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23 Jul 2020

Viabilidade de sistemas de recuperação de pastagens degradadas em solos arenosos

O Brasil é um importante agente na produção de carne bovina mundial. No entanto, em relação à pecuária de corte, o país ainda é apontado como de baixa produtividade média e detentor de grande extensão de pastagens degradadas.
Um dos motivos que contribui para uma produtividade aquém do ideal é que uma importante área de pastagens do país está localizada no bioma cerrado, onde predominam solos arenosos de baixa fertilidade natural, com alto teor de alumínio e baixa capacidade de retenção de água. Além disso, ainda se encontra a produção pecuária extrativista no país em diversas regiões, em que apenas é plantada a forrageira capim sem que haja um manejo adequado e uma reposição dos nutrientes no solo, o que reduz a produtividade e a persistência do pasto.
A forma tradicional de recuperar pastagens é através do replantio das mesmas, sendo que, na maioria das vezes, este é realizado sem correção ou adubação do solo. No entanto, novos métodos de produção de bovinos e recuperação de pastagens têm sido desenvolvidos por produtores e instituições de pesquisa. Um destes métodos visa integrar a produção agrícola com a pecuária, para aumentar a capacidade produtiva dos solos e diversificar a produção. A Integração Lavoura Pecuária (ILP) é uma forma já consolidada de recuperação de solos e da capacidade produtiva das pastagens.
Para que o sistema de recuperação de pastagens em solos arenosos seja implementado, o mesmo precisa ser economicamente viável para o produtor, ou seja, os benefícios da implementação têm que ser maiores do que os seus custos. A partir disso, buscou-se analisar se os sistemas de condução/recuperação de pastagens em solos arenosos são viáveis. Para tal, foram considerados três sistemas produtivos alternativos:

  • Sistema de produção em pastagens degradadas de baixa produtividade;
  • Sistema com reforma de pastagens com uso de corretivos e fertilizantes a cada oito anos e anualmente adubação de manutenção dos pastos; e
  • Sistema ILP São Mateus.

O sistema ILP São Mateus, de acordo com a Embrapa(1) consiste em um sistema integrado, aliando lavoura e pecuária, por meio da rotação de culturas e foi desenvolvido para solos arenosos, com o objetivo de recuperar pastagens e produzir soja. Assim, primeiramente, realiza-se o plantio da braquiária com solo corrigido e fertilizado para melhorar as características físicas do solo e, assim, permitir a implantação de soja em plantio direto e, posteriormente, plantio de capim com uso de dois anos.
Para realizar a análise de viabilidade econômica foi utilizada a abordagem de fluxo de caixa descontado (FCD), o qual relaciona o valor do projeto a ser desenvolvido ao valor dos fluxos de caixa futuros esperados, descontados a uma taxa que reflita o risco relacionado ao negócio. A partir do FCD, foi calculado o Valor Presente Líquido (VPL) e o Fluxo de Caixa Livre (em R$ por hectare) de cada projeto.
Para os três sistemas, considerou-se como cenário base de referência o pasto degradado com produção em área total de 1.050 hectares e com produtividade animal de 5 arrobas por hectare anualmente. A análise de receitas e despesas e seu respectivo fluxo de caixa foi realizada para um horizonte de 20 anos de projeto e a Taxa de Retorno esperada pelo produtor foi a Taxa Selic vigente no final de 2017 (6,75% a.a.).
O modelo integrado utilizando o Sistema São Mateus apresentou o maior retorno econômico em relação aos demais arranjos produtivos, com um VPL 120% superior ao do modelo de referência, o de pastos degradados.
Porém, nos cenários elaborados, o pasto recuperado via reforma de pastagens possui pior VPL quando comparado à produção em pastos degradados. Isso acontece a despeito da adubação de pastagens, o que permite supor duas explicações: (i) as premissas de produtividade do modelo de pasto recuperado, via reforma de pastagens e adubação, foram subestimadas na análise dos benefícios, e/ou (ii) nas condições produtivas e mercadológicas adotadas, a adubação de pastagens realmente é inviável, uma vez que apenas sob a hipótese de aumento em 30% na produtividade assumida, ou de 10% nos preços do boi gordo, o modelo se tornaria viável.
Resumo dos indicadores obtidos nos sistemas analisados

Fonte: autores
*Fluxo de Caixa Livre por hectare médio do ano 5 ao ano 20.
** Menor fluxo de caixa acumulado entre os anos 0 e 4.
Os resultados permitem concluir que, em solos arenosos em regiões com clima instável com presença de veranicos, o sistema iLP São Mateus mostrou-se uma boa alternativa. Resta responder a questão: por que os produtores não adotam esse sistema?
Uma das respostas é a complexidade de um sistema integrado de pecuária e de produção agrícola. Ou seja, o pecuarista tradicional não possui, ou não tem interesse, na capacidade gerencial demandada pelo sistema integrado. Outros fatores são: (i) menor disposição a correr riscos; (ii) falta de conhecimento técnico necessário e, por último, e talvez um dos principais entraves; (iii) o elevado capital necessário para implementar o sistema.
A necessidade de capital para implantar o sistema integrado é 17 vezes maior que na pastagem degradada, uma vez que o sistema integrado necessita de quase R$ 2,4 milhões nos primeiros anos para investir na área aqui considerada. Ao considerar um produtor que possui pastos degradados, sua renda livre (renda que sobrou depois de pagar tudo o que é obrigatório) é de R$ 69 por hectare, se esta for a atividade econômica única do produtor. Dessa forma, a chance de ele possuir todo este capital para investimento é muito baixa e, apesar de existirem opções de financiamento, há a dificuldade para um produtor de pequeno porte obter financiamento a custos competitivos.
Portanto, é clara a atratividade dos sistemas integrados em relação aos sistemas tradicionais, no entanto, o produtor ainda tem muitas dificuldades em sua implementação, tanto de ordem técnica, como de ordem financeira, o que explica a baixa adoção desses sistemas.
(1) https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/160609/1/CT-2017-40-online.pdf

Autores:

Paulo Henrique Peres Verdi: Mestre em Agronegócio, Fundação Getulio Vargas
Roberta Possamai: Mestra em Agronegócio, Fundação Getulio Vargas
Durval Dourado Neto: Professor Titular, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – ESALQ/US

 

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