Existem várias medidas dietéticas que podem ser tomadas para auxiliar o funcionamento saudável do TGI e a defesa do hospedeiro, como, por exemplo, a composição da dieta e o uso de aditivos. Em geral, tais medidas seguem princípios que são aplicáveis a todas as espécies. Clique na matéria e leia mais sobre o assunto!
Princípios gerais dos mecanismos de defesa gastrointestinais
Na última semana falamos muito sobre a redução do uso de antimicrobianos como promotores de crescimento a partir de estratégias nutricionais. As matérias foram escritas baseadas no material divulgado recentemente pela FAO, intitulado “Animal nutrition strategies and options to reduce the use of antimicrobials in animal production”
Porém, o fato é, para a redução do uso de antimicrobianos na produção é essencial a manutenção da saúde do trato gastrointestinal (TGI). Por isso é importante que os nutricionistas e demais envolvidos na produção animal conheçam os princípios da digestão gastrointestinal e seu sistema de defesa. Sendo assim, a seguir, iremos explorar os principais pontos da saúde gastrointestinal descritos na publicação da FAO.
A microbiota desempenha um papel fundamental na imunidade, digestão e metabolismo, podendo até afetar o comportamento (Aziz et al., 2013; Takiishi, Fenero e Câmara, 2017; Wu e Wu, 2012). O hospedeiro e o microbiota vivem em simbiose e em um animal saudável eles estão em homeostase. Assim, microrganismos benéficos dominam a microbiota intestinal e patógenos oportunistas são controlados de forma eficaz (Bowring, Jenkins e Collins, 2015; Eeckhaut et al., 2011; Huyghebaert, Ducatelle e Immerseel, 2011).
Quando o animal está em simbiose com sua microbiota, uma alta diversidade de espécies bacterianas, com abundância de bactérias benéficas e baixa quantidade de bactérias potencialmente patogênicas, são encontradas no TGI. As espécies bacterianas associadas a benefícios para a saúde incluem Ruminococcus spp., Feacalibacterium prausnitzii e Bifidobacterium spp.
O TGI possui um sistema complexo para controlar e gerenciar a microbiota patogênica e benéfica. Sendo, o TGI, a maior interface entre os órgãos internos e o ambiente externo que é povoado por bactérias, vírus e parasitas. O melhor método dietético de apoio da saúde gastrointestinal sem o uso de antibióticos é seguir estratégias que apoiem o sistema de defesa do hospedeiro.
Uma parte importante da defesa contra patógenos envolve funções digestivas e absortivas. O hospedeiro permite que as bactérias comensais interajam, fermentem e sintetizem nutrientes, mas ao mesmo tempo precisa controlar essa microbiota. Para isso, faz uso de secreções do TGI, motilidade intestinal e função de barreira da mucosa.
Em particular, o pH e o tempo de retenção da digesta nas diferentes seções do TGI devem ser estritamente controlados a fim de regular a microbiota e otimizar as funções digestivas. Perturbações ou distúrbios dessas funções digestivas podem causar um desequilíbrio entre a microbiota e o hospedeiro, com efeitos prejudiciais à saúde animal.
O hospedeiro produz e secreta uma grande variedade de compostos com propriedades antimicrobianas no TGI, a fim de manter o equilíbrio da microbiota. Exemplos desses compostos incluem:
A mastigação, o peristaltismo e a motilidade do TGI garantem a mistura adequada da digesta com essas secreções antimicrobianas, bem como seu trânsito. Além disso, a barreira mucosa permite a digestão final e a absorção de nutrientes do lúmen, ao mesmo tempo que evita que os microrganismos patogênicos ataquem e/ou invadam o organismo (Sansonetti, 2011).
Essa barreira também protege a mucosa da exposição excessiva às enzimas digestivas e ao ácido gástrico no intestino anterior. A primeira barreira é composta pela camada de muco, a microbiota comensal incorporada, compostos secretados com propriedades antimicrobianas, como peptídeos antimicrobianos e imunoglobulinas (Clavijo e Flórez, 2018; Corfield et al., 2001; Johansson, Sjövall e Hansson, 2013; Li et al., 2015).
A segunda barreira consiste na camada epitelial de células, que estão conectadas umas às outras por junções estreitas, atuando como uma barreira física (Allaire et al., 2018; Vancamelbeke e Vermeire, 2017). A barreira final é o sistema imunológico da mucosa, que tem um sistema de defesa projetado para reconhecer, direcionar e matar patógenos (Ahluwalia, Magnusson e Öhman, 2017; Duerkop, Vaishnava e Hooper, 2009; Johansson e Hansson, 2016; Wu et al., 2012). A Figura 2 ilustra os principais componentes da barreira mucosa.
Várias células imunes residem no epitélio e na submucosa, incluindo células dendríticas, macrófagos, linfócitos intraepiteliais, células T reguladoras e células B. Além disso, a imunoglobulina A (IgA) também está presente e peptídeos antimicrobianos são secretados pelas células de Paneth na camada de muco.
Desse modo, existem várias medidas dietéticas que podem ser tomadas para auxiliar o funcionamento saudável do TGI e a defesa do hospedeiro. Dentre eles, por exemplo, água, qualidade da ração, gestão da alimentação, forma em que a ração é fornecida (por exemplo, pellets), composição da dieta e o uso de aditivos. Em geral, tais medidas seguem os princípios que são aplicáveis a todas as espécies. No próximo artigo, falaremos mais sobre esses pontos.
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As informações desta matéria foram retiradas do manual da FAO, intitulado “Animal nutrition strategies and options to reduce the use of antimicrobials in animal production” de autoria de :
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