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Projeto estuda uso de grãos de aveia no desempenho de ruminantes

22 Apr 2025

Projeto estuda uso de grãos de aveia no desempenho de ruminantes

Projeto estuda uso de aveia no desempenho de ruminantes

Conservar o valor nutricional de forragens destinadas a ruminantes de forma mais prolongada e contribuir para a melhoria da qualidade da carne e da saúde animal utilizando práticas mais sustentáveis na técnica de silagem. Estes são alguns dos objetivos do projeto “Uso de Aditivo Microbiológico e Óleo Essencial na Silagem de Grãos de Aveia no Desempenho de Ovinos”, coordenado por Valter Harry Bumbieris Junior, professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Para atingir esses objetivos, o projeto, que está em seu início, utilizará uma combinação nada comum: grãos de aveia como matéria-prima para a forragem e óleo essencial timol como aditivo no processo de silagem, que é uma técnica de conservação de alimentos que consiste basicamente em armazená-los durante longos períodos de tempo buscando a fermentação da composição em ambiente hermeticamente fechado, sem oxigênio.

O princípio básico da conservação envolve a ação de bactérias para produzir ácidos orgânicos na fermentação responsáveis por baixar o nível de pH da mistura, reduzindo assim o percentual de deterioração. Outro componente que deve ser levado em consideração nas silagens é o oxigênio. Ele deve ser evitado a todo custo na mistura das forragens, para que ela se preserve por mais tempo, pois, se presente, o oxigênio servirá para a produção de bactérias aeróbias que são o tipo de microrganismo a ser evitado nas silagens.

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“Costumo dizer aos meus alunos que o processo de conservação anaeróbico é como o de um bom vinho. Se fizer bem feito, se guardar bem guardado, mantendo esse ambiente anaeróbico, você tem um bom vinho por anos a fio”, ilustra o professor Valter.

A etapa final da silagem é a abertura do silo, fase que comprovará se as fases e processos anteriores (tipo de aditivo usado, retirada do oxigênio, tempo de conservação e procedimentos de vedação) foram bem-sucedidos. Depois da abertura, verifica-se quais tipos de bactérias se proliferaram mais. As boas, que ajudam a conservar os alimentos com a redução do nível de pH, ou as ruins, chamadas espoliadoras, que estragam os alimentos.

“O timol tem seletividade de bactérias. Ele age sobre essas bactérias ruins e não as deixa se desenvolverem”, afirma. Extraído do tomilho – erva muito usada para vários fins, como para condimento, na medicina alternativa e até na composição de pastas de dente –, o timol é um antisséptico natural. Aliás, uma das vantagens do timol é exatamente essa, de ser um produto natural, não químico. “Cada vez mais, países importadores da nossa proteína animal têm exigido que utilizemos produtos naturais. Hoje há essa demanda muito forte na sociedade”, contextualiza Valter Harry.

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Paralelamente à experiência com o timol, o projeto avaliará também o desempenho de aditivos microbianos – bactérias homofermentativas, heterofermentativas ou ambas –, que são comumente usadas em silagem. Os efeitos dos aditivos microbianos na forragem serão comparados com os do timol.

Conforme o professor Valter, o aditivo microbiano é suscetível à variação da temperatura do local, podendo ter uma adaptação boa ou ruim. Em lugares muito quentes, o desempenho desses aditivos é sempre uma incógnita. O projeto parte do pressuposto de que o timol, por não ser um organismo vivo como as bactérias, possuirá uma maior resistência à ação climática.

Vantagens da aveia

Assim como o timol, a aveia lida bem com mudanças climáticas e este é um dos motivos pelos quais ela foi escolhida como espécie de planta forrageira para compor a matéria-prima utilizada no estudo. Especialmente resistente em áreas de transição climática, onde prevalece o clima temperado, a aveia se dá muito bem com variações de temperatura, suportando de forma satisfatória todo tipo de clima, seja úmido ou seco, no frio ou no calor. Outro ponto inovador do estudo é o uso da aveia apenas em grãos, ao contrário do que é normalmente utilizado em silagens, nas quais se usam folhas e colmos (caules) picados, além das sementes.

O experimento com as silagens será realizado por etapas. Serão produzidos três tipos de acondicionamento com a forragem de aveia: um com aditivo microbiano, outro com o timol e outro sem nenhum aditivo, que é chamado de “testemunho”. Em momentos diferentes, os reservatórios nos quais estarão as forragens serão abertos para avaliar a qualidade do alimento, se fermentou demais ou não, se o nível do pH está adequado, se foram produzidas mais das bactérias benéficas ou mais das maléficas para o processo de conservação etc.

Ao fim dos estudos, pretende-se avaliar a qualidade da forragem produzida para a alimentação de 36 ovinos da raça Santa Inês que serão submetidos à pesquisa, todos com peso inicial de 16 quilos, confinados por período de até 80 dias para que atinjam o peso de abate.

Nessa avaliação, serão auferidos o ganho de peso, a produção de matéria seca (matéria que sobra quando parte ou todo o líquido da forragem é evaporado ou perdido) e as características morfométricas das carcaças, como uma peça de carne mais retilínea, ou mais longilínea, ou mais convexa, por exemplo. Também será avaliado o aproveitamento do alimento no consumo pelos animais, a digestibilidade, ou seja, o quanto desse alimento será retido após o consumo, resultando no ganho de peso.

O projeto vai ao encontro de alguns itens do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável – da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), tais como, garantir sistemas sustentáveis de produção de alimentos e implementar práticas agrícolas resilientes, que aumentem a produtividade e que fortaleçam a capacidade de adaptação às mudanças climáticas.

Além da questão ambiental, o projeto pretende contribuir para o desenvolvimento econômico. “A concepção é também fomentar o uso da aveia na alimentação animal, já que ela tem um grande potencial, não só para pequenos produtores, mas também para os grandes”, comenta o professor Valter.

Ainda segundo ele, o projeto pretende colaborar para um incremento da cadeia produtiva do setor, uma vez que, aumentando as vendas de sementes de aveia, aumenta-se também as pessoas envolvidas no setor, no cultivo, na colheita, no armazenamento, na compra e venda de insumos e no investimento empresarial no ramo.

“O retorno que nós queremos dar para o estado do Paraná e para as pessoas envolvidas na cadeia produtiva é também melhorar a qualidade de vida. Quem tem mais qualidade de vida, ganha mais, gasta mais, agrega mais à sua família, enfim, é um conceito, uma proposta que elaboramos na hipótese dessa pesquisa também, algo tecnológico e também econômico”, completa o professor.

Valter Harry Bumbieris Junior é doutor em Zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Realizou trabalhos com silagens de gramíneas temperadas em associação com leguminosas no Institut National de la Recherche Agronomique (Lusignan, na França) e é coordenador do Programa Brafagri de internacionalização com a França no Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UEL.

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