Nutrição Animal

Utilização de produtos de soja na alimentação animal – Parte I

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Para ler mais conteúdo de nutriNews Brasil 1 Trimestre 2020

G. Fondevila. L. Cámara

J. L. Archs & G. G. Mateos

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A farinha de soja é a principal fonte de proteína e aminoácidos (AA) na formulação de alimentos balanceados para o gado em nível mundial, especialmente no caso de animais monogástricos.
A soja é uma fonte vegetal de qualidade, com uma composição química menos variável que outras fontes proteicas, o que favorece altos níveis de inclusão na ração balanceada.
No entanto, devido a seu alto nível de utilização, especialmente em dietas para avicultura, a falta de uniformidade desta matéria prima é muito mais relevante que das outras matérias primas presentes na fórmula.
Em muitas situações práticas, o controle de qualidade das farinhas de soja e seus derivados se resume a analisar seu conteúdo em umidade, fibra bruta, proteína bruta (PB) e atividade ureásica.

Analisar apenas o conteúdo da soja em umidade, fibra bruta, proteína bruta (PB) e atividade ureásica não é suficiente para determinar seu valor nutricional com precisão.
Outros parâmetros, tais como conteúdo de açúcares, FND, perfil de AA e variáveis como o conteúdo de inibidores de tripsina (IT), reações de Maillard e solubilidade em KOH raramente são analisados.

Todos estes parâmetros são de interesse, já que nos permitem avaliar corretamente o valor nutricional da soja. Estas variáveis, no entanto, estão sujeitas a importantes variações em função de:

  • Genótipo da semente
  • Tipo de solo e condições ambientais durante a fase de crescimento (Westgate et al., 2000)
  • Características do processamento (Grieshop et al., 2003)
  • Tempo de armazenamento (Serrano et al., 2013)
  • Presença de fatores antinutricionais (Karr-Lilienthal et al., 2004; Frikha et al. 2012)
  • País de origem do grão (Ravindran et al., 2014; García Rebollar et al., 2014 y 2016).

É preciso melhorar os métodos utilizados hoje para o controle de qualidade, porém a maioria dos programas de controle de qualidade da soja são voltados a determinar seu valor proteico, com escassa incidência sobre o valor energético, o que reduz seu valor prático.
O objetivo do presente trabalho será exposto em três partes:

  1. Identificar os principais fatores que afetam o perfil e a qualidade nutricional das farinhas de soja.
  2. Definir e avaliar as diferentes metodologias que permitem sua avaliação e determinar possíveis melhorias no controle de qualidade a serem adotadas pela indústria de fabricação de rações balanceadas.
  3. Descrever os diferentes fatores de variação na composição e qualidade da soja.

Processamento com solventes
O grão inteiro com 36% de PB (Figura 2) é descascado para reduzir os custos do processo e restos da semente.
Uma vez preparada, submete-se ao aquecimento térmico para reduzir o conteúdo de fatores antinutricionais.
Posteriormente extrai-se o óleo do grão com solventes, obtendo-se a farinha de soja (48% PB).
Muitas vezes adiciona-se parte do farelo separado no início do processo, dando origem à farinha de soja (44% PB).

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Deve-se considerar que, neste caso, o farelo que contém certas quantidades de inibidores de tripsina (IT), não foi processado.
Processamento por aquecimento

Em certos países, tais como Argentina, a gordura não é extraída do grão via solventes, mas por processos de pressão acompanhados de temperaturas elevadas.
Neste caso, o produto que se obtém é a soja expeller, cujo conteúdo em PB está em torno de 40-44% e o de gordura em torno de 8-11%.
Deve-se considerar que este processo de obtenção do óleo por pressão é normalmente realizado em fábricas de pequeno porte, nem sempre com boas instalações.


A partir do grão processado e desengordurado, pode-se gerar produtos de valor agregado a partir de:
Eliminação dos fatores antigênicos
Desativação dos inibidores de Tripsina
Redução dos oligossacarídeos:
Por fermentação, ou processamento enzimático (farinha de soja fermentada: <55% PB)
Por extração alcoólica (concentrado proteico de soja: >65% PB).

Composição proximal e valor nutricional da farinha de soja
A composição química da farinha de soja é menos variável que a de outros ingredientes proteicos habituais nas rações comerciais para monogástricos. No entanto, devido a seu alto nível de inclusão em rações balanceadas, precisa-se um alto grau de uniformidade.

É comum encontrar diferenças consideráveis quanto ao conteúdo de determinados nutrientes tais como PB, AA e fibra neutro detergente (FND) em rações balanceadas comerciais.
O conteúdo de PB das farinhas de soja normalmente varia em função do tipo de grão e da inclusão, ou não, do farelo após o processo de extração do óleo.
Níveis de PB lógicos oscilam entre 43 e 45%, para a farinha de soja padrão e 46,7 e 48,5% para a farinha de alta proteína.
No conteúdo em AA da farinha é variável, com níveis que oscilam entre 2,7% e 3,0% para o caso da Lys total (FEDNA, 2010).

Considerações …

Um problema a se considerar em situações práticas é que a maioria das fábricas de ração balanceada estima que a proporção, ou perfil em AA da farinha de soja é constante. Por isso, ao modificar o nível de proteína na matriz, costuma mudar proporcionalmente o conteúdo de todos os AA, o que implica erros e, consequentemente, maiores custos produtivos.
Diversos trabalhos demonstram que o conteúdo em AA essenciais não é proporcional ao nível de PB e que o conteúdo em AA das sojas depende não só de seu conteúdo proteico, mas também do país de origem do grão.
A disponibilidade dos AA da soja se correlaciona negativamente com a presença de fatores antinutricionais, em particular, dos IT e reações de Maillard.

As farinhas de soja recebidas na Europa costumam proceder dos EUA, Brasil / Paraguai ou ainda da Argentina.

Em geral, os grãos do Brasil / Paraguai contém mais PB que os dos EUA, que por sua vez contém mais que os da Argentina, sempre que não se adiciona farelo ao produto recém elaborado (Tabela 2).

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Assim, a vantagem do maior nível proteico perde-se em parte, já que os animais não necessitam proteína, mas AA digeríveis.

No laboratório, a Proteína Bruta é calculada multiplicando-se o conteúdo de N da farinha por um fator estabelecido de 6,25.
A inclusão de um nível reduzido de ureia permite elevar o nível proteico teórico de forma surpreendente. Deve-se considerar que a ureia não é tóxica em animais monogástricos, porém, seu nível nutricional para estas espécies é nulo.
Valor energético das farinhas de soja

O cálculo do valor energético das farinhas de soja é importante para uma boa estimativa de seu valor nutricional. No entanto, não há uma metodologia definida para sua avaliação nos diversos produtos de soja.
Na prática, a energia metabolizável (EMAn; aves) é determinada a partir de equações de predição com base no possível aporte energético de seus princípios imediatos.
O principal incoveniente deste método está no fato de não se considerar nem a possível variação na digestibilidade da proteína, nem o conteúdo de açúcar que normalmente supera 8-9% (García Rebollar et al., 2016), nem a presença de fatores antinutricionais. Todos estes parâmetros são variáveis, em função não só do processamento da soja, como também da origem do grão.

Outros valores – Umidade, FND e EE

A farinha de soja contém cerca de 12% de umidade, 7-13% de FND e 1,7% de extrato etéreo, enquanto as cinzas supõem 6%, aproximandamente.
Estes valores dependem, fundamentalmente, da composição química do grão original, sua genética, porém, também e, talvez em maior proporção, da região geográfica onde foi plantada a semente.
Neste aspecto, possivelmente a latitude, relacionada com as horas de luz durante o crescimento e amadurecimento da semente, sejam chave na hora de entender a composição do grão.

Os grãos do Brasil e Paraguai, próximos ao Equador, contém mais óleo e proteína, porém menos açúcares (sacarose e oligossacarídeos) que os grãos da Argentina e EUA..
No caso das farinhas brasileiras, assim com as da Índia, destacam-se por seu maior conteúdo de FND para um nível padrão de PB.
Os níveis de P e Fe variam em função da acidez e das características do solo, assim como da fertilização e condições de crescimento do grão (FEDNA, 2010). Os valores de Fe são maiores para as sojas do Brasil e os de P, ligeiramente maiores para as sojas dos EUA.
A farinha de soja é, apesar de seu preço, a fonte proteica preferida para alimentação de espécies monogástricas.
Devido a seus altos níveis de uso, é preciso controlar os diversos parâmetros nutricionais, especialmente, aqueles relacionados com o perfil aminoacídico, a digestibilidade dos AA e o conteúdo em açúcares e energia.
A planta de processamento, o tipo de solo e a conservação, assim como a origem do grão (latitude) são parâmetros que afetam seu valor nutricional.
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