Incerteza sobre grãos leva produtores a utilizarem o milheto

27 Feb 2023

Incerteza sobre grãos leva produtores a utilizarem o milheto

“O Ano do Milheto” é uma iniciativa para resgatar uma cultura com maior tolerância a solos pobres, secas e condições adversas de cultivo.

Enquanto outras pessoas em seu vilarejo no Zimbábue sofrem por uma safra de milho que parece fadada ao fracasso, Jestina Nyamukunguvengu pega uma enxada e corta o solo em seus campos verdejantes cobertos por uma plantação de milheto-pérola no árido distrito de Rushinga.

“Essas plantações não são afetadas pela seca, florescem rapidamente, e essa é a única maneira de vencermos a seca”, disse a mulher de 59 anos, com um largo sorriso. O milheto, incluindo o sorgo, agora ocupa mais de dois hectares de sua terra – uma área onde o milho já foi o cultivo perfeito.

Agricultores como Nyamukunguvengu, nos países em desenvolvimento estão na linha de frente de um projeto proposto pela Índia que levou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, FAO, a batizar 2023 como “O Ano do Milheto”, uma iniciativa para resgatar uma cultura que vem sendo cultivada há milênios, mas foi deixada de lado pelos colonizadores europeus, que deram preferência ao milho, ao trigo, e a outros grãos.

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A escolha é oportuna:

Tudo isso deu um novo ímpeto aos grãos e outros alimentos básicos alternativos e de cultivo local, como o milheto.

O millheto tem muitas variedades, como capim coracana, fonio, sorgo, e tefe, usado no esponjoso pão injera, conhecido pelos fãs da culinária etíope. Os defensores elogiam as espécies de milheto por serem saudáveis – podem ser ricas em proteínas, potássio e vitamina B, e a maioria delas não contém glúten. Além disso, são versáteis, úteis em quase tudo, desde pão, cereal e cuscuz, até pudim e cerveja.

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Ao longo dos séculos, os milhetos foram cultivados em todo o mundo, em lugares como Japão, Europa, Américas e Austrália, mas tradicionalmente seus epicentros foram Índia, China e África subsaariana, segundo Fen Beed, coordenador para sistemas de mecanização e cultivos rurais e urbanos na FAO.

O milheto responde por menos de 3% do comércio global de grãos, segundo a FAO (Universal Image/Getty Images)

O milheto tem mais tolerância a solos pobres, secas e condições adversas de cultivo, e pode se adaptar facilmente a diferentes ambientes sem altos níveis de fertilizantes e pesticidas. Ele não precisa de tanta água quanto os outros grãos, o que o torna ideal para lugares como a árida região africana do Sahel, e as raízes profundas de variedades como o fonio podem ajudar a mitigar a desertificação, o processo que transforma solo fértil em deserto, normalmente em razão de seca ou desmatamento.

“O fonio é apelidado de plantação do agricultor preguiçoso, de tão fácil que é de cultivar”, diz Pierre Thiam, chef executivo e cofundador da rede de restaurantes finos e casuais Teranga, com sede em Nova York, que oferece culinária da África Ocidental. “Quando chega a primeira chuva, os agricultores só precisam sair e praticamente jogar as sementes de fonio. (…) Eles mal têm que arar o solo. E é também uma cultura de rápido crescimento: ela pode amadurecer em dois meses”, disse ele, reconhecendo que nem tudo é fácil: “Processar o fonio é muito difícil. É preciso remover a casca para que se torne comestível.”

O milheto responde por menos de 3% do comércio global de grãos, segundo a FAO. Mas o cultivo está crescendo em algumas regiões áridas. No distrito de Rushinga, as terras cultivadas com milheto quase triplicaram na última década. O Programa Mundial de Alimentos da ONU enviou dezenas de trilhadeiras e ofereceu pacotes de sementes e treinamento para 63.000 pequenos agricultores em áreas propensas à seca na última safra.

Baixa pluviosidade e altas temperaturas nos últimos anos, em parte devido às mudanças climáticas, em conjunto com os solos pobres, diminuíram o interesse pelo milho, que consome muita água.

“Você descobre que aqueles que cultivaram milho são os que estão buscando auxílio alimentar, e aqueles que cultivaram sorgo ou milheto-pérola ainda estão comendo seus grãozinhos“, disse Melody Tsoriyo, agrônoma do distrito, fazendo referência aos pequenos grãos como o milheto, cujas sementes podem ser finas como areia. “Prevemos que, nos próximos cinco anos, os pequenos grãos devem superar o milho.”

Equipes do governo no Zimbábue se espalharam para as regiões rurais remotas, inspecionando as plantações e oferecendo assistência especializada, como grupos de WhatsApp para disseminar conhecimento técnico entre os agricultores.

O porta-voz do PMA, Tatenda Macheka, disse que o milheto “está ajudando a reduzir a insegurança alimentar” no Zimbábue, que por muito tempo foi um celeiro do sul da África, e onde aproximadamente um quarto da população de 15 milhões de pessoas agora vive sem saber de onde virá sua próxima refeição.

Thiam, o chef que vive nos EUA, tinha lembranças de comer fonio quando era criança, na região de Casamance, no sul do Senegal, mas se preocupava porque o alimento normalmente não estava disponível em sua cidade natal, a capital do país, muito menos em Nova York. Ele admitiu que chegou a ter “ingenuamente” sonhos de transformar o alimento, conhecido na área rural do Senegal como “grão da realeza” e servido aos convidados de honra, em uma “cultura de classe mundial”.

Ele reduziu um pouco essas ambições, mas ainda vê futuro nos pequenos grãos. “É realmente incrível que um grão como esse possa ter sido ignorado por tanto tempo”, disse Thiam em uma entrevista em sua casa, em El Cerrito, no Estado da Califórnia, para onde se mudou para ficar mais perto da esposa e sua família. “Já passou da hora de integrá-lo à nossa dieta.”

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