
Figura 1. Passos para a formulação de ração para monogástricos.
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A formulação de ração para animais não ruminantes de interesse zootécnico, especialmente aves e suínos, segue o mesmo padrão da de ruminantes, entretanto ocorrem diferenças em relação aos passos a serem seguidos em função do atendimento das necessidades nutricionais dos animais. Em termos gerais, a formulação segue os mesmos passos (Figura 1).
Figura 1. Passos para a formulação de ração para monogástricos.
Balancear uma ração implica na mistura de ingredientes coerentes que supram as necessidades proteicas, energéticas e minerais dos animais, visando a máxima eficiência do potencial nutritivo dos ingredientes e da produção dos animais, seja para carne ou ovos.
A melhor forma para apresentar uma formulação é prosseguir para os cálculos na prática, desta forma, exemplificaremos a formulação de ração para suínos, uma atividade que pode ser a realidade de muitos profissionais das Ciências Agrárias.
Formular uma ração para suínos machos castrados de alto potencial genético de desempenho médio, na fase de crescimento (27-50 kg), através de uma dieta baseada em milho, farelo de soja e 10% de farelo de trigo.
1º Passo:
Já categorizamos o animal.
2º Passo:
Através da literatura, vamos determinar a necessidade nutricional do animal:
PB, proteína bruta; EM, energia metabolizável; Pd, fósforo disponível; Ca, cálcio; Na, sódio; Lis. Dig., lisina digestível; M+C Dig., metionina + cisteína digestível; Treo. Dig., treonina digestível. Fonte: Rostagno et al. (2024), p. 424.
3º Passo:
Uma vez determinada as necessidades nutricionais do animal, procedemos a tabela de composição dos ingredientes disponíveis para a formulação:
4º Passo:
De posse das necessidades nutricionais do animal e da composição dos ingredientes disponíveis procedemos aos cálculos, porém, antes devemos esclarecer algumas ideias:
1 – Fixamos 10% de farelo de trigo (FT), dessa forma, devemos saber os nutrientes contidos nesta quantidade para seguir para a formulação;
2 – O espaço reserva (ER), essencial para a inclusão de ingredientes complementares como o óleo de soja, que servem para fechar a ração, será de 6% neste exemplo;
3 – Deixaremos um espaço reservado de 0,5% para a inclusão de premix mineral-vitamínico específico para suínos nesta fase.
Calcularemos os nutrientes contidos em 10% de FT na ração:
O cálculo para montar a tabela acima leva em consideração a % de inclusão e a % da composição do nutriente, por exemplo, determinando a EM em 10% de inclusão do FT teremos:
2370 kcal/kg ———- 100%
X kcal/kg ———- 10%
Logo, X = 2370 x 10/100 = 237 kcal/kg.
5º Passo:
Temos 10% de FT e 6,5% de ER, então o milho (M) e o farelo de soja (FS) serão incluídos em 83,5%, dessa forma deveremos corrigir a PB da ração:
PB necessária = 14,19
PB do FT = 1,52, PB a ser corrigida = 14,19 – 1,52 =
12,67 em 83,5% para o M e FS, logo:
12,67/83,5% = 15,17% (PB a ser calculada no quadrado de Pearson)
6º Passo:
Prosseguimos com os cálculos, agora utilizando o quadrado de Pearson para balancear a PB da ração:
Encontramos a % dos ingredientes através do cálculo:
Milho: (30,43 x 83,5)/37,74 = 67,32%
FS: (7,31 x 83,5)/37,74 = 16,18%
A soma dos dois ingredientes é 83,5%, conforme solicitado anteriormente.
7º Passo:
Conferir os nutrientes contidos no milho e FS para determinar o déficit nutricional para prosseguimento dos cálculos de balanceamento dos demais nutrientes:
Do passo 7, encontramos deficiência de 7 nutrientes, dessa forma, os próximos passos são o balanceamento destes nutrientes através da composição dos ingredientes pertinentes em função do ER. No final dos cálculos, montamos a tabela final da ração balanceada.
8º Passo:
Balanceamento da energia com óleo de soja:
EM do óleo: 8300 kcal/kg ———- 100%
Déficit: 234 kcal/kg ———- X %, logo:
X = 2,82% de óleo de soja.
A quantidade de óleo está dentro da faixa preconizada para suínos em crescimento que é de 2 a 5% (Rostagno et al., 2024. p. 186).
9º Passo:
Balanceamento do fósforo com fostato bicálcico (FB):
P do FB: 18,5% ———- 100%
Déficit: 0,177% ———- X %, logo:
X = 0,96% de FB.
10º Passo:
Balanceamento do cálcio através do FB e do calcário:
Ca do FB: 24,5% ———- 100%
Déficit: X % ———- 0,96%, logo:
X = 0,235% de Ca no FB.
Ca: 0,076 mistura + 0,235 FB = 0,311
Novo déficit do Ca: 0,654 – 0,311 = 0,267, então utilizaremos o Calcário:
Ca do CC: 37,7% ———- 100%
Déficit: 0,343% ———- X %, logo:
X = 0,91% de Calcário calcítico.
11º Passo:
Balanceamento do sódio através do sal comum:
Na do sal: 39,7% ———- 100%
Déficit: 0,175% ———- X %, logo:
X = 0,44% de sal comum.
12º Passo:
Balanceamento da lisina através da L-Lisina-HCl:
Lisina: 78,5% ———- 100%
Déficit: 0,407% ———- X %, logo:
X = 0,52% de L-Lisina-HCl.
13º Passo:
Balanceamento da metionina + cisteína através da DL-Metionina:
Metionina: 99% ———- 100%
Déficit: 0,178% ———- X %, logo:
X = 0,18% de DL-Metionina.
14º Passo:
Balanceamento da treonina através da L-Treonina:
Treonina: 98,5% ———- 100%
Déficit: 0,222% ———- X %, logo:
X = 0,22% de L-Treonina.
15º Passo:
Montar a tabela com o resultado final da ração:
Tome nota: Essa formulação leva em consideração a matéria seca dos ingredientes, caso queira formular com base na matéria natural, consulte a tabela de composição dos ingredientes e proceda o cálculo.
O consumo de ração por animal está estimado em 1,63 kg/dia. Se tomarmos a gerência da alimentação de um rebanho de 150 animais, o consumo diário do lote será 244,5 kg/dia, para bater uma ração para o lote que dure uma semana, a quantidade será 1711,5 kg/dia, mas devemos nos lembrar da sobra, levaremos em consideração 15% de sobras, então a batida de ração será de 1970 kg, na fábrica a quantidade de ingredientes a serem misturados será:
Na próxima edição, abordaremos a formulação de ração para ruminantes.
Referências sob consulta junto ao autor.