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O período de transição é a fase mais desafiadora do ciclo produtivo de uma vaca leiteira de alta produção. Esta fase compreende os momentos que antecedem o parto, denominado de pré-parto, com duração de 30 a 21 dias antes da data prevista do parto e os primeiros meses da lactação. Nesta fase é que o sucesso da nova lactação e a viabilidade do bezerro e principalmente das bezerras é definido.
Condições ambientais e de conforto térmico no período pré-parto influenciaram a composição do colostro em estudo conduzido por Nardone et al. (1997), com primíparas.

Vacas manejadas em condições de stress térmico no período final da gestação não só apresentam riscos à qualidade do colostro, mas apresentam comprometimento do desenvolvimento da placenta com consequente hipóxia fetal, má nutrição dos fetos e eventualmente um retardo no crescimento fetal (Tao e Dahl, 2013).

Monteiro et al. (2014) detectaram que independente da qualidade do colostro, o stress térmico das vacas nos últimos 46 dias antes da data prevista do parto afetou negativamente o peso ao nascimento, o peso ao desaleitamento e a transferência de IgG para os bezerros.

Além das condições de conforto térmico, o protocolo sanitário, a alimentação, as instalações e o manejo dos lotes de vacas no período seco e no pré-parto (3 a 4 semanas antes do parto) podem ser manipulados pelos produtores de forma a propiciar as vacas leiteiras um período de transição mais confortável.

Adequações das instalações como espaço de cocho, sombra, ventilação e aspersão; juntamente com agrupamento dos animais (primíparas separadas de multíparas) e limpeza da cama são medidas a serem consideradas para a redução do stress sócio ambiental, com reflexos no desempenho produtivo futuro da bezerra que vai nascer.

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Dahl et al. (2020) alertam que embora seja considerado com menor importância, o stress térmico altera profundamente a resposta imunológica de vacas e bezerras da fase pré-natal até a lactação.

 

Segundo estes autores, o stress térmico durante a fase intrauterina de vida das bezerras, reduz a transferência de imunidade passiva independente da fonte de colostro, quando comparado a animais gerados em condições termoneutras.

A associação do conforto sócio ambiental à nutrição da vaca na fase de pré-parto, é importante para o sucesso do desenvolvimento intrauterino das bezerras que irão nascer e serem as futuras vacas leiteiras da propriedade.

A atenção à nutrição da vacas no período pré-parto é importante, não só para propiciar boas condições de parto, mas principalmente para o estabelecimento de uma lactação saudável que garanta o máximo de produtividade dos animais. É nesse período que as vacas definem a produção total de leite de cada lactação. Muitas vezes a alimentação de vacas no pré-parto é colocada em segundo plano.

Vacas leiteiras de alta produção nesta fase precisam consumir nutrientes suficientes para manutenção do metabolismo basal, desenvolvimento fetal, desenvolvimento do tecido secretor na glândula mamária e secreção de colostro de boa qualidade (Abuelo et al. 2019).

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No entanto devido a elevada demanda nutricional e baixa capacidade de ingestão de matéria seca nesta fase do ciclo produtivo, a ingestão de muitos nutrientes nem sempre é adequada para atender a demanda metabólica (Abuelo, 2019).
O baixo consumo de matéria seca e consequentemente dos diversos nutrientes pode ser agravado quando os animais na fase pré-parto sofrem com stress térmico (Dahl et al. 2017).

Além dos ajustes nas condições ambientais e sociais, algumas intervenções nutricionais podem ser implementadas com o intuito de otimizar o conforto animal, o consumo de matéria seca, o consumo e absorção de nutrientes, e a digestibilidade da ração consumida.

O uso de aditivos que melhoram a digestibilidade de nutrientes fornecedores de energia e proteína para a vaca leiteira no pré-parto são uma alternativa.

Erasmus et al. (2005) observaram aumento na produção de ácido propiônico no rúmen de vacas leiteiras suplementadas com cultura de leveduras (CL) durante a fase de pré-parto e início da lactação.

A suplementação com CL para vacas da raça Jersey aumentou o consumo de matéria seca diário nos últimos 7 dias do período pré-parto (9,8 vs 7,7 kg) e nos primeiros 42 dias de lactação (13,7 vs 11,9), antecipando o pico de lactação em relação aos animais controle, com reflexos positivos na produção de leite (Dann et al. 2000).

Estes autores detectaram uma produção de leite 1,6 kg.dia-1 superior para as vacas Jersey suplementadas com CL nos primeiros 42 dias de lactação.
Em outro experimento com cultura de leveduras Nocek et al. (2011) relataram que a suplementação com CL de vacas Holandesas elevou a produção de leite em 1,7 kg de leite (40,9 vs 42,6 kg) nos primeiros 140 dias de lactação além de aumentar a produção diária de gordura (1,48 vs 1,55 kg) e proteína (1,17 vs 1,21 kg) por vaca.dia-1.

Além disso Nocek et al. (2011) relataram que ao adicionar parede celular de levedura (MOS – mananoligosacarídeos) a cultura de levedura, além do aumento na produção de leite e de sólidos no leite, foi observada redução na incidência de mastite clínica e redução na contagem de células somáticas no leite produzido.

A cultura de leveduras além de exercer uma ação positiva no metabolismo ruminal, também atua positivamente na regulação da temperatura corporal dos animais (Conte et al. 2018). Shwartz et al. (2009) observaram que a suplementação de vacas em lactação com cultura de leveduras reduziu a temperatura retal sob condições de stress térmico às 12:00 e 18:00.

No ciclo produtivo das vacas leiteiras os períodos pré-parto e neonatal são momentos de maior risco de desenvolvimento de stress oxidativo e alta susceptibilidade às doenças tanto para as vacas quanto para os bezerros, ficando a situação agravada pelo stress térmico (Abuelo, et al. 2019; Abuelo, 2019).

A causa do stress oxidativo nestes momentos do ciclo produtivo dos bovinos leiteiros é a alta produção de substâncias oxidantes ao mesmo tempo que a capacidade de geração de substâncias antioxidantes está comprometida (Sordillo e Aitken, 2009).
Animais submetidos ao stress oxidativo tem a capacidade funcional das células do sistema imunológico diminuída, aumentando a susceptibilidade dos animais a doenças (Abuelo, 2019).

Desta forma intervenções para conter o stress oxidativo, deveriam ser dirigidas em aumentar o “pool” de substâncias antioxidantes. O fornecimento de níveis mais elevados de nutrientes como as vitaminas lipossolúveis A e E, e os microelementos minerais cobre, ferro, manganês, selênio e zinco, os quais possuem comprovada ação antioxidante, se faz necessária na fase de transição das vacas e na fase inicial de vida das bezerras (Sordillo e Aitken, 2009, Abuelo, et al. 2019).


O uso de fontes de microelementos minerais que diminuem a interação com outros minerais e até com outros nutrientes, é uma garantia de que estes nutrientes minerais serão absorvidos com eficiência e direcionados aos tecidos alvo para serem utilizados nos sistemas enzimáticos antioxidantes do organismo animal.

O uso de minerais ligados a moléculas orgânicas, mais conhecidos como minerais orgânicos ou quelatos, impedem a interação dos elementos minerais com outros nutrientes e principalmente com outros elementos minerais presentes na dieta, direcionando os microelementos aos sítios de absorção específicos no intestino delgado, resultando em aumento na eficiência de absorção (Swecker Jr. 2014; Spears, 2014).

Rabiee et al. (2010) realizaram uma meta análise e observaram que a suplementação de vacas leiteiras em lactação aumentou a produção diária de leite em 0,93 kg.vaca-1, a concentração de sólidos no leite e o desempenho reprodutivo dos animais.
Dados publicados por Jacometo et al (2015), demonstraram que a suplementação de vacas leiteiras com microelementos minerais orgânicos no período pré-parto apresentou benefícios aos bezerros após o nascimento.

Roshanzamir et al. (2020) detectaram que o uso de glicinatos de cobre, manganês e zinco, elevaram as concentrações séricas de imunoglobulina A e imunoglobulina M no sangue das vacas no primeiro dia e aos 21 dias pós parto, e no sangue dos bezerros aos 3 dias de vida, quando comparado ao tratamento com sulfatos de cobre, manganês e zinco. Este resultado demonstra o efeito positivo do uso dos glicinatos sobre o sistema imunológico dos animais.

Os autores também observaram que o uso de glicinatos quando comparado ao tratamento controle (sem adição de cobre, manganês e zinco suplementares) aumentou a capacidade total antioxidante (CTO) no sangue das vacas e bezerros. A Tabela 01 apresenta um resumo dos resultados obtidos por Roshanzamir et al. (2020).


A importância de cuidados específicos com as vacas no periparto e no início da lactação – mais conhecido como transição – é indiscutível. Atualmente, estudos avançados e inovadores provam que já no final da gestação a nutrição e o conforto sócio ambiental das vacas é determinante da viabilidade da futura bezerra e da produção de leite em toda a lactação.

A demanda por sistemas de produção sustentáveis e seguros, direciona o mercado para o desenvolvimento de aditivos mais naturais em substituição aos antibióticos. Os pontos discutidos neste texto são assuntos atuais que merecem ser explorados por técnicos comprometidos com o bem-estar animal e a segurança alimentar.
A bibliografia estará disponível mediante solicitação

Por: Ricardo Pereira Manzano
Médico Veterinário
Consultor Técnico
Biochem Brasil Nutrição Animal

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