Entenda a importância da treonina no trato gastrointestinal e no sistema imunológico de frangos de corte
A indústria avícola, especialmente em relação aos frangos de corte, experimentou melhorias significativas na eficiência da produção na última década. Melhorias genéticas, práticas de manejo, ambiência e os desafios imunológicos (vacinação e infecção) influenciam os requisitos de nutrientes essenciais e que são constantemente ajustados para as necessidades dos animais.
Embora o tecido intestinal represente apenas cerca de 5% do peso corporal, ele consome 15 a 30% do oxigênio e das proteínas de um organismo vivo (Gaskins, 2001) e 20% da energia (McBride e Kelly, 1990). Isso ocorre devido a sua rápida taxa de renovação e intensa atividade metabólica celular. Assim, as necessidades nutricionais do intestino devem ser consideradas ao se tentar otimizar a distribuição de nutrientes para frangos criados em diferentes ambientes sanitários, pois o intestino pode ter necessidades nutricionais aumentadas para manter sua proliferação celular.
A nutrição também afeta a composição da microbiota (Pan e Yu, 2014), e a função que os microrganismos vão desempenhar no hospedeiro. Além disso, estratégias nutricionais direcionadas à regeneração da mucosa intestinal lesada têm o potencial acelerar sua recuperação por meio de efeitos benéficos na microbiota, fisiologia digestiva, sistema imunológico e inflamação.
A treonina é um aminoácido essencial para as espécies avícolas, uma vez que elas não sintetizam esse aminoácido. Em dietas à base de milho e farelo de soja, a treonina é considerada o terceiro aminoácido mais limitante depois da metionina e da lisina (Corzo et al., 2007).
A importância da treonina se dá pela sua participação na síntese de proteínas, seu catabolismo gera muitos produtos importantes para o metabolismo, como glicina, acetil-CoA e piruvato (Kidd e Kerr, 1996), dentre outras funções.
Treonina e o trato gastrointestinal
Devido à sua rápida taxa de renovação e alta abundância nas secreções intestinais, os frangos de corte têm uma alta exigência de treonina, quando comparado com outros aminoácidos (Fernandez et al., 1994).
Thr é o principal componente da mucina intestinal em animais, representando aproximadamente 30% de seu conteúdo total de aminoácidos (Faure et al., 2002). Devido à sua importância na manutenção da função de barreira, a mucina não é digerida pelos mecanismos normais do TGI. Consequentemente, a Thr secretada como mucina é eventualmente perdida na excreta ou fermentada por microrganismos cecais, tornando-a quase irrecuperável para o animal.
Portanto, fatores que induzem a secreção de mucina podem aumentar as necessidades dietéticas de Thr, como a carga bacteriana, que pode influenciar o fluxo de aminoácidos endógenos através da produção de mucina (Adedokun et al., 2012) e diminuir sua disponibilidade para o crescimento; por exemplo:
Corzo et al. (2007) observaram que com base no ganho de peso corporal, a exigência de Thr de 21 a 42 d foi de 0,77% em frangos criados em cama usada vs. 0,74% em frangos criados em cama nova;
Faure et al. (2007) relataram que a infecção sistêmica, induzida pela infecção por E. coli, aumentou a utilização de Thr para a síntese de proteínas na parede do intestino delgado, mucosa e mucina em ratos; além disso, a utilização de Thr para a síntese de mucina foi 70% maior nos ratos infectados do que nos grupos controle; este estudo mostra a importância do incremento na utilização de Thr não apenas durante as infecções intestinais, mas também durante as infecções sistêmicas.
A treonina e o sistema imunológico
Outra relação importante é o conteúdo de treonina dietético e o sistema imunológico. Estudos indicaram que os componentes do sistema imunológico são responsivos a manipulações da Thr dietética (Wang et al., 2006; Zhang et al., 2014, 2016, 2017; Chen et al., 2016).
A Thr é um componente importante das imunoglobulinas (Ig), particularmente IgA, que é secretada pela mucosa intestinal e é responsável por mais de 2/3 de todas as Ig no corpo (Slack et al., 2012). Uma das principais funções da IgA é a manutenção da homeostase intestinal, evitando a fixação e entrada de bactérias nas células intraepiteliais, ou eliminando bactérias do espaço basolateral para o lúmen (Macpherson et al., 2001; Brisbin et al., 2008).
Em galinhas, usando um explante ex vivo, Zhang et al. (2017) mostraram que a privação de Thr para o meio regulou a expressão de IL-8, MUC2 e IgA, que foi revertida pela adição de Thr. Esse achado implica que a Thr é essencial para o bom funcionamento do sistema imunológico local.
Também em galinhas, a suplementação de Thr altera o equilíbrio microbiano no intestino e modula o sistema imunológico, aumentando a secreção de IgA e regulando negativamente a expressão dos genes inflamatórios INF-γ e IL-1 β (Chen el al., 2016).
Conforme afirmado por Faure et al. (2007), em situações patológicas, a defesa e o reparo aumentam a demanda por aminoácidos, principalmente Thr, e se a necessidade extra de Thr não for atendida pela dieta, a proteína muscular será mobilizada.
Chen et al. (2016) relataram que 10,69 mg/kg de Thr dietética (26% maior que o recomendado pelo NRC, 1994) diminuíram as colônias de Salmonella e Escherichia coli e aumentaram Lactobacillus em frangos de corte.
As informações desse texto foram retiradas do artigo intitulado “Threonine, arginine, and glutamine: Influences on intestinal physiology, immunology, and microbiology in broilers”
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