O Brasil está entre os países de maior potencial aquícola por ser um país de clima tropical, e apresentar grande abundância de água ideal para o cultivo. Assim, o país se tornou um dos 10 maiores produtores de tilápia no mundo, e em 2021, foram produzidas 534.005 toneladas do peixe no país, tendo a produção de tilápia respondido por 63,5% da produção nacional de peixes de cultivo, sendo o estado do Paraná o grande produtor e o responsável por 182.000 toneladas.
A grande demanda de mercado contribui para o aumento da tilapicultura e isso se deve a características que a espécie possui, destacando-a no mercado, tais como:
Apesar destas vantagens a tilápia apresenta um baixo rendimento de filé, entre 30 e 40%, e assim sua produção acaba gerando um grande montante de resíduos na filetagem, sendo considerado como um fator indesejável na produção, fazendo com que as indústrias disponham de alternativas para o descarte ou reutilização destes resíduos, que respondem por cerca de 70% da tilápia garantindo assim sua produção (Vidotti et al., 2011; Souza et al., 2017). [cadastrar]
Resíduos do beneficiamento da tilápia e sua utilização pela indústria
No Brasil, a utilização destes resíduos de tilápia tem se tornado cada vez mais importante, pois a indústria pesqueira os transforma basicamente em subprodutos como a farinha, o óleo e a silagem de peixe para a alimentação animal, sendo essa uma ótima fonte proteica na ração de peixes e animais pet (Vidotti et al., 2011; FAO, 2014) e a melhor alternativa para diminuir os resíduos que ainda poderiam restar, quando comparados à reutilização na indústria de alimentação humana (Yano et al., 2008).
Os subprodutos da pesca e da aquicultura incluem todas as partes de peixes cultivados e capturados (cabeça, barbatanas, escamas, pele, ossos e vísceras) e mariscos crustáceos (carapax, exoesqueleto, concha, detritos) removidos durante o processamento (filetagem, enlatamento e embalagem).
Esses subprodutos são ricos em macro e micronutrientes e seu aproveitamento pode resultar na produção de farinha e óleo de peixe para uso na alimentação animal (Gasco et al., 2020). No caso da tilápia a produção de resíduos após a sua filetagem responde a cerca de 70% do animal.
A farinha de peixe, segundo o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos Produtos de Origem Animal, é tida como o resultado final da cocção de resíduos da indústria pesqueira a altas temperaturas, cozimento, prensagem e secagem, a fim de um produto final seco e sólido (RIISPOA, 1952; Vidotti et al., 2006; Nunes, 2011).
Obter uma farinha de boa qualidade exige inúmeros processos desde o cozimento até a prensagem e secagem que acarretam em produtos finais de inúmeros tipos e classificações, dependendo de como o processo foi realizado. Basicamente 80% do resíduo após o cozimento é composto por água, ou seja, após o cozimento e prensagem, há um rendimento de aproximadamente 20% de matéria seca e nutrientes em relação ao volume inicial, podendo-se dizer que a cada 100 kg de resíduos, obtém-se 20 kg de farinha (FAO, 2016).
A utilização dos resíduos em forma de farinha se deve principalmente pela sua composição química, uma vez que estas são altamente proteicas e digestíveis e possuem em sua composição ácidos graxos encontrados em grandes quantidades nos peixes, como é o caso do ácido eicosapentanoico (EPA) e o ácido docosahexanoico (DHA), são palatáveis, além possuírem vitaminas como A e D e minerais como cálcio, fósforo, ferro, zinco, entre outros (Olsen et al., 2012).
A palatabilidade é muito importante nas dietas para gatos. Por serem animais seletivos, a combinação entre o odor e o sabor do alimento é também de extrema importância para os gatos, uma vez que, em um teste de palatabilidade com dois alimentos distintos, se o odor de um deles não for atraente o suficiente para sua escolha, eles irão consumir ambas as dietas para decidirem a preferência. (Zaghini et al., 2005; Boom e Frazer, 2010; Koppel, 2014).
As farinhas produzidas a partir da carne mecanicamente separada (CMS) de tilápia possuem a mesma linha de processamento das farinhas de peixe convencional e farinhas de carcaça de peixe, porém são feitas apenas com os resíduos cárneos remanescentes das carcaças e aparas após a filetagem, tais como tecido muscular e gordura, que podem constituir até 14% do peso do peixe (Costa et al., 2016; ABINPET, 2017). As carcaças são passadas por uma máquina de despolpar onde o restante de músculo preso aos ossos é separado e utilizado como matéria-prima para a preparação das conhecidas farinhas de CMS de peixe.
O fato da farinha de CMS de peixe apresentar baixos teores de minerais em sua composição faz com que ela possa ser comparada a algumas farinhas calcinadas como as de ossos, ostras e camarão, pois ambas podem ser alternativas para a substituição de macrominerais em altas ou baixas concentrações como o calcário e o fosfato.
Estudo
Quando comparada com outras duas farinhas de origem animal: uma farinha de vísceras de aves e uma farinha obtida a partir de carcaças de tilápia, a farinha de CMS apresentou os melhores resultados na maioria dos parâmetros avaliados, principalmente pelo alto nível de proteína bruta (PB = 699,0g/kg) (Bronharo et al.) estando também de acordo com Manual Pet Food Brasil – ABINPET (2017), que caracteriza que farinhas de peixe devem conter um mínimo de 620,0g/kg de proteína bruta.
- Apesar da farinha de CMS possuir atributos sensoriais e de composição satisfatórios para sua utilização, em sua fabricação o rendimento é baixo em relação às outras farinhas de origem animal, pois ao submeter a carcaça à máquina de despolpar, a quantidade de resíduos cárneos remanescentes é de cerca de 15%, podendo diminuir ainda mais após secagem do CMS em estufa (Vidal et al., 2011; Chambo, 2018).
Deste modo, há necessidade de se avaliar a viabilidade econômica da produção deste resíduo e se sua produção e comercialização são satisfatórias.
Como vimos, esse tipo de produto ainda é novidade no mercado de alimentos para animais de companhia, portanto há escassez de dados a respeito da sua utilização.
O que se entende é que quando comparada às farinhas de peixe convencional, elas possuem, no geral, maiores teores de proteína bruta e lipídeos (em torno de 70% e 15%, respectivamente) e baixos níveis de minerais (cerca de 4%), fato que a identifica como uma farinha low ash, sendo de grande interesse para algumas empresas especializadas em alimentos para pets visando sua utilização como matéria prima em formulações. (Vhile et al., 2005; Vidal et al., 2011; Chambo, 2018).
Bronharo et. al, também evidenciaram nas análises de matéria mineral que ela pode ser considerada low ash, pois seus teores foram de apenas 53,6g/kg e mais baixos do que as demais farinhas, estando este valor dentro dos padrões para farinhas low ash que deve ser de menos de 110,0g/kg (Yamka et al., 2003; Aldrich, 2006; Carciofi, 2008a; Vasconcellos et. al., 2009).
Além disso, de acordo com França et al. (2011), vale ressaltar a necessidade dietética do ácido graxo poliinsaturado araquidônico para gatos, devido a deficiência enzimática nesta espécie. E dentre os ingredientes analisados, a farinha de CMS apresentou maior percentual desse ácido graxo (0,66).
O uso dessas alternativas em formulações de alimentos para gatos domésticos pode ser uma realidade, pois além de sua composição química ser semelhante às farinhas convencionais elas ainda apresentam baixos níveis de minerais quando comparadas às demais matérias-primas utilizadas, o que caracteriza serem boas alternativas em alimentos para essa espécie que, como dito anteriormente, apresenta inúmeras particularidades quanto ao uso de minerais na dieta e a sua preferência alimentar.
Referências sob consulta
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