Nutrição Animal

Uso de bagaço de uva na nutrição de bovinos de corte

PDF

Para ler mais conteúdo de nutriNews Brasil 3º Trimestre 2023

nutriForum 25 horizontal

Uso de bagaço de uva na nutrição de bovinos de corte: uma alternativa nutricional rentável

O uso de subprodutos de agroindústrias na formulação de dietas de ruminantes pode ser uma estratégia para reduzir o custo de produção, bem como, uma oportunidade e ferramenta que possibilita a pecuária sustentável, devido a capacidade de os ruminantes converterem insumos não comestíveis em proteína de alto valor (carne e leite).

Além da ótima relação custo-benefício, resíduos agroindustriais podem conter em sua composição compostos bioativos, que mostram ter capacidades funcionais ao organismo animal (SANTANA-MÉRIDAS et al. 2012).

Visto com bons olhos pelos pecuaristas, a inclusão de resíduos agroindustriais na nutrição de ruminantes vem tomando espaço, sendo umas das estratégias alimentares em mais de 70% das fazendas brasileiras que possuem confinamento. Segundo Pinto e Millen (2018), os três coprodutos mais utilizados são:

  • Caroço de algodão (36,4%);
  • Polpa cítrica granulada (27,3%);
  • Casca de soja (21,2%) e
  • Casca de algodão com alto teor de óleo (15,1%).

Na região Sul, por questões logísticas e econômicas, o caroço de algodão não possui uma utilização expressiva, diferente da média nacional relatada por Pinto e Millen (2018). Isso faz com que exista a necessidade de explorar coprodutos regionais, os quais possam viabilizar seu uso, por conta do seu baixo custo. Isto posto, enfatiza o potencial do resíduo de bagaço de uva na região sulina brasileira.

banner special nutrients

O QUE É O RESÍDUO DE BAGAÇO DE UVA (RBU)?

O RBU, é gerado após a prensagem dos cachos de uva durante a produção de vinho, sucos e seus derivados. Neste processo são gerados cerca de 200g/kg da massa total de uvas processadas em resíduo. Sua composição de partículas comumente possui em torno de 473g/kg de casca, 277g/kg de talos e 250g/kg de sementes no bagaço in natura (Figura 1). [cadastrar]

Figura 1 – Resíduo de bagaço de uva in natura.

residuo-de-bagaco-de-uva-in-natura
agriCalendar
nuproxa esp
biozyme robapagina
banner special nutrients

Fonte: O próprio autor (2021)

De modo geral, este resíduo é caracterizado pela alta concentração de fibras e sua baixa digestibilidade, assim como grande quantidade de extrato etéreo. Contudo, podem sofrer alterações de acordo com mudanças nas participações das partículas (Tabela 1).

Tabela 1 – Composição bromatológica da biomassa secundária da uva

Fonte: Elaborado pelo autor (2022); * Dados não publicados

DISPONIBILIDADE DO RESÍDUO

O Brasil possui cerca de 75.622 hectares de área de cultivo destinados à produção de uva (IBGE, 2021) e produção por safra de 1.748.197 toneladas de uva in natura (IBGE, 2021). Em destaque, a região Sul dispõe de uma grande área de videiras, sendo que em 2021 esta região foi responsável por produzir cerca de 1.056.985 toneladas, ou seja, 60,46% da produção total nacional.

Com base nos dados do IBGE, Mello e Machado (2021) estimaram que cerca de 46,72% da produção total de uva foi destinada a processamento, ou seja, cerca de 493.823,39 toneladas de uva foram processadas, qual gera cerca de 123.455 toneladas de resíduo de uva.

USO DE RESÍDUO DA UVA COMO INGREDIENTE NA NUTRIÇÃO PECUÁRIA

Os primeiros relatos na utilização do resíduo de uva na nutrição bovina foram na década de 80 (FAMUYIWA, 1982). Em ruminantes, esse resíduo tem sido alvo de recentes estudos com várias finalidades, os quais mostram ter diversos efeitos positivos, como:

beneficios-bagaco-de-uva

Para garantir o sucesso na utilização do RBU na alimentação animal é necessário bom planejamento, armazenamento adequado e o uso com critério, obedecendo suas franquezas e limitações nutricionais. Além disso, como ponto crucial é necessário a verificação da disponibilidade e sazonalidade do produto.

1) Bom armazenamento

 

Pode ser feito em silos do tipo trincheira ou superficial, revestidos por lonas específicas para armazenamento de alimentos volumosos, comumente utilizados nas silagens de milho e sorgo. A boa vedação e compactação são essenciais para evitar a deterioração do material.

2) Fluxo de retirada do material

 

O silo deve ter um bom dimensionamento, pois o volume a ser fornecido aos animais por dia não é grande. É importante que o silo tenha um painel compatível para a retirada de 30 cm do material por dia, para evitar a deterioração.

3) O nível de inclusão na dieta dos animais

 

A escolha da quantidade que será fornecida ao animal é preponderante e determinante dos resultados. A dose segura de inclusão deste resíduo é de 10% a 15% da MS da dieta total. De forma prática, a quantidade a ser fornecida ao animal se dá em função do seu consumo de matéria seca (CMS) em relação à dose máxima estipulada de 15% (Tabela 2).

Tabela 2. Como calcular a quantidade máxima que pode ser fornecida de resíduo de uva para bovinos de corte.

¹Cálculo: CMS total x 15%; ²Cálculo: CMS do resíduo x 100/ MS do resíduo (neste caso, 40% de MS)

ESTUDO NO BRASIL COM RESÍDUO DE UVA

estudo-bagaco-de-uvaOs recentes resultados da dissertação, publicados na revista Animal Feed Science and Technology, fazem parte do primeiro estudo conduzido e publicado nas condições da pecuária brasileira.

  • Este estudo teve por objetivo avaliar se a inclusão de 100g/kg do resíduo de uva como fontes de fibra dietética alternativa ao farelo de trigo e casca de soja tem efeitos positivos sobre o desempenho de crescimento, saúde animal, qualidade da carne e viabilidade econômica de novilho em confinamento.
Dentre os resultados podemos destacar que a substituição do farelo de trigo e da casca de soja pelo resíduo de uva não afetou o desempenho de crescimento dos animais (Gráfico 1), melhorou a saúde animal, com atenuação de proteínas de fase aguda (Gráfico 2) e melhorou a receita sobre os custos alimentares (Gráfico 3).

gp-bagaco-de-uvaceruloplasmina-bagaco-de-uva

custo-bagaco-de-uva

angus-bagaco-de-uva

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Reinventar-se nutricionalmente é um dos grandes desafios dos profissionais que trabalham com nutrição de bovinos de corte. O aumento na alimentação confinada demandou e demanda de novas técnicas e metas para otimizar o processo e garantir o sucesso até o produto final. Cabe a nós, nutricionistas e profissionais da produção animal, estarmos abertos às diversas oportunidades que nos cercam.

Por fim, salienta-se que o uso deste resíduo da uva, como qualquer outro resíduo, indispensavelmente requer de conhecimento, cautela e critérios, para que possam realmente alcançar os objetivos propostos na utilização, sendo necessária uma análise custos, para verificar a viabilidade econômica e possibilitar a pecuária sustentável.

Referências bibliográficas sob consulta [/cadastrar]

banner special nutrients
biozyme robapagina
nuproxa esp
Nuproxa 07-2023

ÚNETE A NUESTRA COMUNIDAD NUTRICIONAL

  • Acceso a los artículos en PDF
  • Mantente al día con nuestros boletines
  • Recibe gratuitamente la revista en versión digital
DESCUBRA
AgriFM - O podcast do sector pecuário em espanhol
agriCalendar - O calendário de eventos do mundo agropecuárioagriCalendar
agrinewsCampus - Cursos de formação para o setor pecuário.