Dessa forma, a cunicultura poderia absorver parcial ou integralmente os resíduos da bananicultura, haja vista que todos os coprodutos apresentam reduzido teor de amido e elevado aporte de fibra, essencial à nutrição dos coelhos.
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Avaliação nutricional da folha de bananeira desidratada ao sol para coelhos de corte
A bananeira (Musa paradisiaca) é uma planta de clima tropical, amplamente distribuída no mundo e apreciada na maioria dos países, não apenas pela polpa da fruta mas também pelos coprodutos (fibras da casca, folhas, biomassa…).
De acordo com a FAO (Organização para Alimentação e Agricultura) os quatro maiores produtores de banana do mundo atualmente são: Índia, China, Indonésia e Brasil, sendo que em nosso país o consumo estimado de banana está em torno de 25 kg per capita ao ano.
Considerando que a polpa da fruta é o produto mais nobre e valorizado, direcionado prioritariamente ao consumo humano, os demais resíduos ou coprodutos da bananeira (cascas, folhas, pseudocaule e raízes) acabam representando materiais de descarte, especialmente quando se executa o manejo de desbaste ou eliminação dos rebentos na plantação, mandatório para a produção da próxima safra. O material descartado é frequentemente utilizado com fertilizante orgânico nas propriedades rurais, com baixo valor econômico.
Nesse contexto a Cunicultura, definida como a produção sustentável, racional e econômica de coelhos, destina-se a produção de carne e subprodutos proporcionando baixo investimento e rápido retorno aos produtores. Os coelhos apresentam: [cadastrar]
E esses animais apresentam ceco funcional, isso quer dizer que dependem diretamente da fibra para a sua alimentação, necessitando assim na sua dieta de uma fonte fibrosa. As fontes mais utilizadas são os fenos, dando especial enfoque ao feno de gramíneas (ex: tifton, coastcross e capim estrela) e de leguminosas (ex: alfafa), porém isso eleva o custo de produção.
Dessa forma, a cunicultura poderia absorver parcial ou integralmente os resíduos da bananicultura, haja vista que todos os coprodutos apresentam reduzido teor de amido e elevado aporte de fibra, essencial à nutrição dos coelhos.
Então tem se buscado novas alternativas na alimentação desses animais para baratear a ração, principalmente os resíduos e subprodutos da indústria que em sua maioria apresentam um alto teor de fibra que o coelho consegue aproveitar.
Além disso, tanto a folha da bananeira quanto a casca de bananas apresentam compostos bioativos, sobretudo carotenoides e taninos, cujos efeitos extranutricionais incluem melhoria no sistema imunológico, principalmente devido à ação antioxidante, anti-inflamatória e antimicrobiana.
Ainda assim, os taninos também são conhecidos por possuírem ações como fatores antinutricionais, por complexarem-se com nutrientes como aminoácidos e minerais, reduzindo sua disponibilidade para absorção intestinal.
Outro ponto de preocupação é justamente o efeito antimicrobiano dos taninos presentes na folha de bananeira e na casca de banana, pois embora possam resultar em resposta terapêutica no organismo animal, também podem alterar o complexo ecossistema que habita o ceco e cólon dos coelhos, induzindo a distúrbios intestinais.
Com o objetivo de elucidar essas dúvidas, uma pesquisa de doutorado está sendo realizada no Centro de Estudos em Coelhos – CECO, pertencente à Universidade Estadual de Maringá – UEM, no Estado do Paraná, por meio do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia – PPZ.
Foram obtidas folhas frescas com talos de 20 bananeiras jovens (1 a 3 anos), as quais foram triturados em triturador elétrico de resíduos orgânicos (Trapp®, modelo TR-200), sendo posteriormente distribuídas uniformemente sobre manta de tecido tipo sombrite 80% suspenso em mesa de metal telado, formando uma camada de aproximadamente 2,0 cm.
Figura 1. Esquema ilustrando a obtenção das folhas de bananeira para moagem e desidratação ao sol, seguida de inclusão na ração peletizada fornecida aos coelhos. (Imagens cedidas pelos autores).
Os resultados dessa etapa da pesquisa revelaram que os teores totais de matéria seca, proteína bruta e fibra em detergente ácido obtidos na folha de bananeira desidratada ao sol foram de 95,41; 12,44 e 50,72%; respectivamente.
Os teores digestíveis desses mesmos nutrientes foram de 23,89; 6,45 e 6,33%. Os teores de energia bruta e energia digestível foram de 4.247 e 1.319 kcal/kg, respectivamente (Figura 2).
Figura 2. Teores totais e digestíveis de matéria seca, nutrientes e energia da folha de bananeira desidratada ao sol, para coelhos de corte Nova Zelândia Branco.
Após a obtenção dos valores digestíveis de nutrientes, foram formuladas dietas com níveis de até 10% de inclusão de folha de bananeira para avaliação do desempenho produtivo de coelhos em crescimento.
Figura 3. Peso inicial e peso final de coelhos de corte Nova Zelândia Branco alimentados com rações contendo níveis de até 10% de folha de bananeira desidratada ao sol, dos 35 aos 85 dias de idade.
Os resultados demonstraram que o peso vivo foi similar para todos os níveis avaliados (Figura 3), pois não houve diferença estatística. O mesmo ocorreu com o ganho de peso, consumo diário de ração e conversão alimentar (Figura 4).
O uso de um alimento com alto teor de fibra indigestível para coelhos, como nesse caso, é de grande importância pois de modo geral as rações industrializadas no Brasil dependem de poucas opções disponíveis na agroindústria, com variações ao longo do ano em função de oscilações de safras ou da flutuação nos valores de aquisição.
Figura 4. Ganho de peso diário, Consumo diário de ração e Conversão alimentar de coelhos de corte Nova Zelândia Branco alimentados com rações contendo níveis de até 10% de folha de bananeira desidratada ao sol, dos 35 aos 85 dias de idade.
As principais fontes empregadas são os fenos de gramíneas ou leguminosas, casca de soja ou de arroz, polpa de beterraba e farelo de trigo.
Considerações Finais
Conclui-se que é possível incluir até 10% de folha de bananeira desidratada ao sol em rações para coelhos de corte da raça Nova Zelândia Branco, sem prejuízos sobre o desempenho produtivo.
As próximas etapas dessa pesquisa deverão revelar os efeitos desse ingrediente sobre parâmetros bioquímicos do sangue, características de carcaça, qualidade da carne e características seminais e espermáticas de machos reprodutores.
Referências sob consulta.
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