22 Mar 2021

Resíduos agrícolas na dieta reduzem consumo de água em bovinos

A utilização de resíduos da agricultura na alimentação do gado confinado reduz a pegada hídrica da pecuária bovina. A conclusão é de pesquisa realizada na Embrapa Pecuária Sudeste (SP), que avaliou como o uso desses coprodutos influencia o consumo de água na produção de carne.
Foram testadas duas dietas diferentes: convencional e com a substituição total por coprodutos. A pesquisa confirmou que a alimentação animal impacta no consumo de água.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Julio Palhares, a troca promoveu a redução do valor da pegada hídrica total. Enquanto na dieta convencional a pegada foi de 1.688 litros por quilo de carne, na alimentação com coprodutos, foi de 1.655 litros, uma redução de cerca de 2%.
Além de promover melhor eficiência hídrica, a utilização de alimentos alternativos manteve o desempenho dos animais.
Para a zootecnista Marcela Morelli, responsável pela pesquisa juntamente com Palhares, o manejo nutricional adequado é relevante já que a dieta representa entre 60% e 80% dos custos de produção na propriedade. No entanto, para substituir ingredientes convencionais por resíduos agrícolas deve-se observar a disponibilidade comercial, a qualidade nutricional, a proximidade e a oferta.
Conhecer a pegada hídrica da carne, segundo o pesquisador da Embrapa, possibilita a identificação de pontos críticos no uso da água na pecuária e a proposição de manejos para dar ao produto maior eficiência.

De resíduo agrícola a alimento do gado

A busca por estratégias para aumentar a produção de bovinos em confinamento, com viabilidade econômica, tem aumentado a participação de coprodutos na dieta animal. Estudos demonstram que o uso de resíduos agrícolas mantém o ganho de peso e as características da carcaça. Além disso, é importante reduzir a dependência por produtos que poderiam servir de alimento para humanos, já que os bovinos são capazes de transformar ingredientes que não são úteis à alimentação humana em produtos com elevado valor nutricional.
Muitos resíduos gerados pelas atividades agroindustriais podem ser utilizados na dieta animal. Porém, a viabilidade econômica vai depender da oferta e da proximidade dos polos produtores. “Os coprodutos são indicados para pecuaristas que possam adquiri-los, considerando o valor nutricional e a viabilidade econômica, além da disponibilidade na região, caso contrário poderá não ser vantajoso em termos produtivos e econômicos. Também são necessários estudos para avaliar a viabilidade ambiental do uso dos coprodutos”, explica Palhares.
A inclusão de coprodutos nas dietas brasileiras em confinamentos é significativa. Destacam-se como substitutos o caroço de algodão, polpa cítrica, e cascas de diversos produtos (soja, amendoim, etc.).

Experimento

A pesquisa foi realizada no Confinamento da Fazenda Canchim, sede da Embrapa Pecuária Sudeste. Foram utilizados 52 machos Nelore divididos em dois grupos.
As duas intervenções avaliadas foram: dieta convencional, composta por silagem de milho, concentrado de milho e farelo de soja, e dieta com coprodutos, à base de silagem de milho e concentrado de gérmen de milho gordo, polpa cítrica e casca de amendoim.
Durante o confinamento, a alimentação foi balanceada e ajustada para as exigências de ganho de peso dos animais de acordo com as fases de adaptação, crescimento e terminação.  
Para o cálculo da pegada hídrica, foi utilizado o método da Water Footprint Network durante um ciclo de confinamento de 100 dias. O cálculo considerou as águas azul, verde e cinza (veja quadro no fim do texto) consumidas no sistema de produção e no abate dos animais.

Valores

A soma das pegadas hídricas verde e azul do confinamento apresentou valor de 1.695 litros por quilo de carne para a dieta convencional e de 1.545 litros para a alternativa.
A pegada da água verde representou 99,5% do valor total das duas dietas. A formulação apenas com coprodutos resultou em um impacto positivo pela redução da pegada hídrica total. Em contrapartida, a pegada hídrica azul foi 28,5% maior que a convencional.
Ao se adicionar o valor de pegada hídrica do processo de abate, as pegadas totalizam 1.802 litros por quilo de carne para a dieta convencional e 1.769 litros para a de coprodutos, representando um adicional de 6% nas duas pegadas. Os valores do abatedouro não diferiram entre as dietas, já que o processo de abate para os dois grupos foi igual. Ao somar a pegada hídrica do abatedouro, os valores de água verde passaram a representar em torno de 92% para as dietas.

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Menos 33 litros por quilo de carne

A pegada hídrica azul do grupo convencional foi de sete litros por quilo de carne e do grupo com dieta de coprodutos, de nove litros. Assim, para se produzir um quilograma de produto, os animais alimentados com ingredientes alternativos consumiram dois litros por quilo de carne a mais do que os alimentados com produtos convencionais.

Pegada hídrica

A pegada hídrica é composta por componentes diretos (água ingerida pelo gado) e indiretos (água utilizada na produção de grãos).
A água verde representa a água consumida na produção das culturas vegetais e a contida nesses produtos.
A água azul é aquela extraída de fontes superficiais e subterrâneas e utilizada na irrigação das culturas, consumo direto dos animais, serviços na fazenda e no abate de animais e processamento dos produtos.
A água cinza é o volume necessário para assimilar a carga de poluentes com base nas concentrações naturais e nos padrões legais.

O consumo médio do grupo com dieta convencional foi de 19 litros por cabeça ao dia e da dieta com coprodutos, de 23 litros. “O consumo de água azul foi maior na dieta alternativa, pois os animais ingeriram maior quantidade de matéria seca, com menor teor de umidade, determinando maior consumo de água via bebedouro”, explica Palhares.
Segundo Marcela, a maior parte dos estudos relacionada ao uso de coprodutos na alimentação de bovinos avalia a substituição parcial de algum ingrediente convencional. A dieta de coprodutos promoveu uma redução no valor da pegada hídrica total 33 litros por quilo de carne em comparação a convencional.
“Os resultados demonstram que é possível formular dietas com coprodutos em substituição total aos ingredientes convencionais e ter impactos positivos na melhoria da eficiência hídrica da carne e ainda manter os níveis de desempenho animal. Outro ponto positivo é o fato de se converter um coproduto em um produto nobre, a carne bovina”, destaca ela.

Embrapa Pecuária Sudeste

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