23 May 2025
Aquaponia: Sistema de criação sustentável de tilápias e hortaliças
A aquaponia é um sistema inovador de cultivo e produção de alimentos que concilia a piscicultura (cultivo de peixes) e a hidroponia (cultivo de plantas em água, sem solo). Essa técnica cria um ecossistema sustentável em que os peixes e as plantas se beneficiam mutuamente, formando um ciclo de nutrientes e água. O componente “aqua” deriva da “aquicultura”, que se refere à prática de criar peixes e outros alimentos marinhos, enquanto “ponia” tem origem em “hidroponia”, que é o cultivo de plantas na água, sem o uso de solo.
Os peixes são criados em tanques, e ao serem alimentados com rações, eles produzem excretas que são ricas em amônia, com a ação de bactérias ocorre a conversão da amônia em nitrito e, em seguida, em nitrato, que é um nutriente essencial para as plantas, elas absorvem os nitratos e outros nutrientes da água, purificando-a para que possam ser devolvidas aos tanques dos peixes. A água é continuamente reciclada entre os tanques de peixes e as camas de cultivo, criando um sistema que utiliza significativamente menos água do que uma agricultura convencional.
A interação entre a criação de peixes com o cultivo de hortaliças e outras culturas em um sistema fechado, simplifica a produção de alimentos, e oferece uma série de benefícios ambientais, econômicos e nutricionais,contribuindo para a segurança alimentar, redução de impactos ambientais, aproveitamento de recursos hídricos, geração de renda, inovação e tecnologia e o desenvolvimento econômico.

Em resumo, a aquaponia no Brasil apresenta um enorme potencial para enfrentar desafios sociais e ambientais, promovendo uma agricultura mais sustentável e contribuindo para o desenvolvimento econômico das comunidades.
A tilápia é de grande importância para a cultura brasileira, devido ao seu papel na piscicultura do país. De acordo com o artigo publicado pela Revista de Extensão UENF, “A ascensão da tilápia no Brasil” em 2022, as exportações de tilápia representaram 98% do total da piscicultura brasileira.
A espécie foi introduzida experimentalmente no país na década de 1950, mostrando rapidamente um crescimento na economia no Brasil. Este peixe, tornou-se parte significativa da aquicultura brasileira, colaborando para uma melhor segurança alimentar e crescimento econômico. Se tornando muito atrativo no mercado de peixes devido a qualidade da proteína, preço acessível e facilidade de preparo.
A piscicultura é uma atividade que pode ser realizada de várias formas, cada uma com suas particularidades, vantagens e desvantagens. Os sistemas de produção são divididos em extensivo, semi-intensivo, intensivo e superintensivo. Cada um desses sistemas atende a diferentes necessidades e objetivos dos produtores, e a escolha do mais apropriado pode influenciar significativamente tanto a produtividade quanto a viabilidade econômica da atividade.
Um dos maiores desafios na aquicultura é o destino dos dejetos dos animais. Em ambientes aquáticos, os resíduos de ração e fezes tornam a água dos tanques e viveiros eutrofizados, podendo levar à toxicidade da água devido ao aumento dos níveis de compostos nitrogenados e fosfatados.
Com a utilização da aquaponia, podemos proporcionar uma produção mais sustentável, promovendo a reutilização total da água para evitar desperdícios e reduzir a liberação de efluentes no meio ambiente. Nesse sistema, uma vez abastecido e em pleno funcionamento, pode permanecer indefinidamente sem a necessidade de troca de água, bastando apenas repor a água perdida pela evaporação e pelas plantas.
A recirculação de água entre os cultivos envolve o uso de substratos provenientes da produção dos peixes para promover o crescimento de hortaliças, prevenindo o acúmulo da amônia tóxica excretada pelos animais na água. Esse processo permite a conversão aeróbia por meio da ação de microrganismos, que são absorvidos pelas raízes das plantas, o que auxilia no seu desenvolvimento. Isso possibilita a redução do uso de fertilizantes industriais e diminui a necessidade de defensivos agrícolas, enquanto mantém a água limpa e oxigenada, favorecendo o crescimento saudável dos peixes.

- Esse sistema de aquaponia mantém um fluxo constante de nutrientes entre a hidroponia e a aquicultura, por meio de ciclos biológicos naturais. Um desses ciclos é a nitrificação, realizada por bactérias nitrificantes, como nitrosomonas e nitrobacter, que convertem a amônia (NH3) em nitrito (NO2–) e, em seguida, em nitrato (NO3–), tornando essas substâncias menos tóxicas para as plantas. Ao absorver esses nutrientes, as plantas, juntamente com as bactérias, desempenham um papel crucial na filtragem da água, que retorna aos peixes, no qual garante condições adequadas para seu crescimento. Essa abordagem resulta na produção de alimentos com menor consumo de água e no aproveitamento eficiente dos resíduos orgânicos gerados, representando uma alternativa menos impactante para o meio ambiente na produção de peixes e também de vegetais.
De modo geral, esse sistema é composto principalmente por tanques para criação de peixes, bancadas de hidroponia e filtros para o tratamento da água. Os tanques dos peixes são conectados a um módulo de filtragem, que geralmente é composto por um decantador/ clarificador para a retirada dos sólidos, filtro biológico para a reciclagem de nutrientes e um tanque com forte aeração, para a erradicação dos gases, no qual ajuda na oxigenação da água.
Existe vários tipos de sistemas de aquaponia, entre eles, o sistema de nutrient filmtechnique (NFT), o sistema Deep Film Technique (DFT) ou Floating, o sistema de mídia (Media Bed), o sistema de fluxo e refluxo (Flood and Drain) e o sistema de raízes flutuantes (Deep Water Culture).
Para tornar o sistema de aquaponia ainda mais ecológico e eficaz, diminuindo a dependência de recursos externos e minimizando o impacto ambiental, pode-se fazer a implementação de um sistema para captação de água da chuva e a instalação de paineis solares
A captação de água da chuva possibilita o aproveitamento de um recurso natural que, em muitas situações, é pouco utilizado. Essa água pode ser armazenada em tanques e utilizada tanto para reabastecer o sistema de aquaponia quanto para outras finalidades, como a irrigação. Isso reduz a necessidade de água potável, que se torna cada vez mais limitada, especialmente em áreas afetadas por secas ou com restrições hídricas.
Por outro lado, a instalação de paineis solares oferece uma fonte de energia limpa e renovável para o sistema de aquaponia. A energia solar pode ser utilizada para operar bombas de água, sistemas de filtragem, iluminação e até mesmo sensores e dispositivos de monitoramento, essenciais para manter o equilíbrio entre a criação de peixes e o cultivo de plantas. O uso de energia solar reduz significativamente os custos operacionais ao longo do tempo, contribuindo também para a diminuição das emissões de gases de efeito estufa.
Ao combinar a coleta de água da chuva e os paineis solares, o sistema de aquaponia torna-se autossuficiente, sustentável e mais resistente a variações no fornecimento de água e energia. Além disso, isso pode gerar economia a longo prazo e assegurar uma produção mais sustentável e eficiente.
Conclui-se que o sistema de aquaponia apresenta-se como uma solução inovadora e sustentável para a piscicultura, permitindo a produção eficiente de peixes e vegetais enquanto minimiza o impacto ambiental.
Autoria: Ana Beatriz Silva Araújo; Ana Luísa Câmara de Mendonça; Fernanda Keila Faustino; Larissa Giovana Rodrigues; Lorena Magalhães Pereira; Lorraine Stefani Cardoso Caetano; Luiza Ferreira Cruz; Marina Vaz de Melo Alves de Paula; Palloma Basílio Martins; Taynah Caroline Moreira; Thainá Francine Reis; Lorena Salim de Sousa