17 May

Nutrição na pecuária de corte com o zootecnista Phyllypi Melo

Vamos falar de nutrição na pecuária de corte? A  convite da nutriNews Brasil, o zootecnista Phyllypi Melo, formado pelo IFMG e atuante no mercado há mais de 10 anos, abordou diversos temas da área de nutrição de bovinos de corte, como substituição do milho nas dietas, creep fedding, programação fetal, custo da dieta e muito mais!

Nutrição na pecuária de corte com o zootecnista Phyllypi Melo

Vamos falar de nutrição na pecuária de corte?
A  convite da nutriNews Brasil o zootecnista Phyllypi Melo, abordou, durante uma Live, diversos temas da área de nutrição de bovinos de corte, como substituição do milho nas dietas, creep fedding, programação fetal, custo da dieta e muito mais!
O nosso convidado, Phyllypi Melo, é zootecnista de formação pelo Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) campus Bambuí, e tem mais de 10 anos de experiência na área, ele auxilia pecuaristas a tomarem decisões assertivas sobre nutrição animal e manejo de pastagem em suas propriedades, e com isso aumentarem seus lucros.
Veja a seguir os destaques da nossa Live!

Atualmente é economicamente viável fazer o confinamento utilizando milho?
O milho está numa situação muito complexa, acompanhando o gráfico do CEPEA que mostra a série histórica do milho desde 1994, podemos observar que o milho no final de 2020 rompeu uma barreira histórica que era de R$60,00/saca e hoje o valor está acima de R$90,00 no sul do Brasil.
Então, a tendência é que sejam utilizados, cada vez mais, substitutos do milho, por produtos energéticos, como por exemplo casquinha de soja, farelo de arroz, farelo de dendê e vários outros substitutos. O intuito é substituir o milho e baratear a dieta e a diária do pecuarista. Mas é preciso atentar para a regionalidade dos produtos e logística, existe uma variação da disponibilidade entre as regiões do Brasil.
Quando se faz uma análise financeira do negócio duas variáveis são muito importantes e distintas, são elas, o custo alimentar, custo da arroba produzida alimentar, que faz referência a quanto custa o kg no que diz os alimentos, silagem, farelo energético e proteico, núcleo e ureia, por exemplo. Então é relativo ao quanto custa produzir uma arroba com esses ingredientes; e tem também o custo da arroba total, que já inclui o custo do animal. Se considerarmos um ágio sobre o custo do animal (é importante considerar o ágio, pois, apensar do produtor ser proprietário do animal, quando ele for vendido terá que ser reposto, a não ser que seja pecuarista de ciclo completo, cria, recria e engorda) pois o produtor terá que ir ao mercado procurar um animal para reposição, seja bezerro ou garrote, assim, quanto mais jovem, maior o ágio, então quando considera o ágio o custo total de produção fica mais desafiador.

Uma das maneiras de se reduzir o custo é usar a silagem, e normalmente ela é feita de milho, com os altos preços do milho, a silagem de capim é uma boa alternativa?
A silagem de milho é uma fonte de forragem/fibra, é também uma fonte de energia, com NDT (nutrientes digestíveis totais de 60-65 em média) e que pode atingir 25-30% de amido, se for de boa qualidade. Porém, para bovinos de corte, em regime de confinamento ou sequestro, essa silagem de milho perde um pouco a relevância na sua inclusão na dieta, especialmente se tratando de dietas densas, com inclusão de 10 – 15% de forragem na matéria seca, ao contrario do bovino de leite, que chega a consumir 30 – 40kg de silagem.
Então as silagens feitas a base de gramíneas, como Mombaça, MG 12 Paredão, sorgo gigante boliviano, têm ganhado bastante notoriedade na nutrição dos bovinos de corte, principalmente por produzir grandes volumes a baixo custo. Atualmente a silagem de milho está em torno de 200 a 250 reais/tonelada a preço de custo, já para silagem de capim ou sorgo boliviano é possível produzir ao custo de 80 – 100 reais/tonelada, com um volume bem mais expressivo. Então a silagem de capim é uma boa alternativa, mas devem ser realizados ajustes na dieta, especialmente pela falta de energia.

Quais seriam os parâmetros que devem ser observados para produzir e utilizar uma silagem de boa qualidade?
Inicialmente é determinado o número de animais a serem tratados durante o período, partindo dessa premissa é determinada a área e a produção a ser atingida. A partir disso, fazemos uma analise bromatológica, para conhecer o teor de fibra, o FDN do material, se tem ou não presença de amido, a porcentagem de FDA, para saber quanto de proteína é solúvel para o animal. Também avaliamos alguns fatores de digestibilidade.
A campo temos outros parâmetros a serem observados, um dos principais fatores é a determinação da matéria seca (MS) no momento da colheita, o ideal é colher o milho com no mínimo 30% de MS para ocorrer uma fermentação anaeróbica correta.
Já em relação a silagem de capim ocorre uma maior variabilidade, pois podemos ter silagens de capim sendo colhidas com 22 e até mesmo 25% de MS, o capim pode também “passar do ponto” devido a um veranico e ser colhido com 28% – 30% de MS, por exemplo. É importante frisar que a MS é o principal índice a ser observado no momento da colheita quando se trata de material destinado para silagem.
A partir do momento que já se definiu o ponto de colheita, deve-se atentar para os critérios básicos de silagem, como cortar a silagem no tamanho correto para que ocorra boa compactação, ter zelo nos procedimentos de compactação e vedação.
Uma outra opção, é o uso do milho reidratado, em que se eleva a umidade do milho a 35 – 38%, fecha o milho no sistema anaeróbico e deixa o milho fermentando para que haja quebra da prolamina, que é uma membrana de proteína que envolve o amido. Deste modo ocorrerá uma maior quantidade de amido e sua maior digestibilidade para o ruminante, e assim tem-se um melhor aproveitamento.

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Quais são caminhos que você mais utiliza para baixar os custos da ração e manter a eficiência dos animais? Tem alguma substituição que você, como zootecnista, usa e vê bons resultados?
Novamente é importante pontuar a questão da região, qualquer substitutivo, seja do milho ou do farelo de soja, deve ser possível chegar na região que ele será utilizado. No norte do Brasil, por exemplo, é mais difícil de chegar caroço de algodão e torta de algodão, então somos dependentes das industrias processadoras regionais. A indústria que mói a soja tem o coproduto casquinha, a indústria que mói o milho pra destilaria tem o coproduto DDG (dried distiller grain, ou seja, grão seco de destilaria), por isso a variação regional dos coprodutos. Então se o pecuarista tiver a oportunidade de comprar subprodutos próximos da sua fazenda ele deve fazer isso e ajustar os demais ingredientes.
Especificamente com o milho com um custo tão alto vale a pena incluir os coprodutos possíveis. Inclusive, neste ano, o desafio está na compra dessas mercadorias. Então se o produtor tiver a oportunidade de comprar os coprodutos, sejam eles, caroço de algodão, torta de algodão, DDG, casquinha, dendê, dentre outros, ele deve comprar e incluir na dieta.
O desafio é baratear a ração sem perder desempenho, pois, normalmente os coprodutos tendem a apresentar a energia metabolizável um pouco inferior ao milho.

Qual a meta do ganho médio diário no manejo de sequestro? E quanto tempo os animais permanecem no sequestro?
A meta vai depender da inclusão de ração na dieta, é possível fazer um sequestro com 0,5% de peso vivo ou pode trabalhar com 1% do peso vivo. Em uma dieta de sequestro que utiliza silagem de capim ou de sorgo boliviano, trabalhar ganhos moderado de 400g – 500g/dia é bem satisfatório.
 
O que é servido para o animais em sequestro? Eles ficam em confinamento ou a pasto?
Tem duas opções, utilizar os mesmos currais de confinamento de boi gordo e fechar os animais em sequestro, porém, disponibilizando uma metragem quadrada um pouco maior, entorno de 20m² por animal, inclusive para evitar problema com barro no início das chuvas e não perder os ganhos durante o período do sequestro.
A outra opção é reservar um pasto na propriedade, fechar os animais, fazendo um lote um pouco maior, disponibilizando cocho suficiente, entre 40-50 cm por animal, e fornecer silagem e ração balanceada. Essa ração é fechada entre 14 e 15% de proteína e um NDT (Nutrientes Digestíveis Totais) baixo entorno de 65%.

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Qual a média de idade de abate no Brasil e qual é a média ideal?
Ao longo dos anos a média de idade de abate está reduzindo cada vez mais, porém existe uma regionalidade nessa média. Atualmente, não é mais novidade os animais irem para o abate com 20@ e 22-24 meses, 30 meses a pasto é padrão.
Se o tempo de aleitamento até a desmama é de 8 meses, a recria e engorda vai de 12 meses até 22 meses. Quanto mais rápido é atingido a meta de peso, dentro da programação, mais diluído será o custo fixo.  O objetivo é ter eficiência.
A meta do peso ideal é ter uma receita do animal gordo que seja responsável por duas a três vezes o preço do bezerro na desmama.

A silagem representa qual porcentagem no total da dieta?
Na dieta de sequestro a silagem chega a representar de 80 a 90% na matéria original, é bastante silagem, o animal vai consumir em torno de 2% até 2,5% do peso vivo, e podemos limitar o consumo, quando atingir 2,5% para controle de custo.
Assim, a oferta da silagem vai variar entre 15 e 18kg/cabeça/dia. É até interessante de observar que um bezerro ao desmame irá consumir mais silagem que um boi gordo, devido a proporção de silagem oferecida. Pois um animal jovem, na dieta de sequestro com aproximadamente 7@ consumirá 17-16kg de silagem/dia, já um boi gordo com aproximadamente 18@ irá consumir 9 a 10kg de silagem.

A frequência da suplementação dos animais afeta o ganho de peso médio?
No confinamento geralmente são realizados quatro tratos por dia, seja na terminação, seja no sequestro. É importante destacar que, quanto mais animais menos o pecuarista consegue alterar essa frequência. No momento da suplementação tem que ser observados diversos aspectos, como, o tamanho do vagão que levará o alimento, a quantidade de animais, os horários dos funcionários, se tem hora extra ou não, nesse ponto cada fazenda tem um manejo próprio, por exemplo. Mas idealmente, o foco são quatro tratos/dia.
Já para animais a pasto, a variação será de acordo com o tipo de suplementação, se for suplementação proteica de 1g/kg, o fornecimento geralmente ocorre 2 a 3x por semana; sal mineral 2 a 3x por semana. A partir do momento em que se adensa a dieta pasto:suplemento é necessário fornecer suplemento aos animais mais vezes. O ideal acima de 0,3 do peso vivo é fornecer suplementação aos animais diariamente e adequar os coxos ao número de animais.
Foi realizada uma pesquisa interessante em que foi avaliado o fornecimento de ração ou proteico:energético de segunda a segunda, ou seja, todos os dias da semana sem interrupção versus fornecimento de ração ou proteico:energético de segunda e sexta, excluindo-se o fornecimento aos finais de semana, sábado e domingo. Porém, o volume total fornecido aos animais foi o mesmo. Como resultado, não houve diferença no GMD (ganho médio diário) entre os tratamentos. Essa pesquisa é muito importante, pois no manejo da fazenda, as vezes, não se tem tantos funcionários disponíveis aos finais de semana, então de acordo com a necessidade da fazenda, pode-se distribuir ao longo da semana o que seria fornecido de suplementação ao final de semana.
O horário de arraçoamento ideal é por volta das 9h da manhã, pois é o momento que o animal já foi para o pasto, então desse modo não há interferência no consumo de matéria seca, pois os animais têm maior tendência de consumir pasto no período da manhã (e também a noite). Então se é fornecido a suplementação muito cedo o animal vai ao cocho consome a suplementação e pode reduzir o consumo de pasto. Além disso, acima de 0,6% do peso vivo de suplementação tem-se um efeito substitutivo, com queda do consumo de forragem a pasto. Então, o ideal deixar o animal pastar na parte da manhã e a partir das 9h é indicado o fornecimento da suplementação, assim terá uma potencialização do consumo da forragem.

Falando de animais mais jovens, ainda não desmamados, qual é o momento ideal para entrar com o creep feeding?
A partir de 60 a 90 dias de vida. O creep feeding é o tipo de suplementação com acesso restrito apenas aos animais que estão em aleitamento.
Desse modo, para os produtores que fazem estação de monta, os nascimentos ocorrem por volta de agosto para carimbo 8, carimbo 9 em setembro/outubro, de acordo com a estação de monta. Então para os animais que nascem em agosto o início do creep feeding seria a partir de novembro.
O manejo do creep feeding acelera o desenvolvimento do rúmen de maneira surpreendente, então a meta é fazer o animal consumir em torno de 80 a 90kg de ração no período de 150 dias. E propiciar o ganho de uma @ a mais.

Creep feeding e desmama precoce

A desmama precoce é tirar o animal do aleitamento a partir dos 60 dias de vida, o que é diferente do creep feeding, em que o animal permanece no aleitamento, porém tem acesso a ração em local exclusivo, a vaca fica do lado de fora.

A desmama precoce pode ser considerada bem agressiva do ponto de vista da natureza do animal.

Fazendo um bom trabalho durante o verão, e com as vacas parindo em agosto/setembro com um escore corporal adequado, entre 3 e 4, não é necessário fazer a desmama precoce. É importante acrescentar que financeiramente a desmama precoce não agrega tanto ao produtor, especialmente com os valores dos insumos praticados atualmente.

Quais são os pontos chave na nutrição das matrizes e programação fetal?
A programação fetal, que está sendo cada vez mais falada, é o refinamento da nutrição das matrizes e novilhas, é relativo ao fornecimento da matriz com escore corporal adequado no momento da parição, para que ela possa voltar a ciclar com no máximo 60-70 dias e que seja possível fechar o ano com uma nova prenhez.
Isso condiz também, com três benefícios, que são eles, focar na melhoria da produção da fibra do feto, sabemos que a miogênese 1 e 2 (formação das fibras do feto) acontece de 60 até 150 dias de gestação, então com o fornecimento de uma nutrição com proteína e energia adequada para a matriz, o pecuarista estará favorecendo a formação dessas fibras e consequentemente a formação dos adipócitos, que é correlacionado ao rendimento de carcaça do animal na fase adulta.
O segundo beneficio da nutrição adequada das matrizes, ao proporcionar as vacas um escore adequado no momento da gestação e 120 – 130 no pós parto, é que a matriz terá que se manter, propiciar o desenvolvimento do feto e depois produzir leite para o bezerro ao pé; é uma “mantença tripla”, uma matriz bem alimentada produzira mais leite e consequentemente zela melhor do seu bezerro ao pé.
A vantagem número três, seria que, ao invés de se trabalhar o creep feeding exclusivamente para o bezerro e fornecer um sal com ureia para a vacada, pode-se substituir o sal com ureia por um proteico de baixo consumo. Assim, será oferecido uma proteína verdadeira para a matriz, que produzirá mais leite e beneficiará o bezerro indiretamente.

O que é fornecido aos bezerros no creep feeding?
O manejo de creep feeding para ser eficiente deve ter o fornecimento de uma ração preferencialmente sem ureia e com aditivo adequado.
Um aditivo comum utilizado é a lasalocida, que promove o ganho de peso e auxilia no controle da coccidiose. Então um bezerro com 60 dias inicia consumindo 200g de ração e com 210 – 240 dias ele já estará consumindo 1% do peso vivo, chegando a ingerir 2kg.
Para saber o que suplementar e como suplementar é importante saber o objetivo do pecuarista, se o bezerro ficará na propriedade para recria e engorda ou se ele será comercializado. Caso o bezerro permaneça na propriedade, o produtor precisa de ter consciência que na desmama o trabalho com bezerro deve continuar, com a suplementação proteico:energética, do contrário ele vai gastar durante o aleitamento e posteriormente, caso o trabalho não seja continuado, o bezerro irá regredir. Porém, é necessário um trabalho de caixa, pois esse manejo é oneroso.
Porém, se o objetivo é a venda do bezerro por peso, quanto maior o peso do animal, maior o ganho do produtor, a partir do momento que a conta financeira fecha. Porém, o creep fedding é um dos melhores ganhos de peso da pecuária, o animal ganha peso proporcional a um bovino adulto a pasto. Geralmente, travamos o fornecimento de suplemento a 0,6 – 0,7 do peso vivo dos bezerros, pois se deixar os bezerros comerem suplementação a vontade facilmente eles alcançam 1% do peso vivo/dia.


Como considerações finais, o especialista frisou que a palavra de ordem agora é que cada vez mais o pecuarista se planejar e buscar alternativas para substituir a fonte de energia principal, que é o milho. O papel do zootecnista e do veterinário é cada vez mais orientar e auxiliar o pecuarista a ir atrás de novas alternativas de insumo, pois o nosso trabalho tem como objetivo o lucro do pecuarista.

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REVISTA NUTRINEWS BRASIL
ISSN 2965-3371

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