
O primeiro a contar sua experiência foi Antônio Pitangui de Salvo, de Minas Gerais, que trouxe a visão do pecuarista. Além de produtor rural, Toninho, como é conhecido no setor agropecuário, é agrônomo, presidente da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da CNA, presidente da Câmara Setorial da Carne Bovina do MAPA, vice-presidente da FAEMG e presidente do Sindicato de Curvelo.
Sua fala ressaltou a premissa de que o futuro do agronegócio é utilizar, de forma inteligente, todos os recursos disponíveis e os sistemas de ILPF são um destes caminhos, garantindo a sustentabilidade. Suas fazendas ficam em Minas Gerais, em uma região de regime pluviométrico irregular, o que interfere diretamente na escolha dos cultivos a serem feitos.

Além da escolha do componente de lavoura e de floresta adequados à região, as fazendas que administra apostaram também em genética de animais diferenciada. “Com isso, potencializamos a lucratividade do sistema tanto pra leite quanto carne”. As propriedades trabalham dentro do protocolo Carne Carbono Neutro (CCN), o que também traz benefícios na hora da comercialização. “Acreditamos nisso e, também, está em discussão a criação de uma genética carbono neutro, criada em ambiente totalmente sustentável”, explica.

Outro ponto ressaltado é a possibilidade de tranquilidade financeira com a diversificação de atividade: genética na bovinocultura, lavoura e madeira. “Temos opção de renda diferenciada”, avalia. Fato importante é que, na experiência do produtor, a partir do segundo ou terceiro ano de implantação, acontece a inversão da curva de investimento X retorno financeiro. “Está paga a conta da implantação do componente florestal e da recuperação do solo e pode-se continuar investindo na proteção e fertilidade do solo, na genética do gado, entre outros fatores”, finaliza.

Produção e pesquisa científica no mesmo espaço
O segundo palestrante do dia foi Abílio Pacheco, pesquisador da Embrapa Florestas e proprietário da Fazenda Boa Vereda, em Goiás, que trabalha com sistemas de integração há mais de dez anos e trouxe a experiência tanto de pesquisador quanto de produtor rural. “Acredito na ILPF como sistema inovador, com viés de sustentabilidade muito forte”, atesta.
Pacheco conta que a fazenda estava produzindo pouco, com baixa produtividade e contava com duas opções: arrendar para produção de cana de açúcar ou aprender mais sobre um novo sistema produtivo. A pergunta era: como mudar o sistema convencional para ILPF? A escolha foi por entender que poderia produzir mais, não só em produtividade do gado de corte, mas com diversificação de atividades e sustentabilidade.

Como pesquisador, Pacheco estudou e avaliou o melhor arranjo de árvores para as condições da Fazenda, que hoje trabalha com linhas simples. Desta forma, explica, é possível, por exemplo, retirar uma linha de árvores se quiser alternar com algum tipo de cultivo de grãos e, com isso, não ter problemas para preparo de solo, passar maquinário, etc.
Pacheco afirma que a sustentabilidade ambiental é um dos principais pontos positivos dos sistemas ILPF, mas que vários outros pontos são importantes, como conforto térmico animal, melhoria da pastagem, produção de matéria-prima para energia renovável com a madeira, entre outros. “A humanidade tem o desafio de produzir hoje, mas também garantir a produção de gerações futuras e a ILPF faz isso. Certamente está entre os sistemas do futuro”.

Pacheco não deixou de abordar o componente humano em sua palestra. Além de se mostrar um entusiasta da tecnologia, falou sobre a importância dos recursos humanos: “Pessoas bem-humoradas trabalham bem”, ressaltou.
O II Congresso Mundial sobre Sistemas ILPF ocorreu em 4 e 5 de maio, de forma virtual, e contou com 30 palestras e apresentação de 156 trabalhos científicos, reunindo cerca de 1.300 participantes. O evento foi promovido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Embrapa, Rede ILPF, Federação de Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul e Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul.