“Trata-se de uma retaliação geopolítica, e não de uma medida baseada em fundamentos comerciais”, é o que afirma relatório divulgado nesta quinta-feira (10/07) pela Cogo Inteligência em Agronegócio, após o anúncio, pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto.
Além das tarifas, a decisão inclui a abertura de uma investigação formal contra o Brasil com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 — instrumento legal que autoriza o governo americano a impor sanções unilaterais quando identifica práticas comerciais consideradas “injustificáveis” ou que causem prejuízos à economia dos Estados Unidos.
Segundo o relatório da Cogo, o Brasil registra déficits comerciais com os EUA há 17 anos — o que contraria o argumento de desequilíbrio comercial alegado nas cartas divulgadas pela Casa Branca.
A consultoria destaca que a medida foi impulsionada por um conjunto de tensões diplomáticas recentes, incluindo críticas de Donald Trump à atuação da Justiça brasileira contra Jair Bolsonaro, que ele considera alvo de perseguição. O relatório também menciona as declarações do presidente Lula durante a cúpula do Brics no Rio de Janeiro, em defesa do uso de moedas locais no comércio internacional — embora o fato não tenha sido citado nos documentos oficiais assinados por Trump.
Para a consultoria, esses fatores teriam acirrado os ânimos com Washington e contribuído para a adoção das novas tarifas. De acordo com o relatório, os setores mais prejudicados do agronegócio brasileiro serão os de produtos florestais (como celulose, madeira e móveis), carne bovina, café, açúcar, etanol e suco de laranja — produtos que representam parcela significativa da pauta agroexportadora brasileira com os Estados Unidos.
No caso da carne bovina, o impacto é duplo. Além da tarifa já existente de 26,4% sobre volumes exportados fora da cota anual de 65 mil toneladas — que costuma ser rapidamente preenchida —, a nova alíquota adicional pode inviabilizar as vendas ao segundo maior mercado da proteína. A Abiec classificou a medida como um entrave ao comércio internacional e alertou para os riscos à segurança alimentar.
O relatório também projeta prejuízos expressivos à cadeia do suco de laranja, que pode ter seu custo de exportação elevado para até US$ 2.260 por tonelada — comprometendo a competitividade do Brasil, maior fornecedor mundial da bebida e principal supridor da indústria americana.
Impacto potencial nas cadeias de nutrição animal
Embora o setor de nutrição animal não esteja entre os alvos diretos do tarifaço de Trump, a Cogo sugere que os efeitos da medida podem se alastrar por toda a cadeia do agro brasileiro.
Caso as exportações de carne bovina, açúcar, etanol e outros produtos sejam desestimuladas pelo custo adicional, é possível que haja uma reorganização da oferta e da demanda no mercado interno — com potenciais reflexos sobre o consumo de insumos, formulações e aditivos destinados à alimentação animal.
Além disso, uma eventual sobreoferta de proteína animal no mercado doméstico pode pressionar margens, frear investimentos e gerar ajustes logísticos em diversos elos das cadeias produtivas. “Além da perda de competitividade internacional, há o risco de sobreoferta no mercado interno e queda de preços para os produtores brasileiros”, alerta o relatório. Também há risco de demissões e suspensão de investimentos, especialmente nos segmentos de celulose e açúcar.
Minerva Foods manifesta preocupação
A Minerva Foods, um dos maiores exportadores brasileiros de carne bovina — com presença relevante também no setor de nutrição e industrializados —, enviou nota ao mercado destacando os riscos operacionais e estratégicos da medida para a manutenção de contratos com os Estados Unidos.
A empresa reiterou sua confiança na “capacidade institucional do Brasil de buscar soluções diplomáticas, respeitando os canais multilaterais” e defendeu o diálogo como caminho para preservar acordos comerciais em vigor.
Alerta para o setor
Diante do cenário, a Cogo recomenda uma mobilização coordenada entre governo e setor privado, com foco na articulação diplomática, diversificação de mercados e adequações logísticas. No entanto, reconhece que essas alternativas exigem tempo, custos adicionais e capacidade técnica — o que torna o desafio ainda mais complexo para os exportadores brasileiros.
O relatório completo foi disponibilizado gratuitamente pela consultoria em seus canais oficiais. Acesse em: www.carloscogo.com.br