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Uso de DDGS como ingrediente nas formulações de rações para suínos
Died Distillers Grains with Solubles – DDGS é um alimento alternativo para formulação de dietas de suínos e, também, um meio de aproveitamento sustentável do resíduo da produção de etanol à base de grãos.
A energia presente nos grãos secos destilados com solúveis (DDGS) bem como fibra, proteína e fósforo digestível faz com que o alimento se torne atrativo na produção das rações de suínos, em substituição parcial ao milho e farelo de soja.
O DDGS é um coproduto resultante do processo de moagem da produção de etanol, possui coloração marrom e pode se apresentar com tons dourados, e essência característica de alimentos fermentados. No procedimento também é produzido dióxido de carbono e o álcool propriamente dito, combustível (Corassa, et al. 2018).
De acordo com Curry et al. (2018) o uso de DDGS de milho na alimentação de suínos tem aumentado devido a sua:
Acessibilidade,
Alto valor energético,
Além dos percentuais de aminoácidos e
Fósforo disponíveis.
Segundo Wang et al. (2008), o milho foi o primeiro grão a ser usado para a produção de etanol nos Estados Unidos da América, contudo, o triticale e o sorgo também passaram a ser utilizados para o mesmo fim e na alimentação de suínos na forma de coproduto, por meio do DDGS.
Quando se analisa a composição química do DDGS dos três grãos citados acima, os resultados são interessantes para serem incrementados à formulação de dietas de suínos (Tabela 1) .
Apesar do Brasil ser um dos maiores produtores de etanol do mundo, a maior parte da nossa produção atualmente se dá a partir da cana-de-açúcar, mas no último ano, segundo dados da UNICA – União da Indústria de Cana-de-Açúcar em relatório publicado no segundo trimestre de 2021, o etanol proveniente do milho alcançou 2,57 bilhões de litros de produção na safra 2020/21, avanço de 58,13% em relação à safra anterior.
A participação do etanol de milho na fabricação total de biocombustível no Centro-Sul totalizou 8,45%. Estes resultados indicam uma tendência ao:
Portanto uma oportunidade que deve ser considerada para a cadeia produtiva de suínos.
Quanto ao sorgo, este é um alimento energético, o segundo cereal em importância para a alimentação de suínos no Brasil é o mais resistente ao estresse hídrico menos exigente em fertilidade do solo que o milho seu valor comercial é cerca de 80% do valor do milho valor biológico alcança 95% do principal cereal.
Em muitos testes recentes, o sorgo com baixo teor de tanino com processamento adequado de ração e formulação de dieta demonstrou desempenho igual para suínos em relação a dietas à base de milho, podendo então, ser um substituto completo do milho na dieta.
Quando se fala em DDGS a partir dos grãos de sorgo, os valores de fibra digestível e energia metabolizável são inferiores aos obtidos com DDGS de milho (Corrassa, 2019). Além disso, alguns trabalhos indicam que uma maior inclusão de DDGS de sorgo provoca piora no desempenho e menor eficiência alimentar para leitões em fase de creche, possivelmente associado à variação na composição nutricional de cada fonte de DDGS, às quantidades de solúveis adicionadas na dieta e a adaptação dos animais.[cadastrar]
Por isso, é importante avaliar corretamente a situação e a viabilidade econômica da utilização dessa matéria prima. |
Ademais, tanto DDGS de milho quanto de sorgo contêm concentrações relativamente altas de fósforo (P), que estão altamente disponíveis para os suínos, resultando em uma menor necessidade de adição de fósforo inorgânico na dieta, questão relevante para os custos da alimentação fornecida aos animais.
Além dos já citados milho e sorgo, outra cultura passível de ser utilizada como fonte de DDGS é o triticale, um cereal de inverno, resultante da hibridação de duas espécies distintas: o trigo e o centeio.
O teor de proteína bruta do grão varia entre 9% e 20% da matéria seca e o conteúdo de lisina, aminoácido limitante na maioria dos cereais, é maior que o encontrado no trigo ou no centeio. O maior teor de lisina no triticale permite reduzir o percentual de farelo de soja na dieta; no entanto, em alguns casos, o menor teor de energia acarreta pior conversão alimentar.
Os teores de amido variam de 66% a 73% da matéria seca e a maior fração de polissacarídeos não-amiláceos consistem em arabinoxilanos, que são considerados antinutritivos em rações animais, podendo influenciar negativamente:
Consumo de ração
Digestibilidade de nutrientes
Desempenho geral do crescimento, devido à alta viscosidade e a propriedades de retenção de água.
O triticale possui sistema enzimático autoamilolítico, que auxilia na conversão de grandes quantidades de amido em açúcares fermentáveis anulando, em alguns casos, a necessidade de adição de enzimas para degradação de amido. Além disso, a atividade da fitase deste cereal tem sido relatada como intermediária, entre a de centeio e de trigo.
Cultivares modernas do triticale são matéria-prima competitiva para produção de etanol, e na comparação de custos de produção de bioetanol de triticale, centeio e trigo, realizada por Rosenberg et al. (2002), o primeiro apresentou o menor custo por litro devido ao alto rendimento de etanol por hectare, o que pode favorecer o interesse da indústria sobre o grão, aumentando a disponibilidade do DDGS gerado.
Um fator que compromete o uso do DDGS nas rações é a qualidade nutricional. O milho e outros grãos utilizados no processo de fabricação do etanol podem ter constituições nutricionais diferentes, interferindo diretamente na variação nutricional do coproduto.
Spiehs et al. (2002) e Belyea et al. (2010) afirmam que, algumas etapas do sistema de produção, como o tempo de fermentação e secagem, e também, a temperatura em que os ingredientes foram submetidos, podem interferir nos resultados quando se compara as análises de DDGS.
A depender da temperatura no processo de obtenção do DDGS pode haver variação aminoacídica ao se comparar, através de análises químicas, produtos de empresas diferentes. Pode haver danos ao ingrediente devido a altas temperaturas e umidade, que são favoráveis para iniciar a reação de Maillard, que reduz a concentração de aminoácidos e da digestibilidade (Almeida et al., 2013).
A reação de Maillard ocorre em alimentos, resultado de uma reação química entre um aminoácido e uma redução de açúcar, um carboidrato. Acontece o processo de degradação, que forma compostos de coloração escura (maloidinas).
Há, também, a formação de compostos voláteis responsáveis pelos odores característicos do produto e altera o aspecto visual dos alimentos. A reação depende da temperatura e do tempo de exposição ao calor em que o alimento é submetido, (Francischini et al., 2017).
Visto que o amido do grão é utilizado na produção do biocombustível, permanecem disponíveis aos animais, as proteínas, gorduras e fibras quando fornecido o DDGS como ingrediente na ração. Por essa razão, o coproduto resultante do milho pode ser empregado tanto em substituição ao milho, quanto à soja.
Porém, é necessário destacar que o elevado teor de fibras torna necessária a adição de enzimas exógenas na ração, uma vez que o suíno não tem boa capacidade de digeri-las naturalmente.
Neste sentido, o trabalho de Dantas et al. (2020) indica a eficiência do uso de DDGS somado a um complexo multienzimático, pois a inclusão de DDGS em 25% não prejudicou o desempenho dos animais em crescimento e terminação e junto do complexo multienzimático melhorou a digestibilidade e o perfil de microbiota dos animais, o que certamente é uma vantagem no sistema de produção devido ao custo competitivo desta dieta frente ao empregado tradicionalmente.
Quando se analisa a composição nutricional do DDGS de milho, milho, sorgo e farelo de soja (Tabela 2), sendo os dois últimos ingredientes básicos na formulação das dietas de suínos, destacam-se os valores de energia metabolizável, matéria seca, fósforo disponível, extrato etéreo e fibra bruta. Em relação à composição aminoacídica, o DDGS de milho apresenta percentuais superiores aos dos grãos sorgo e milho.
Em um estudo analisado por Estevam et al (2018), quando incluiu DDGS na fase de creche, resultou em variações no desempenho de leitões alimentados com níveis crescentes de DDGS em diferentes artigos analisados.
De acordo com os autores, esta variação está relacionada com diferentes fontes de DDGS e a composição dos ingredientes analisados em cada experimento, pois nos diferentes trabalhos os mesmos níveis de inclusão apresentaram variações no desempenho.
Novos ingredientes são necessários dentro do sistema de produção animal e o DDGS se apresenta como um potencial ingrediente fixo nas formulações de rações de suínos. É uma oportunidade para redução de custos com alimentação, além de ter uma prospecção ascendente na disponibilidade para o mercado brasileiro.
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