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03 Apr 2023
Com safra recorde, Brasil pode enfrentar problemas com armazenagem de grãos
Neste ano, quando o Brasil deve ultrapassar pela primeira vez a marca de 300 milhões de toneladas de grãos, um gargalo logístico se acentuará, alcançando um patamar igualmente histórico: 120 milhões de toneladas não terão espaço de armazenagem.
É mais do que toda a safra da Argentina, que enfrenta o terceiro ano consecutivo de seca e irá colher apenas 75 milhões de toneladas, contra uma estimativa inicial de 122 milhões de toneladas. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) recomenda que os países tenham estruturas de armazenagem para comportar pelo menos 1,2 vez o tamanho de suas colheitas.
A defasagem brasileira vem se acentuando desde 2000, quando o país ainda tinha silos para guardar, se necessário, todas as safras de um ano.
- Segundo dados da Conab, desde 2010 a produção de grãos aumentou 82% – de 149 milhões de toneladas para 271 milhões em 2022, e podendo chegar a 310 milhões neste ano
- Mas a capacidade de armazenamento cresceu apenas 35%, de 136 milhões de toneladas para 183 milhões.
- Assim, é possível que, pela primeira vez, a estrutura de silos do país não dê conta nem sequer da safra de verão, estimada em 188 milhões de toneladas – e isso contando apenas os principais produtos, como soja, arroz e milho.
“Não ter armazém no campo custa mais caro para o agricultor e a sociedade. Todo mundo paga essa conta. 85% da estrutura de armazenagem está em centros urbanos e industriais, ou nos portos, e daí os caminhões ficam em filas, sem armazém, nem secador nem estrutura suficiente para receber essa produção. O produto começa a perder qualidade e o preço do frete acaba explodindo, é um ciclo vicioso bastante sério”, aponta Paulo Bertolini, presidente da Câmara Setorial de Armazenagem de Grãos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).