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PERIFITON: Complemento alimentar nutritivo e com potencial para aquicultura

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Cíntia Badaró Pedroso

Pesquisador Científico - Instituto de Pesca/APTA/SAA
Cíntia Badaró Pedroso

Fabiana Garcia

Pesquisadora científica - Instituto de Pesca/APTA/SAA
Fabiana Garcia

Wesley Theodoro

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Aquicultura e Pesca - APTA/SAA
Wesley Theodoro
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PERIFITON: Complemento alimentar nutritivo e com diferentes potenciais para a aquicultura

A aquicultura vem à décadas garantindo o seu espaço entre os meios de produção. Isso se dá, principalmente, à capacidade do setor de explorar os potenciais variados existentes em diferentes cultivos.

Sendo baseado em organismos que possuem o seu ciclo totalmente ou parcialmente dependentes do meio aquático, o cultivo aquícola se estabelece tanto na produção de alimentos e proteína animal quanto no promissor ramo de pets, do qual os peixes e outros organismos considerados ornamentais se destacam.

Esta multifacetada gama de possibilidades incentiva os grandes, médios e pequenos produtores a buscarem, continuamente, maximizar seu potencial de produção de forma economicamente viável e condizente com os preceitos de sustentabilidade com os quais o mundo busca se adaptar.

Neste cenário surgem possibilidades de inovação dentro de cada etapa produtiva e podemos afirmar que uma destas possibilidades a ser explorada é a produção baseada em incremento de alimento natural como complemento das rações comerciais.

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Estas tecnologias visam dois principais objetivos: a redução no custo de produção e a mitigação no lançamento de nutrientes via efluente, considerando que a produção de alimento natural no ambiente de cultivo favorece a ciclagem de nutrientes.

Dentre os principais alimentos naturais recentemente incluídos na aquicultura estão: os bioflocos, a lemna, o fitoplâncton e o perifiton. Nesta matéria, abordaremos a aquicultura baseada no perifiton. 

 

Mas afinal o que seria este perifiton?

Muitos de nós já tiveram a chance de observar uma camada, muito semelhante a um limo, crescendo sobre a superfície de objetos e materiais que se encontram submersos na coluna d’água.

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Esta camada é um conjunto complexo de micro-organismos adaptados a vida séssil que podem aderir a superfícies de substratos naturais ou artificiais, fazendo interações entre os diferentes elementos que compõem aquele meio. É a este conjunto que damos o nome de perifiton (Figura 1).

Figura 1 – Camada de perifiton aderida a tela de sombrite para alimentação complementar de alevinos de carpas e piauçus, experimento realizado na Piscicultura Custodio no município de Mogi das Cruzes, SP. Fonte: Instituto de Pesca de SP, 2024.

Estes microrganismos apresentam uma composição tão variada (Figura 2) que se tornam ricos em fontes nutricionais que, aliadas ao fitoplâncton e zooplâncton, podem servir como base alimentar para diferentes cadeias alimentares.

Este conhecimento aliado com o manejo correto pode ser ajustado e aproveitado em conjunto com as rações comerciais.

Figura 2 – Representação da sequência de colonização de uma comunidade perifítica. Organismos de água doce representados em “a,b,c,d,e,f,g”; B, Bactérias; EPS, substâncias poliméricas extracelulares; P, protozoário; TEP, Partícula de Exopolímero Transparente. Fonte: Adaptado de Wu, 2017.

 

Espécies de peixes indicadas 

perifitonA escolha das espécies de peixes que podem se beneficiar deste complemento alimentar é baseada em suas exigências nutricionais especificas e características anatômicas e fisiológicas. É necessário que o animal seja capaz de remover o perifiton da superfície dos substratos para ingerir e digerir seu conteúdo.

De maneira geral, peixes da Famílias Cichlidae e Cyprinidae, que compõem as tilápias e carpas possuem alta habilidade de se beneficiar do perifiton.

No Brasil temos espécies de peixes e crustáceos com hábitos alimentares que incluem o perifiton e estudos recentes tem buscado soluções práticas para desenvolver esta tecnologia de produção em nossas condições de cultivo.

Na Tabela 1 estão apresentadas informações referentes a projetos e estudos conduzidos no país nos últimos anos que buscaram entender a dinâmica entre o perifiton e diferentes espécies.

Tabela 1 – Principais estudos brasileiros de aquicultura baseada em perifiton.

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Notam-se benefícios relacionados ao perifiton que vão desde:

– A diminuição do tempo de cultivo;

– Melhora na conversão alimentar;

– Melhoria na viabilidade econômica

– Sustentabilidade da produção (Tabela 1). 

pesquisa-perifitonOutra observação é a presença marcante da tilápia na maioria dos experimentos conduzidos e isto é justificado por esta ser a principal espécie de peixe produzida no Brasil (Peixe BR, 2023).  

perifiton-peixesEmbora em menor proporção, os estudos com nossas espécies nativas abrem um vasto campo de possibilidades de exploração da produção de pescado com uso deste alimento natural.

A curimba e o jaraqui apresentam boas possibilidades (Tabela 1) e isto pode abrir espaço para outras espécies que possuem importância econômica nas diferentes regiões do país, como é o caso do piau-açu (Leporinus amazonicus), lambari tambiú (Astyanax bimaculatus), jundiá (Rhamdia quelen), cascudo abacaxi (Pterygoplichthys pardalis), entre outros.

 

Demais potenciais observados

Muitas pesquisas são direcionadas para o ganho de peso destes animais, pois um dos grandes desafios do setor aquícola é tornar a nutrição mais eficiente, já que apenas uma fração dos nutrientes fornecidos na dieta comercial é realmente aproveitada pelo organismo animal em seu ciclo de crescimento.

O restante da fração não aproveitada acarreta na perda de recursos para o meio de cultivo, bem como na eutrofização de corpos d’água.

Observando este fato alguns estudos ainda apresentam resultados que mostram a capacidade que o perifiton possui em ciclar de nutrientes no próprio ambiente de cultivo, reaproveitando importantes elementos nutricionais como um biofiltro do meio aquático.

Na Tabela 2 estão relacionados os estudos brasileiros que apontaram para os resultados das interações entre o conteúdo perifitico e a melhora na qualidade dos efluentes.

Estes benefícios somados permitem que exista a opção de utilizar esses elementos de baixo custo como fonte de energia complementar para cultivos intensivos com possibilidade de reduzir o fornecimento de ração comercial e melhorar a qualidade da água de cultivo e dos efluentes gerados, bem como reduzir presença de organismos patogênicos (Tabela 2). 

Tabela 2 – Principais resultados de estudos brasileiros entre perifiton e efluentes.

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No atual cenário global em que se buscam tecnologias mais eficientes na produção de alimento, é imprescindível olhar para temas ainda pouco explorados na aquicultura brasileira, como: escolha de espécies de baixo nível trófico, produção baseada em alimento natural e cultivos integrados.

Neste sentido, esperamos que este artigo possa despertar o interesse dos leitores por soluções inteligentes e visionárias e que seja uma centelha de inspiração para aqueles que vislumbram um futuro mais próspero.  

Referências bibliográficas sob consulta junto ao autor.

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