A interação dieta-microbiota na nutrição de precisão de frangos de corte
A interação dieta-microbiota na nutrição de precisão de frangos de corte
O intestino é um ecossistema multifacetado que conecta elementos do hospedeiro, incluindo o epitélio intestinal, com suas conexões neuroendócrinas, o sistema imunológico da mucosa e com a microbiota comensal ( Stanley et al., 2014 ; Kogut et al., 2017 ; Kogut, 2019 ).
A dieta interage com a microbiota intestinal, promovendo ou inibindo seu crescimento e alterando o microambiente intestinal, além de influenciar indiretamente o metabolismo e o sistema imunológico do hospedeiro. A microbiota intestinal extrai energia de carboidratos não digeríveis, favorecendo certos microrganismos sobre outros. Contudo, componentes dietéticos podem interromper as funções da barreira intestinal, afetando a interface microbioma-hospedeiro, induzindo desequilíbrios e contribuindo para processos inflamatórios, impactando as funções fisiológicas do hospedeiro (Kogut, 2022).
O papel da microbiota na mediação das funções imunológicas em aves ainda é um campo que carece de uma compreensão completa, como demonstrado em estudos anteriores. Klasing (1998) destacou o impacto dos fatores nutricionais na resposta imune do hospedeiro frente a infecções, apontando como a dieta pode influenciar as populações microbianas no trato gastrointestinal. Mais de vinte anos depois, a investigação sobre a interação entre a microbiota intestinal e os processos nutricionais que moldam as funções imunofisiológicas em aves permanece insuficiente e é um tópico de grande relevância científica (Kogut, 2021).
Além disso, estudos recentes mostram que o sistema imunológico intestinal pode interpretar o estado metabólico da microbiota ao reconhecer metabólitos microbianos através de seus receptores de reconhecimento de padrões (PRRs) (Levy et al., 2016; Blacher et al., 2017). Por meio de diversas vias bioquímicas, a microbiota metaboliza compostos derivados da dieta e do próprio hospedeiro, influenciando assim diferentes componentes do sistema imunológico intestinal. Por exemplo, fibras não digeríveis são transformadas em ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), como acetato, propionato e butirato, que apresentam propriedades anti-inflamatórias significativas em células imunes de frango, tanto em estudos in vitro quanto in vivo (Zhou et al., 2014; Zou et al., 2019; Gupta et al., 2020).
A dieta desempenha uma função crítica na formação e regulação da microbiota intestinal, com o microbioma crucialmente implicado na bioconversão de componentes da ração em mudanças na fisiologia, metabolismo e imunidade do hospedeiro!
Pesquisas crescentes demonstram que o valor nutricional dos alimentos está intimamente ligado à composição e ao funcionamento da comunidade microbiana no intestino. Os alimentos desempenham um papel fundamental na modulação da microbiota, influenciando sua diversidade e a vasta coleção de genes microbianos que compõem o microbioma intestinal (Stanley et al., 2014; Shang et al., 2018). Assim, compreender plenamente o valor nutricional dos alimentos e seu impacto nas funções fisiológicas do organismo requer um conhecimento mais aprofundado sobre a dinâmica e a interação das comunidades microbianas intestinais.
Novos conceitos
Estabelecer uma relação de causa e efeito entre a dieta, microbiota e fisiologia do hospedeiro é fundamental. A microbiota intestinal aviária desempenha várias funções críticas na fisiologia das aves, como a modulação da defesa imunológica, função cerebral, regulação do metabolismo e outros processos fisiológicos importantes. Compreender as principais vias de sinalização entre a microbiota intestinal e o hospedeiro é essencial para desenvolver estratégias dietéticas terapêuticas eficazes.
Os estudos atuais muitas vezes não conseguem estabelecer relações de causa e efeito claras entre dieta, microbiota e funções fisiológicas das aves, como imunidade e desempenho. Para explorar o verdadeiro potencial terapêutico da nutrição de precisão direcionada à microbiota, é imperativo estabelecer essas relações causais.
Evidências de estudos com humanos e modelos murinos mostram que a microbiota intestinal é crucial na modulação de várias funções fisiológicas. No entanto, poucos microrganismos foram confirmados em galinhas. Entender a origem e ações dos metabólitos gerados pela microbiota ajudará no design terapêutico.
Tecnologias ômicas, como transcriptômica, proteômica e metabolômica, são usadas para descrever simultaneamente as atividades metabólicas do intestino e da microbiota do hospedeiro. A microbiota está envolvida em interações metabólicas complexas que regulam eixos metabólicos, imunológicos e de sinalização, impactando vários sistemas de órgãos.
A distribuição espacial da microbiota ao longo do trato intestinal em aves é diversificada, e pouco se sabe sobre as interações locais entre a microbiota e o hospedeiro. Compreender essa organização espacial é crucial para otimizar a dieta e suplementos alimentares, melhorando a saúde intestinal e o desempenho das aves sem alterar a composição genética.
O futuro dos efeitos da nutrição de precisão no microbioma em aves, visando melhorar seu desempenho, prevenir doenças infecciosas entéricas e aumentar funções fisiológicas, depende da padronização dos métodos de pesquisa. É necessário que os procedimentos analíticos usados para medir o microbioma sejam mais reprodutíveis e aplicados consistentemente para obter avaliações precisas da dieta e minimizar a variação técnica em dados metagenômicos (Kogut, 2021).
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O artigo completo está disponível em Open-Acess pelo link https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0032579121006933
Michael H. Kogut, Role of diet-microbiota interactions in precision nutrition of the chicken: facts, gaps, and new concepts, Poultry Science, Volume 101, Issue 3, 2022, 101673, ISSN 0032-5791, https://doi.org/10.1016/j.psj.2021.101673.
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