Nutrição Animal

Aspectos de qualidade determinantes para a escolha de rações para peixes

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Para ler mais conteúdo de nutriNews Brasil 2 Trimestre 2021

Erika do Carmo Ota

Bióloga, Doutora em Ciências Ambientais, bolsista DTI/BRS Aqua da Embrapa Agropecuária Oeste
Erika do Carmo Ota

Luis Antonio Kioshi Aoki Inoue

Engenheiro Agrônomo, Doutor em Genética e Evolução, pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste
Luis Antonio Kioshi Aoki Inoue

Tarcila Souza de Castro e Silva

Zootecnista, Doutora em Ciências, pesquisadora da Embrapa Agropecuária Oeste
Tarcila Souza de Castro e Silva
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Aspectos de qualidade determinantes para a escolha de rações para peixes

A qualidade das rações é muito importante para o sucesso na criação de peixes. No entanto, vários aspectos devem ser considerados. Por muito tempo, as rações foram adquiridas pelo tamanho dos péletes e pela quantidade de proteína e vitamina C.

A qualidade envolvia, além dos teores desses nutrientes, a cor e o aroma, e mais recentemente a presença de aditivos, como os probióticos. Entretanto, esses critérios começaram a mudar, e a ciência tem contribuído para isto.

No Brasil, vários grupos de pesquisa têm trabalhado para determinar as exigências nutricionais de diversas espécies de peixes, o aproveitamento dos nutrientes presentes em cada ingrediente, o uso consciente da proteína, o uso de aditivos, etc. Baseados nesse conhecimento, muitos pesquisadores demonstram preocupação no balanço de nutrientes das rações comerciais.

Em 1999, Fernando Kubitza e colaboradores relataram no artigo “Rações comerciais para peixes no Brasil: situação atual e perspectivas”, publicado na revista Panorama da Aquicultura, que as rações estavam em constante melhoria, mas que os problemas nutricionais ainda existiam. Os produtores estavam intensificando a produção sem se preocupar em fornecer aos peixes rações de melhor qualidade. A maioria das rações disponíveis no Brasil, na época, era adequada apenas para peixes criados em sistemas semi-intensivos, onde a presença do alimento natural contribuía com a nutrição dos animais.

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Ainda em 1999, Fernando Kubitza e José Eurico P. Cyrino, no artigo “Effects of feed quality and feeding practices on the quality of fish: A Brazilian fish culture outlook”, citam que as deficiências minerais na alimentação dos peixes são menos frequentes do que as deficiências vitamínicas. As perdas de vitaminas ocorrem normalmente no processamento e estocagem das rações e na alimentação dos peixes, quando os péletes são colocados em contato com a água (lixiviação). Também foram relatadas perdas econômicas relacionadas às deficiências em vitaminas e minerais, ao desbalanço da relação entre energia e proteína e ao manejo alimentar.

Em 2015, Roberto Montanhini Neto e Antônio Ostrensky analisaram a composição e o conteúdo nutricional de rações para tilápia no Brasil e ressaltaram o potencial poluidor das rações, devido ao desbalanço e à indisponibilidade de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo.

Quanto ao fósforo, os autores citaram que, além das perdas pelo excesso de sua fração indisponível (ligado ao fitato), a situação pode ser agravada pelo potencial poluidor da fração disponível, em que somente 30% do fósforo ingerido pelo peixe é retido no organismo. O restante vai para o ambiente por meio das fezes.

Quanto à proteína bruta e digestível, os autores citam que as rações foram relativamente adequadas às exigências nutricionais. Porém, o balanço dos aminoácidos não atendeu às recomendações, principalmente com relação à metionina, cuja consequência é o aproveitamento de apenas metade da proteína digestível. Além do efeito poluidor da liberação de nitrogênio ao ambiente, presume-se que os peixes teriam crescimento reduzido e a atividade não seria rentável.

Em 2016, Bernardo R. José e colaboradores publicaram o artigo “De olho na composição das rações de tilápia”, na revista Panorama da Aquicultura, que aborda a análise da composição química das rações para tilápia em Santa Catarina. A maioria das desconformidades estava relacionada ao conteúdo de proteína bruta e matéria mineral, provavelmente devido à qualidade das matérias-primas utilizadas na formulação dessas rações. Eles ressaltaram que, para a escolha da ração, devem ser considerados os indicadores de qualidade (composição nutricional e digestibilidade dos nutrientes), preço, serviço de atendimento e assistência técnica fornecida pelo fabricante.

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Os autores destacaram, ainda, a importância do atendimento dos níveis de garantia pelos fabricantes e da qualidade da ração, proporcionando crescimento em proteína (não gordura) mais rápido e melhor custo-benefício. Sendo assim, para melhorar a qualidade, sugeriram o diálogo entre a indústria, o produtor e/ou associação de produtores e as instituições de pesquisa.

Em 2021, nota-se grande quantidade de artigos científicos publicados, porém pouca adoção dessas tecnologias pelo setor. Felizmente, esse cenário começa a mudar com iniciativas como a da Embrapa, ao estimular projetos junto aos parceiros do setor, os chamados projetos tipo III.

Esta aproximação é desejada, porque a inovação está atrelada à adoção das tecnologias. Então, é esperado que os resultados das pesquisas sejam “absorvidos” pelas indústrias. Entretanto, os fabricantes de ração, muitas vezes, não são encorajados a utilizar alguns conceitos científicos, como a formulação com base em aminoácidos digestíveis, pois isso pode encarecer as rações e os clientes não estarão dispostos a pagar sem conhecerem os benefícios que terão.

Rações formuladas com base no balanceamento de nutrientes digestíveis podem conter ingredientes mais nobres, proporcionando muitos benefícios “indiretos”, que podem compensar o preço. Neste sentido, destacam-se:
crescimento mais rápido dos peixes
maior rendimento de filé
melhora na qualidade da água
O que resultará em mais ciclos de produção, bonificações pelo rendimento do pescado, entre outros.

Diante disso, é necessária a união de esforços entre as comunidades técnica, científica, industrial e produtiva, com o objetivo de analisar a viabilidade do uso dessas rações e adequá-las à realidade do setor produtivo. O equilíbrio é essencial para a inovação e o sucesso da atividade.

É compreensível a preocupação dos pesquisadores com o atendimento das exigências nutricionais dos peixes, mas são também justificáveis os objetivos dos fabricantes (atendimento das demandas do mercado) e dos produtores (rações com preços acessíveis e resultados satisfatórios). Juntos, os setores ficarão alinhados ao ponto de os produtores definirem exatamente o que precisam e os fabricantes terem diferentes linhas de produtos para atendê-los.

Para entender a complexidade desse processo é necessário entender como as rações são produzidas e como é determinada a sua qualidade. Assim, torna-se mais fácil para o consumidor saber o que quer e o que precisa.

COMO A RAÇÃO É PRODUZIDA

De forma geral, para elaborar uma ração é necessário conhecer os nutrientes dos ingredientes disponíveis e que são aproveitados pela espécie e a fase de desenvolvimento do peixe em questão.

Deve-se, também, ter conhecimento das exigências nutricionais e da interação nos nutrientes. Assim, é possível fazer a mistura dos ingredientes para fornecer todos os nutrientes necessários ao crescimento dos peixes.

Vale ressaltar que os ingredientes selecionados devem passar por um controle de qualidade e padronização da composição nutricional. Os alimentos devem ser bem conservados e livres de substâncias contaminantes e/ou tóxicas.

O conteúdo nutricional e o custo são determinantes para a seleção dos ingredientes das formulações. De forma geral e resumida, a mistura formulada passa pelo processo de:

Esses processos são complexos e envolvem calor e pressão na formação dos péletes, os quais podem alterar a disponibilidade de nutrientes.

ASPECTOS DA QUALIDADE DE RAÇÕES

A qualidade da ração é avaliada pelos aspectos físicos, químicos e biológicos.




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