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Utilização do milheto (Pennisetum glaucum) na dieta de aves

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Agnaldo Borge de Souza Zootecnista, mestrando em zootecnia, Universidade Federal de Goiás

Agnaldo Borge de Souza

Higor Santiago Vieira dos Santos Zootecnista, mestrando em zootecnia, Universidade Federal de Goiás

Higor Santiago Vieira dos Santos

José Henrique Stringhini Professor do Departamento de Zootecnia – Escola de Veterinária e Zootecnia Universidade Federal de Goiás

José Henrique Stringhini
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Utilização do milheto (Pennisetum glaucum) na dieta de aves

O milho e o farelo de soja compõem tradicionalmente as principais fontes energéticas e proteicas, respectivamente, na formulação de rações para aves no Brasil. No entanto, a oscilação nos preços destes insumos sugere a busca por ingredientes alternativos para a sua substituição total ou parcial, a fim de baratear os custos com a alimentação, que podem representar até 80% do custo total no sistema de produção.

O milheto (Pennisetum glaucum), pertence à família Poaceae, sub família Panicoidae, gênero Pennisetum (Kumar & Niomey, 1989), originário de clima tropical e semiárido do continente Africano, sendo posteriormente disperso para outros continentes e atualmente abrange vasta extensão territorial. É uma gramínea forrageira anual de verão, de espécie cespitosa, porte alto e hábito ereto, ciclo vegetativo curto (60 a 90 dias em cultivares precoces e 100 a 150 dias em cultivares tardios) (Kollet et al., 2006)


Essa forrageira tem ganhado destaque no agronegócio brasileiro, por apresentar vantagens em sua cultura, sobretudo pela sua rusticidade e adaptabilidade às condições edafoclimáticas no desenvolvimento e produção, em condições de temperatura que variam de 25 a 35°C (Buso et al., 2014).

Além disso, apresenta tolerância ao estresse hídrico, que torna possível produzir este grão em solos pobres e regiões de baixa pluviosidade, devido ao seu sistema radicular profundo e consequente capacidade de extrair nutrientes. Este processo permite a sua sobrevivência em condição de solos arenosos ou ácidos e com pouca matéria orgânica ou baixa fertilidade (Camargo et al., 2009; Tabosa et al., 1989).

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O potencial produtivo do milheto é capaz de alcançar até 60 toneladas de matéria verde e 20 toneladas de matéria seca por hectare, o que lhe permite uma versatilidade de uso que vai desde:

Forrageira com excelente qualidade de silagem;
Cobertura de solo nas áreas de plantio direto e;
A utilização de seus grãos tanto na alimentação humana como animal (Belon et al., 2009; Pereira Filho et al., 2003).

O uso do milheto como ingrediente alternativo na dieta de aves tem ganhado ênfase por apresentar baixo custo de produção, já que é possível realizar pelo menos dois cortes por ano, a partir de um único plantio (Pinto et al., 2009).

Apresenta baixo custo como ingrediente na ração, maior teor de proteína e concentração de aminoácidos, além de valores de digestibilidade de nutrientes adequados em relação ao milho e ao sorgo (Moura et al., 2019).

Os valores de composição química e energética do milheto, definidos por Rostagno et al. (2017), estão dispostos na Tabela 1.

A composição do milheto pode variar em função:

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  • Do cultivar;
  • Das atividades relacionadas ao plantio e cultivo que são realizados;
  • Condições edafoclimáticas, dentre outros fatores.

No entanto, em análise bromatológica, Gomes et al. (2008) encontraram valores similares em seus resultados, sendo:

Segundo Rostagno (2017), os valores de composição nutricional do milho são de:

Sendo estes valores inferiores aos do milheto, como verificado nos valores apresentados na Tabela 1 sugerindo a vantagem de se utilizar este ingrediente alternativo em dietas avícolas.

Apesar de não apresentar grande conteúdo de fatores antinutricionais, o milheto tem energia metabolizável inferior à do milho, para frangos de corte (Moura et al., 2019).

Além disso, uma fração fibrosa deste ingrediente pode dificultar o seu aproveitamento pelos animais e, com isso, torna-se necessário a adoção de estratégias que contribuam para aumentar a disponibilidade da energia e dos nutrientes deste alimento, como por exemplo, a inclusão de enzimas exógenas na dieta (Rostagno et al., 2011).

A capacidade das enzimas exógenas em aumentar a digestibilidade de nutrientes das rações com a redução dos fatores antinutricionais presentes nos ingredientes, promove a maior disponibilidade desses nutrientes da dieta com a consequente melhora no desempenho animal (Onderci et al., 2006).

Sendo assim, a adição de enzimas monocomponentes ou complexos enzimáticos em dietas para aves se caracteriza como uma estratégia possível de ser adotada, quando o milheto é incluído como ingrediente alternativo ao milho.

 

RESULTADOS DE PESQUISAS UTILIZANDO MILHETO EM DIETAS PARA AVES

Nas últimas décadas, têm sido demonstrados resultados da utilização de milheto em dietas para aves, como alguns estudos recentes têm reforçado, apresentando dados que podem ser considerados satisfatórios.

Hidalgo et al. (2004) relataram que a inclusão de até 10% de grão de milheto na dieta de frangos de corte de 1 a 42 dias de idade não afetou o seu desempenho e características de carcaça, comparada à dieta controle.

Posteriormente, Gomes et al. (2008), ao estudarem os diferentes níveis de inclusão de milheto na dieta de frangos de 1 a 21 dias, encontraram melhor resposta de desempenho em dietas com 20% de inclusão do grão. Além disso, os autores relataram valores de energia metabolizável aparente corrigida de 2556 kcal/kg.

Da mesma forma, Manwar e Mandal (2009) não observaram efeito em até 75% de substituição do milho por milheto para frangos.
Akinola et al. (2015), em experimento substituindo milho por milheto inteiro para avaliar o desempenho de frangos (Tabelas 2 e 3), mostraram que não houve diferença no ganho de peso final e na carcaça à 60% de inclusão na dieta.

No entanto, o nível de 20% proporcionou melhor conversão alimentar e maior peso final, comparado ao tratamento controle. Kawu et al. (2020) encontraram melhores resultados de desempenho e de características de carcaça de frangos em que houve substituição de até 10% do milho pelo grão de milheto.


Com objetivo de buscar o maior aproveitamento do potencial nutricional do milheto, Moura et al. (2019) utilizaram este ingrediente associado à complexos enzimáticos e verificaram que não houve o favorecimento da utilização da energia, no entanto, melhorou o coeficiente de digestibilidade da proteína do milheto em frangos de 1 a 20 e 31 a 40 dias de idade.

Da mesma forma, Leite et al. (2011) relataram que a adição de enzimas à dieta contendo milheto não proporcionou ganho no desempenho de frangos. Do contrário, Edache et al. (2020) afirmaram que a inclusão de até 100% de milheto na dieta de frangos, suplementado com enzimas, não apresentou efeitos adversos em sua carcaça ou parâmetros hematológicos.

Em pesquisa com poedeiras, foi possível verificar que a inclusão de milheto pode modificar o perfil lipídico da gema, como demonstrado por Collins et al. (1997), em que aves alimentadas com rações contendo milheto produziram:

  • Ovos enriquecidos com ácidos graxos poli-insaturados;
  • Bem como o aumento de 2% no peso da gema e;
  • Redução da sua coloração em 62%, fazendo-se necessário o uso de pigmentantes na dieta.

Mehri et al. (2010) relataram que a produção máxima de ovos ocorreu quando houve substituição de 75% de milho por milheto, enquanto 100% de inclusão resultou em 10% de redução na produção de ovos e conversão 18% mais baixa que na dieta controle.

Em trabalho anterior, Garcia e Dale (2006) relataram que a inclusão de 10% de milheto na dieta de poedeiras não influenciou o consumo de ração ou a produção de ovos e proporcionou maior digestibilidade de amido.

Muramatsu et al. (2005), em estudo com dietas contendo milheto e diferentes níveis de óleo de soja, relataram que o desempenho das poedeiras comerciais não foi afetado pela inclusão desses ingredientes (Tabela 4). No entanto, os autores constataram aumento nos teores de ácido linoleico, linolênico e DHA e ainda, redução nas relações linoleico/DHA, linoleico/ linolênico + DHA/linoleico + linolênico + DHA dos ovos produzidos (Tabela 5).



Garcia et al. (2011) constataram que a inclusão de 20% de milheto em substituição ao milho não influenciou:

  • O consumo;
  • A conversão alimentar e;
  • O percentual de postura ou parâmetros de qualidade interna e externa dos ovos;
  • Além de apresentar menor viabilidade econômica (Tabela 6);

No entanto, reduziu a cor da gema à medida que os níveis do ingrediente eram aumentados.

Considerações finais

Diante do exposto, pode-se concluir que o milheto apresenta inúmeras vantagens, não só no ponto de vista nutricional, mas também econômico. Sua utilização em níveis de inclusão indicados em estudos, mostra eficiência no sistema de alimentação da avicultura, ressaltando a importância de pesquisas a fim de se obter mais informações a cerca desse ingrediente e reforça a possibilidade de adesão à fontes alternativas de alimentos para aves, com o objetivo de baratear os custos no sistema de produção.[/registrados]

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