectativa de vida de cães e gatos dobrou nos últimos anos e a utilização de componentes dietéticos como alimentos funcionais e nutracêuticos podem contribuir com um envelhecimento saudável.
Alimentos funcionais são aqueles que devem apresentar compostos bioativos ou fitoquímicos, e propriedades benéficas além das nutricionais básicas, e os nutracêuticos são os compostos bioativos isolados e em uma forma concentrada, superior ao presente em alimentos.
Ambos podem gerar benefícios nas funções orgânicas do corpo do cão e do gato, reduzindo o risco de doenças e, no caso dos nutracêuticos, como adjuvante no tratamento.
Historicamente, o Japão foi o responsável na década de 80 pela introdução desses conceitos de funcionalidade dos alimentos e, em 1990, foram criados os alimentos denominados Foods for Specified Health Use (FOSHU) que tinham como objetivo promover saúde para a população (Anjo, 2004).
Compostos e ações dos nutracêuticos
Antioxidantes
Os radicais livres são produzidos no funcionamento normal do organismo nas diversas reações metabólicas e em resposta a agentes estressores químicos ou biológicos, através das ações de defesa.
As espécies reativas de oxigênio do radical livre são muito instáveis devido à forma ímpar de seus elétrons, que necessitam doar ou capturar novos para chegarem a seu equilíbrio, e nesta ação danificam as proteínas, DNA e células.
Estes precisam ser neutralizados para que não ocorra destruição ou perda da função celular e dos tecidos, e para isto sistemas antioxidantes estão em constante atuação. No entanto, em função do desafio e de sua constância, o sistema oxidante pode não ser suficiente e o estresse oxidativo é instalado e, como consequência, o envelhecimento precoce (Eirmann, 2017).
A suplementação de antioxidantes pode ser realizada com:
Importante ressaltar que muitos dos compostos citados podem desenvolver outras ações além das de antioxidantes, como efeitos protetores nos sistemas renal, cardiovascular e hepático, além de ações anti-inflamatórias e anticarcinogênicas (Dornas et. al., 2007).
Ácidos graxos poliinsaturados e ômega 3
São encontrados em peixes marinhos de água fria e considerados nutrientes essenciais (NRC, 2006). A partir do ácido graxo alfa-linolênico e ações de enzimas dessaturase e elongase são sintetizados os ácidos eicosapentaenoico (EPA) e docosaexaenoico (DHA).
No entanto, em cães essa ação é limitada e em gatos não ocorre, havendo a necessidade de suplementação dessas moléculas para que tenhamos as ações fisiológicas de sinalização das células, fluidez e integridade de membrana celular (Calder, 2008).
São diversas as ações da família ômega 3, dentre elas podemos citar:
Probióticos e prebióticos
São utilizados com objetivo de auxiliarem na modulação da microbiota intestinal, melhorando o perfil dos microrganismos desejáveis e controlando aqueles com potencial patogênico.
Os probióticos são os microrganismos vivos que quando suplementados contribuem para o reestabelecimento ou manutenção da eubiose da microbiota.
Os principais prebióticos utilizados na suplementação de cães e gatos são os frutoligossacarídeos, mananoligossacarídeos, β-glucanos e inulina.
Já os prebióticos são em sua maioria oligossacarídeos não digeríveis, mas fermentáveis pelos microrganismos desejáveis que melhoram o equilíbrio da população destes, em detrimento aos patogênicos e a produção de ácidos graxos de cadeia curta, sendo necessários para manutenção das células intestinais e servindo como substrato para o crescimento da microbiota saudável.
A microbiota do cão e do gato é específica de cada indivíduo. Sabe-se que os filos em cães são em maiores percentuais para Firmicutes, e em seguida para Proteobacteria, Fusobacteria, Bacteroidetes, e Actinobacteria, respectivamente. Entretanto, fatores como estilo de vida, dieta, genética e fase fisiológica podem afetar as características dessas populações.
A importância do equilíbrio da microbiota está associada à manutenção da saúde pois permite a manutenção da integridade da membrana intestinal, fundamental para seletividade e para o fortalecimento do sistema imunológico (Zapatera et. al., 2015).
Com relação à modulação do sistema imune com estímulo da imunidade celular e humoral, os β-glucanos se destacam, reduzindo a resposta inflamatória e com ações antibacteriana, antitumoral e antiviral (Vannucci & Vetvicka, 2019).
Considerações Finais
O uso de nutracêuticos em cães e gatos está em crescimento e alguns estudos demonstram benefícios à saúde quando associados a dietas bem formuladas, podendo ser utilizados como adjuvante de tratamentos ou para a prevenção de doenças.
Há, no entanto, pouca informação científica específica de espécies, tendo-se necessidade de mais esclarecimentos sobre dose e eficácia para cães e gatos.
Referências Bibliográficas
Anjo, D. L. C. Alimentos funcionais em angiologia e cirurgia vascular. Jornal Vascular Brasileiro. v. 3, n. 2, p. 145- 154, 2004.
Beyben, A.C. Carotenoides in petfood. Creature Companion, December: 40-41, 2019.
Calder, P. C. The relationship between the fatty acid composition of immune cells and their function. Prostaglandins Leukotrienes & Essential Fatty Acids, Edinburgh, v. 79, n. 3-5, p. 101-108, set./nov. 2008.
Calder, P. C. Long-chain fatty acids and inflammation, Proc. Nutr. Soc., v. 71 (2), p. 284-9, may. 2012.
Dornas WC, Oliveira TT, Rodrigues-das-Dores RG, Santos AF, Nagem TJ. Flavonóides: potencial terapêutico no estresse oxidativo. Rev Ciênc Farm Básica Apl 2007;28(3):241-249.
Eirmann, L. Antioxidants, Nutraceuticals, Probiotics, and Nutritional Supplemen In: Ettinger, S.J., Feldman, E.C., Côté, E. Textbook of Veterinary Internal Medicine. 8° edition, 2017
Vannucci, L E Vetvicka, V. Glucan and its role in immunonutrition. Nutrition and Immunity, 2019.
Zapatera, B. Prados, A., Gómez-Martínez, S. and Marcos, S. Immunonutrition: methodology and applications. Nutr Hosp. 2015;31(Supl. 3):145-154.[/cadastrar]