Emerson Alexandrino
Prof. Associado IV
Universidade Federal do Tocantins
Para ler mais conteúdo de nutriNews Brasil 3 Trimestre 2020
O Brasil ocupa lugar de destaque na exploração mundial de bovinos de corte, com um efetivo aproximado de 214 milhões de cabeças (ABIEC, 2019), o que corresponde a 60% do rebanho sul-americano e 15% do rebanho mundial (IBGE, 2006), garantindo a posição de maior rebanho comercial, segundo maior produtor e maior exportador de carne bovina do mundo.
Apesar dos números e dos avanços encontrados, os indicadores produtivos brasileiros estão aquém do seu potencial, e portanto, o destaque apresentado da cadeia bovina de corte é, em grande parte, sustentado pela abundância dos recursos naturais disponíveis no vasto território nacional.
A produtividade é o resultado do produto entre a taxa de lotação (TL) e o ganho de peso (GP) dos animais, e na média nacional, a baixa TL de 1,2 cabeças/hectare combinada com o baixo GP dos animais em pastejo de 120 kg/cabeça/ano, resulta em baixa produtividade (144 kg/ha/ano = 4,8@/ha/ano, rendimento de carcaça de 50%) (Figura 1), que dificulta a vida do pecuarista, pois a receita gerada anualmente dificilmente supera dos custos de produção.
Dessa forma, ao pecuarista só resta incrementar a produtividade, e portanto, melhorar o GP, a TL ou ambos.
Nesse contexto, o GP tem papel fundamental, pois além da produtividade, ele impacta direta e negativamente no ciclo produtivo dos animais, e consequentemente, sem alterar a quantidade de animais na fazenda, ele permite ao longo do tempo maior % de vendas, garantindo maior giro do capital, reduzindo os custos fixos do sistema. No início do processo de intensificação o GP se torna o foco principal, e atualmente as metas apontam que animais em pastejo devem apresentar um GP superior a 0,450 kg/cabeça/dia ao longo do ano.
O baixo GP é o resultado combinado de vários fatores, e entre eles destacam-se:
Destaca-se que a bovinocultura de corte brasileira explora muito pouco o seu potencial em regiões tropicais, e que a produtividade obtida acaba sendo pelo menos 12,5 vezes menor do que poderia ser observado em um modelo mais intensificado, com a adoção de técnicas validadas pelo menos 30 a 40 anos atrás pela pesquisa brasileira (Figura 1).
O baixo potencial explorado pela bovinocultura de corte faz com que qualquer intervenção, mesmo que somente baseada em processos, sem a adoção de insumos, permite a ocorrência de melhorias consideráveis. Por exemplo,
garantindo água de qualidade
bom suplemento mineral
e massa de forragem ao longo do ano para os bovinos em pastejo
O denominado sistema “Fome zero” (será abordado à frente), por exemplo, em pastagens de capim Marandu, com altura variando de 20 (fim de seca) a 45 cm (pico das águas), com o mínimo e máximo para as respectivas estações, permite-se ao bovino um adicional diário ao GP da ordem de 130g/cabeça/dia, correspondendo um aumento de 47,45 kg por animal ao ano em relação à média nacional (144 + 47,45 = 194,45 kg de GP), e na planta forrageira, esse pequeno ajuste no manejo do pastejo garante ainda melhoria no vigor de crescimento da forrageira.
Evidencia-se a importância do uso correto das pastagens, e nesse contexto, existe pelo menos três diferentes formas de exploração
(Figura 2), sendo:
Nos sistemas tradicionais (ST-SupP ou SubP), conforme mencionado, explora-se baixa produtividade, resultado da baixa TL e GP, e por processos distintos, esses sistemas:
O sistema SFZ determina os limites máximos e mínimos de altura das plantas forrageiras ao longo do ano, respectivamente, para inibir o alongamento das hastes e ou comprometer o vigor da planta, e conforme já mencionado anteriormente no texto promove melhorias significativas quando executado respeitando o trinômio agua + suplemento + pasto (altura máxima e mínima).
Já o SAF apresenta metas de pastejo especificas para cada forrageira, utilizando o pastejo do animal para incrementar o crescimento da planta forrageira, e são mais apropriados as pastagens com metas de alta produtividade, principalmente em áreas que se utiliza adubação ou de alta fertilidade.
Destaca-se que ambos os SI o manejo do pastejo explora a capacidade de suporte das pastagens, onde a taxa de lotação ideal permite o equilíbrio entre ganho por animal e por área (Figura 2).
O manejo da pastagem tende a impactar tanto a forrageira da pastagem em termos de taxa de acumulo de forragem e valor nutritivo do pasto, assim como o comportamento ingestivo dos animais em pastejo, e consequente, no GP dos animais.
Abordando inicialmente a resposta da forrageira ao pastejo, faz-se necessário entender a curva de crescimento do capim tropical (Figura 3), pois via manejo da desfolhação é possível modelar a estrutura do pasto e prolongar o período vegetativo do capim tropical, e com isso, melhorar a eficiência de todos os processos envolvidos na conversão dos recursos naturais em ganho de peso de bovinos por área. A linha contínua da Figura 3 traz a evolução da massa de forragem da pastagem em função da idade ou altura do pasto.
No eixo horizontal da Figura 3 destaca-se a altura de manejo, e verifica-se os três sistemas de manejo (ST-SubP, SI e ST-SupP), caracterizado no eixo pela baixa, média ou alta altura do capim, resultado direto do sub, ideal e super-pastejo.
Na linha contínua verifica-se que a massa de forragem muda drasticamente em função do manejo, partindo de 2.000 até o teto de 7.500 kgMS/há, e essa massa representa a quantidade de capim estocada na pastagem, e não a
produção de forragem, ela determina a quantidade de forragem que será ofertada para animal em pastejo. Já a linha tracejada, representa a taxa de acúmulo de forragem, que determina a intensidade de crescimento diário do capim, ou seja, é a produção diária de capim em um hectare, e é exatamente essa curva que determina o padrão massa de forragem apresentado pela linha contínua.
Verifica-se que dependendo do sistema utilizado, a produção diária de forragem pode alcançar, no exemplo da Figura 3 o teto no sistema ideal, com valor de 121 kgMS/há/dia, ou alcançar somente 35,5% ou 52,9%, se o manejo do pastejo for respectivamente, o super ou sub-pastejo, ao invés do pastejo ideal que explora a capacidade de suporte da pastagem, e apesar da grande variação apresentada, ela ocorre somente em função da tomada de decisão de como a forrageira da pastagem será utilizada.
Os sistemas de uso das pastagens também apresentam grande impacto no GP dos animais, pois forrageiras manejadas em diferentes portes mudam a composição morfológica da parte área da forrageira, como os componentes lamina foliar, hastes e material morto, e essa alteração além de afetar a composição bromatológica da forrageira, interfere ainda mais intensamente no comportamento ingestivo dos animais em pastejo, e consequentemente, no consumo dos animais, e em última análise no GP dos animais (Figura 4). Nesse sentido, sistemas de manejos diferenciados explorando capins tropicais é possível visualizar valores de GP diário por animal variando de 0,300 a 0,600 kg/dia (Figura 3), sendo esse intervalo de variação considerando somente o trinômio massa de forragem + água qualidade + mineral.
Assim, enquanto o sistema ST propõe-se a estimativa da produtividade de bovinos em pastejo sem os devidos ajuste de carga animal e é de GP diário em torno de 330g/dia ao ano, sendo aproximadamente 210 dias das águas com GMD de 0,65kg/dia, e os 155 dias de seca, com perdas de aproximadamente 0,10kg/dia, para os sistemas SFZ e SAF, explorando os mesmos períodos de águas e seca, sugere-se GP diário, respectivamente, de 0,493 e 0,603 kg/cabeça/dia (Figura 4).
Os valores apresentados em % na Figura 4, representam a melhoria discutida anteriormente para cada sistema de uso da forrageira em termos de melhoria da capacidade de suporte em relação à média nacional. Ainda na Figura 4 temos o efeito da suplementação e da adubação das pastagens, entretanto para o contexto de GP dos animais, maiores resultados são obtidos principalmente com a suplementação dos pastos para os animais em pastejo, e essa ferramenta é estratégica para viabilizar as metas de GP dos animais em pastejo, e por isso, devem ser utilizadas de forma estratégica, e a adubação tem como foco principal o incremento na capacidade de suporte das pastagens.
Figura 4
Valores estimados da incorporação do processo de intensificação da produção de bovinos de corte em pastagem com foco em recria e terminação
Figura 5
Relação entre manejo do pastejo e suplementação para alcançar a meta de GP
Voltando ao contexto de viabilidade dos sistemas de produção de bovinos de corte, chega-se à conclusão de que a suplementação dos pastos surge como ferramenta estratégica para viabilizar as metas de GP.
Assim, a forma que as pastagens estão sendo geridas devem estar intimamente ligadas a suplementação para viabilizar a meta de 6 a 7@/cabeça/ano (Figura 5). Então, sistemas ST que têm como características baixa taxa de acúmulo de forragem e de GP demandarão suplementos proteicos e energéticos de maior consumo, enquanto que SI-SAF poderão alcançar o GP demandado somente com suplemento mineral (Figura 5). Entretanto, é importante destacar ainda, que os sistemas SI também são beneficiados com a suplementação, apesar que em menor proporção que os ST, mas certamente para GP acima da meta de 7 @/cabeça/ano, somente pode ser alcançado com a suplemento proteico energético de 3g/kg PV no SAF, podendo alcançar um adicional de 1 a 2,5 @/cabeça/ ano.
A mensagem final é de que nesse processo de melhoria da produtividade da bovinocultura de corte brasileira, o manejo do pastejo torna-se primordial, sendo a suplementação um facilitador para o atendimento das metas produtivas. Deve estar claro que a associação entre gestão de pastagem e demanda de suplemento é de ordem inversa para uma dada meta de GP (Figura 5).
Assim, quanto melhor for a gestão de pastagem, menor a demanda por suplementação para metas de 6 a 7 @ cabeça/ano, mas metas superiores somente serão alcançadas com ambas tecnologias bem trabalhadas simultaneamente.
Emerson Alexandrino
Prof. Associado IV
Universidade Federal do Tocantins