O Brasil soma recordes na produção animal brasileira
Para ler mais conteúdo de nutriNews Brasil 4º Trimestre 2024
O Brasil soma recordes na produção animal brasileira
Bons ventos sopraram a favor da avicultura do Brasil em 2024.
Após as tempestades de anos anteriores, que gradativamente se dissipou em 2023, o setor produtivo vivenciou em 2024 um período bastante positivo para a competitividade e o fortalecimento do fluxo produtivo.
Isso, por diversos fatores.
1. O primeiro e mais óbvio deles é o custo de produção. Após três anos de altas históricas – que testaram a sustentabilidade das agroindústrias e a resiliência de quem produz – os preços do milho e do farelo de soja reduziram a pressão sobre o balanço das empresas.
De preços médios superando R$ 100 em diversas praças durante 2021 e 2022, a saca de 60 quilos de milho reduziu quase à metade disso já em 2023, se estabelecendo neste patamar ao longo de 2024.
Algo parecido ocorreu com o farelo de soja, mas de forma ainda mais expressiva, com quedas comparativas nas médias entre 2023 e 2024.
2. Outro fator foi a consolidação do restabelecimento dos níveis de consumo. Em 2023, vimos o consumo de ovos decrescer. A carne de frango se manteve estável.
Era algo esperado: vivíamos a retomada após três anos de incertezas em meio à pandemia global. Estávamos precavidos e ainda sofríamos os efeitos daquele duro golpe ao nosso modo de vida.
Já em 2024, as inseguranças do ano anterior foram, gradativamente, deixadas para trás. O quadro econômico influenciou positivamente os níveis de consumo de proteínas. Houve mais recursos para investir em uma alimentação de melhor qualidade, com mais proteínas.
SUINOCULTURA BRASILEIRA
Houve uma forte ampliação no leque de oportunidades internacionais. Se internamente o consumo segue estável, nas vendas para os mais de 90 países importadores há uma importante reconfiguração de fluxo.
A China, antes principal destino das exportações, agora é superada pelas Filipinas, que deve encerrar este ano como principal importadora do produto.
O mercado filipino é um dos mais significativamente impactados pelo estabelecimento do sistema pré-listing, que estabelece um acordo de acreditação de sistema e estabelecimento que autoriza todas as empresas habilitadas pelo Sistema de Inspeção Federal a solicitarem o processo de credenciamento para exportar seus produtos.
Singapura e Chile também estabeleceram este modelo de acreditação, e tem registrado incrementos nas importações de carne suína do Brasil na casa de dois dígitos.
Frente a isto, as expectativas são de aumento acima de 7% nas exportações de carne suína em relação ao ano passado, superando a marca de 1,3 milhão de toneladas – mais um recorde para o setor.
Com isso, com a esperada estabilidade do consumo – em torno de 18 quilos per capita – a ABPA projeta para este ano uma produção em torno de 5,2 milhões de toneladas, 1% superior ao total do ano passado.
AVICULTURA BRASILEIRA
O consumo de ovos foi o mais notavelmente influenciado. Segundo as projeções estabelecidas pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), cada brasileiro deverá consumir até 263 unidades ao longo dos 12 meses deste ano, 21 unidades a mais em relação à 2023, quando o índice chegou a 242 unidades.
Como somos tradicionalmente consumidores de nossos produtos de ovos – o Brasil exporta menos de 0,5% do que produz – os maiores níveis de consumo influenciaram diretamente a produção do setor, para cima.
Conforme os dados da ABPA, o Brasil deverá encerrar o ano alcançando o marco de 56,900 bilhões de unidades de ovos produzidos nas granjas de norte a sul do país.
O número é recorde, e supera em 8,5% a produção registrada no ano anterior, com 52,448 bilhões de unidades. Serão mais de 1.800 ovos por segundo produzidos por nossas granjas
Este é um número ainda em fechamento pela ABPA, mas, conforme estas projeções, tanto os níveis de produção quanto o consumo de ovos no Brasil serão recordes históricos. Superamos significativamente a média mundial de consumo de ovos, em torno de 230 unidades.
No caso da carne de frango, o cenário tem alguns pontos adicionais de complexidade, já que quase um terço da produção tem como destino o mercado internacional.
Entre estes fatores de influência externa, o mais destacado ocorreu justamente dentro do território brasileiro.
O foco pontual de Doença de Newcastle, ocorrido em granja localizada no município de Anta Gorda, no Rio Grande do Sul, foi aquilo que denominei como um reforço na preparação para uma eventual ocorrência de Influenza Aviária – o que não ocorreu em nosso País graças à competência e a excelência em biosseguridade de nossa produção.
Imediatamente à situação, seguindo os acordos sanitários firmados (lembrando que cada certificado negociado pelo Brasil possui regras próprias em comum acordo com a nação importadora), o Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil determinou a suspensão de parte do fluxo dos embarques.
Entre os mercados suspensos estavam alguns dos maiores importadores da proteína animal do Brasil, como China, México e outros.
Nesse momento se tornou clara a importância de um Ministério da Agricultura atuante como o brasileiro.
Tão rápida quanto a tomada de medidas de precaução para proteger a produção e cumprir com os acordos foi a implantação das estratégias de negociação para o restabelecimento do fluxo de exportação.
Todo o reconhecimento deve ser dado aos Ministro Carlos Fávaro, seus secretários e equipes pelo trabalho exemplar de defesa do setor produtivo.
Em pouco tempo, as suspensões mais relevantes em âmbito nacional foram superadas, permanecendo ainda questões sobre o Rio Grande do Sul que só tinham solução viável após comunicação da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) da “finalização” do caso. |
A questão “Newcastle” foi relevante no comportamento dos embarques do ano, mas não foi isolada. Os impactos da Influenza Aviária mundo afora seguiram favorecendo as exportações brasileiras.
Reforçando sua estratégia de complementaridade às produções locais, o Brasil expandiu o fluxo de embarques em vários grandes mercados importadores. |
É o caso dos Emirados Árabes Unidos, Japão, Arábia Saudita e outros. Nosso principal destino, a China, que registrou queda no fluxo no primeiro semestre, retomou significativamente o fluxo nos meses seguintes. O mesmo ocorreu com África do Sul, México e União Europeia.
Com isso, temos mantido uma média superior a 430 mil toneladas exportadas mensalmente em 2024, registrando dois dos três melhores resultados mensais históricas do setor, em patamares acima das 480 mil toneladas.
Com isso, pelas projeções preliminares da ABPA, as exportações de carne de frango deverão superar 5,2 milhões de toneladas, volume 2,2% superior ao alcançado em 2023.
É um recorde histórico para o setor.
Neste contexto, um novo recorde está previsto para a carne de frango do Brasil. Com o cenário interno favorável ao consumo – mantendo estabilidade, em 45 quilos per capita – e as exportações em crescimento, a produção deverá superar neste ano, pela primeira vez, a marca de 15 milhões de toneladas – número 1,8% maior que o total do ano anterior.
O cenário positivo registrado neste ano para a avicultura do Brasil deve prosseguir no próximo ano. As projeções do setor apontam para crescimento em torno de 2% na produção e nas exportações de carne de frango para 2025, além de uma alta de 1% na produção e no consumo de ovos do Brasil.
Esses números, contudo, podem ser influenciados por um cenário internacional mais complexo, com custos logísticos impactados por gargalos em áreas de conflitos (como a região do Oriente Médio), além de uma eventual elevação dos custos de produção, com possíveis pressões sobre o preço dos grãos.
O quadro é complexo, mas há uma certeza: o Brasil seguirá avançando dentro de sua posição como liderança global. Seja para o consumidor brasileiro ou para as milhões de famílias de mais de 150 nações que consomem o nosso produto, continuaremos em nosso papel de protagonismo no auxílio à segurança alimentar.
Ricardo Santin | Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal | Presidente do Conselho Mundial da Avicultura | Vice-presidente da Associação Latinoamericana de Avicultura | Presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ovos Brasil