Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, o cientista político americano Francis Fukuyama trouxe a sua visão sobre o “fim da história” e um futuro marcado pelo avanço progressivo da ordem liberal internacional, baseada em democracia, livre comércio e interação pacífica entre as nações. Acontecimentos recentes jogaram essas previsões por água abaixo. O avanço da Otan para dentro da esfera da antiga União Soviética provocou uma forte reação da Rússia, que em 2014 respondeu à queda do presidente da Ucrânia aliado, Viktor Yanukovych, com a ocupação e anexação da Crimeia.
No trigo, a Rússia e a Ucrânia respondem por cerca de um quarto do comércio mundial. Vale destacar também que os dois países vêm aumentando rapidamente a produção de soja e derivados, com as exportações de óleo de soja crescendo 18% ao ano desde 2010. Eles são fortes concorrentes potenciais do Brasil nos mercados mundiais de soja e milho, sob a batuta da China, que tenta reduzir a sua dependência em relação aos produtores das Américas. O conflito pode exacerbar a já alta inflação de alimentos no Oriente Médio e no Norte da África, região que depende fortemente da importação de produtos agrícolas. Os distúrbios da Primavera Árabe ilustram as consequências da insegurança alimentar nessa parte turbulenta do mundo. A região pode sofrer com um aumento ainda maior nos preços agrícolas, hoje já elevados, já que a Rússia e a Ucrânia respondem por cerca de 50% das suas importações de trigo.As relações entre a Rússia e a Ucrânia vêm do século IX, na origem comum da chamada “Rússia de Kiev”, uma confederação de tribos eslavas do Leste Europeu que se estendia do mar Báltico ao mar Negro. Como parte da antiga Rússia czarista, a Ucrânia esteve entre os membros fundadores da União Soviética, em 1922. Nos anos 1930, mais de 7 milhões de ucranianos morreram de fome no chamado desastre Holodomor, provocado pelo confisco de grãos daquele país para alimentar as políticas stalinistas de industrialização forçada.
A fome vivida pelo povo ucraniano contrasta com as condições extremamente favoráveis de produção agrícola daquele país, onde predominam terras planas e escuras, conhecidas pela sua riqueza em matéria orgânica. Essas terras foram cobiçadas pela Alemanha nazista quando Hitler invadiu a União Soviética, em 1941, e depois serviram como celeiro para alimentação da população soviética.
Após a desintegração da União Soviética, o setor agropecuário ganhou importância no cenário de colapso industrial da Ucrânia. O quadro abaixo ilustra o crescimento na produção de alguns cereais e oleaginosas.
É pouco provável que uma invasão provoque mudanças imediatas nas importações agroalimentares da Rússia. Em 2014, em resposta às sanções de países ocidentais, a Rússia adotou uma política de substituição de importações. Respaldada por subsídios e por uma rápida modernização da sua agricultura, atingiu a quase autossuficiência em proteínas animais, chegando a exportar alguns desses produtos, como carne bovina e suína. Na carne de aves, os dois países já responderam por 4,5% do comércio mundial.
No curto prazo, portanto, de um lado vemos uma ameaça à segurança alimentar de diversos países que dependem de importações. De outro, produtores de grãos de concorrentes da Ucrânia e da Rússia, como é o caso do Brasil, podem se beneficiar do aumento de preços e participação de mercado nas cadeias de milho, trigo e soja. |
Com quase 100 milhões de hectares de terras agricultáveis, e com a mudança climática já deixando novas áreas para a agricultura abertas na Sibéria, a Rússia detém um grande potencial inexplorado para cobrir parte da pujante demanda chinesa por alimentos. Ao Brasil interessa particularmente acompanhar a relação entre a Rússia e a China no agro, sendo que a primeira vai se transfigurando de cliente a concorrente.
Assine agora a revista técnica de nutrição animal
Retrospectiva 2022 e perspectivas do setor de nutrição animal em 2023
Pedro VeigaRecorde de público e aceitação, SIAVS supera expectativas e fomenta negócios
Juliano RangelEstratégias nutricionais para mitigar o estresse térmico em matrizes suínas
Marcelo Dourado de LimaImportância do processamento térmico do farelo de soja para a nutrição de aves
Vivian Izabel VieiraNutracêuticos na dieta de cães e gatos
Mel Suzane Santos MarquesO planejamento e manejo como arma para eficiência nutricional na piscicultura
Lucas Gustavo Rodrigues PimentaDDGS: conhecer a produção para otimizar a aplicação
Ines AndrettaStreptococcus suis, como enfrentar esse desafio?
Glaiton MartinsA arte da higiene de rações
Michael NoonanA pecuária como agente mitigador da emissão dos gases de efeito estufa
Thainá Pereira da Silva CabralESCUTE A REVISTA EM agriFM