Desempenho de crescimento
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Altos níveis de óxido de zinco na ração alteram o metabolismo e dos minerais traços e podem ser prejudiciais à saúde dos leitões desmamados
O óxido de zinco é comumente utilizado como promotor de crescimento e alternativa ao uso de antibióticos para prevenir a ocorrência de diarreia no pós-desmame.
Apesar do NRC (2012) recomendar 80-100 mg/kg de zinco para leitões de 7-25 kg, a indústria suinícola ao redor do mundo usa níveis de até 3000 mg/kg de zinco durante as primeiras semanas pós-desmame (Dalto e Silva, 2020; Yang et al., 2021, Faccin, et al., 2023).
Esses nutrientes são essenciais na nutrição de suínos, mas o uso de níveis elevados tem sido questionado devido à problemas ambientais e de saúde pública (resistência antimicrobiana), o que levou países Europeus à restringirem o uso de doses supranutricionais de zinco na dieta de suínos desde 2022.
No entanto, ainda existe pouco conhecimento sobre as interações entre o metabolismo do zinco com o de outros minerais traços em diferentes órgãos, o que dificulta o desenvolvimento de novas estratégias nutricionais visando a substituição de altos níveis de óxido de zinco sem comprometer a saúde dos leitões. |
Por exemplo, altos níveis de zinco na ração podem induzir anemia e reduzir as concentrações teciduais de ferro (Fe) em outras espécies (Yanagisawa et al., 2009; Hachisuka et al., 2021). Embora os mecanismos que controlam essa interação entre zinco e ferro não sejam muito conhecidos, existem indícios de efeitos indiretos do zinco através de alterações no metabolismo do cobre (Jeng and Chen, 2022).
Um estudo recente do nosso laboratório (Galiot et al., 2018) mostrou que os níveis séricos e hepáticos de cobre diminuíram (20% e 76%, respectivamente) duas semanas após o desmame em leitões alimentados com 130 mg/kg de cobre. Foi hipotetizado que essa diminuição no status de cobre foi desencadeada pelos altos níveis de óxido de zinco na ração de pós-desmame.
Portanto, dois estudos foram realizados para compreender melhor as consequências biológicas do aumento dos níveis alimentares de óxido de zinco e de diferentes taxas entre zinco/cobre na ração sobre a regulação de minerais traço (Zn, Cu e Fe) em leitões desmamados. [cadastrar]
Os leitões foram abatidos nos dias 21, 23 (estudo 1), 28 (estudo 2), 35 e 42 para a coleta de soro sanguíneo e tecidos corporais. |
Desempenho de crescimento
O uso de níveis supranutricionais de óxido de zinco na dieta de pós-desmame é conhecido por promover o desempenho de crescimento, embora alguns estudos não tenham detectado efeitos benéficos (Espinosa et al., 2020ab).
Nos nossos dois estudos, altos níveis de óxido de zinco na dieta prejudicaram o crescimento.
As condições ambientais otimizadas (ambiente experimental) desses estudos podem ter interferido nos efeitos majoritariamente locais (lúmen intestinal) do óxido de zinco.
Sob essas condições, é possível que os efeitos negativos dos altos níveis de óxido de zinco no metabolismo tenham prevalecido sobre seus efeitos positivos observados em ambientes mais desafiadores (alta pressão patogênica).
Para o sulfato de cobre, que tem principalmente ações sistêmicas, é provável que a influência do ambiente experimental tenha sido menos perturbadora. |
Zinco
A absorção intestinal de zinco é inversamente proporcional ao seu consumo (Cousins, 1985; Krebs, 2000).
Nos dois estudos, embora altos níveis de óxido de zinco tenham diminuído a expressão de genes relacionados à absorção intestinal de zinco, não foi observada uma redução proporcional nas concentrações de zinco no jejuno, fígado e soro (Figura 1 e 2).
Figura 1. Concentrações de zinco (A) e cobre (B) no soro sanguíneo.
Figura 2. Concentrações de zinco na mucosa do jejuno (A) e no fígado (B).
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Apesar da ativação desses mecanismos, as concentrações séricas e hepáticas de zinco aumentaram significativamente.
No estudo 1, a diferença de 10 vezes nos níveis de óxido de zinco na ração entre LZn e MZn resultou em um aumento de aproximadamente 2 vezes nos níveis séricos, indicando modulação das concentrações de zinco.
Considerando os dois estudos, as concentrações de séricas de zinco variaram entre 4,1 e 4,6 mg/L no dia 42 em leitões suplementados com HZn.
Esses níveis séricos de zinco são sabidamente prejudiciais ao desempenho de suínos (Hahn e Baker, 1993), apoiando o menor desempenho de crescimento observado em nossos estudos.
No estudo 2, as concentrações hepáticas de zinco nos grupos LZn nos dias 28, 35 e 42 representaram, respectivamente, 71%, 58% e 66% dos valores pré-tratamento (dia 21), enquanto os valores séricos permaneceram constantes durante todo o período experimental.
Tais resultados sugerem que 100 mg de óxido de zinco/kg de ração durante as primeiras semanas após o desmame podem não satisfazer completamente as necessidades dos leitões. |
Cobre
Da mesma forma que o zinco, a absorção e a biodisponibilidade do cobre são inversamente proporcionais ao seu consumo (Jondreville et al., 2002; Dalto et al., 2019).
Figura 3. Concentrações de cobre na mucosa do jejuno (A) e no fígado (B).
Esse aumento foi acompanhado de níveis hepáticos e séricos de cobre mais baixos nos leitões do grupo HZn (Figura 1 e 3), sugerindo uma redução na liberação de cobre pelos enterócitos.
Esse impedimento do efluxo de cobre pelas células intestinais está relacionado à ativação de um mecanismo responsável pelo sequestro de minerais em diferentes órgãos.
Esse mecanismo é controlado por uma enzima (metalotioneína; MT) que responde aos níveis de zinco na dieta, mas que tem uma afinidade muito maior pelo cobre.
No estudo 1, essa enzima foi 357 vezes mais expressa no jejuno dos leitões do grupo HZn em comparação com os leitões do grupo LZn, três semanas após o desmame.
Considerando a rápida renovação do tecido intestinal (25% ao dia), essa retenção de cobre nas células intestinais pode funcionar como um mecanismo de excreção de cobre, pois age como um armazenamento temporário para esse mineral que é eventualmente perdido através da descamação do tecido intestinal.
Ferro
Curiosamente, no estudo 2, as concentrações hepáticas de cobre foram menores do que os valores pré-tratamento (dia 21) a partir do dia 28, não apenas para os grupos HZn, mas também para os grupos LCu (Figura 3), enquanto os valores séricos foram menores para todos os tratamentos. Isto indica que 6 mg de Cu/kg de dieta (LCu, estudo 2) não seria suficiente para satisfazer os requerimentos de cobre em leitões nas primeiras semanas de pós-desmame.
Altos níveis dietéticos de óxido de zinco também prejudicam o metabolismo do ferro por meio de mecanismos sistêmicos (hepcidina) e locais (intestino e fígado).
No entanto, esses efeitos não foram intensos o suficiente para impactar as concentrações de ferro no sangue total e no soro, bem como as concentrações de hemoglobina, que aumentaram ao longo do tempo nos dois estudos.
O baixo armazenamento de ferro no fígado pode ter sido exacerbado por uma maior liberação desse mineral pelos hepatócitos, também estimulado pelos altos níveis de zinco na dieta.
Portanto, altos níveis de óxido de zinco em dietas pós-desmame podem não causar deficiência de ferro nos leitões, mas irão dificultar o armazenamento hepático de ferro, que pode ser problemático em animais desmamados com baixas reservas de ferro como vem sendo observado nos últimos anos.
Conclusões
Esse último ponto é de extrema importância visto que diferenças no metabolismo do ferro observadas entre nossos dois estudos sugerem que fatores pré-desmame podem
ter um impacto significante no metabolismo desse mineral traço no pós-desmame, o que merece ser investigado mais a fundo.
Durante as primeiras semanas após o desmame, 100 mg de zinco/kg de ração parece não atender aos requerimentos de zinco dos leitões.
Por outro lado, os altos níveis de óxido de zinco na ração não são eficientemente regulados nos diferentes órgãos, resultando em concentrações séricas de zinco extremamente altas, o que provavelmente causou perda de desempenho nos leitões, além de perturbar o metabolismo do cobre e do ferro.
Em relação ao ferro, o menor conteúdo hepático não foi acompanhado de impactos nas concentrações sanguíneas, séricas e de hemoglobina, indicando que apesar de interferir no armazenamento de ferro no fígado, os altos níveis de óxido de zinco na ração de pós-desmame dificilmente irão causar anemia nos leitões.
Uma baixa taxa entre zinco/cobre na ração é desejável para não comprometer a saúde dos leitões desmamados.
As baixas concentrações hepáticas e séricas de cobre enfatizam o potencial risco de deficiência de cobre em leitões suplementados com altos níveis de óxido de zinco no pós-desmame. |
No entanto, independentemente desses efeitos importantes do zinco, a suplementação com 6 mg de cobre/kg de ração parece não atender às exigências nutricionais em cobre desses animais.
Referências bibliográficas sob consulta. [/cadastrar]