Tilapicultura brasileira está pronta para crescer por mais 30 anos, mas gargalos regulatórios ameaçam sua competitividade | A tilapicultura brasileira tem potencial de crescimento por três décadas, mas enfrenta entraves regulatórios que comprometem sua competitividade.
A tilapicultura brasileira vive um momento de inflexão. Com quase 1 milhão de toneladas produzidas em 2024, a cadeia produtiva da tilápia consolida-se como a proteína animal que mais cresce no país na última década. Mas o ritmo dessa expansão pode ser comprometido por um inimigo silencioso: os entraves regulatórios.
Essa foi a principal mensagem da entrevista concedida por Francisco Medeiros, presidente executivo da Peixe BR, e Pedro Rivelli, presidente da Peixe MG, ao estúdio agriPlay, uma iniciativa do grupo agriNews Brasil, durante o Avicultor Mais 2025.
Segundo Francisco, a tilapicultura é a única cadeia aquícola com status decommodity no mundo, e o Brasil, hoje, é o único país com condições de continuar crescendo de forma significativa nas próximas três décadas.
No entanto, ele alerta: “Nosso principal gargalo é regulatório. Questões municipais, estaduais e federais estão entre os maiores fatores de perda de competitividade. É urgente que os gestores públicos entendam que estamos aqui para gerar emprego, renda e saúde”.
O avanço da tilapicultura foi atribuído, em grande parte, à entrada de grandes agroindústrias do setor de aves, que impulsionaram o pacote tecnológico de produção e comercialização. No entanto, como explicou Pedro Rivelli, ainda há enormes desafios estruturais, como a ausência de fábricas de ração e frigoríficos próximos aos polos produtivos, como é o caso de Morada Nova de Minas, maior polo do estado.
Minas Gerais, que cresceu mais de 18% na produção de tilápia em 2024, é um símbolo dessa transição: muito avanço na produção, mas pouca estrutura industrial de apoio.
A falta de integração, presença massiva de produtores independentes e um mercado interno ainda em formação tornam o cenário promissor, mas frágil. “Temos produtores corajosos e regiões com vocação natural para peixe, mas precisamos de organização e apoio para sustentar esse crescimento”, destacou Rivelli.
A industrialização da cadeia, a consolidação de marcas fortes e a ampliação dos canais de distribuição também foram pontos destacados na conversa. Ao contrário de outras proteínas como frango ou suíno, o peixe ainda carece de marcas que representem a categoria no varejo e no food service.
A boa notícia, segundo Francisco, é que os problemas do setor são “bons problemas”: geram oportunidades. A falta de estrutura cria espaço para novos investimentos e a profissionalização do setor tem avançado, com jovens gestores à frente de empresas e entidades. “A tilapicultura já saiu da arrebentação. As ondas continuam, mas hoje navegamos com maturidade e visão de futuro”, concluiu.
Para que o Brasil siga sendo protagonista global na produção de peixe, o setor precisará mais do que coragem. Precisará de regulamentação inteligente, investimento coordenado e, sobretudo, união. Como reforçou Pedro:
“Se a gente não der as mãos, muitos vão ficar pelo caminho. Mas se estivermos juntos, ninguém segura o peixe brasileiro”.
Assista a entrevista completa no canal agriNewsPlay Brasil: