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Tanino, um fator antinutricional… será?

03 Jul 2024

Tanino, um fator antinutricional… será?

Tanino, um fator antinutricional… será?

O cenário da produção animal se atualiza constantemente em função da busca dos consumidores por alimentos saudáveis e seguros. A retirada ou a redução do uso de antibióticos promotores de crescimento é uma tendência crescente, exercendo pressão sobre os sistemas produtivos pela busca de moléculas alternativas e, principalmente, naturais.

Entretanto, o uso racional de antibióticos passa não somente pela identificação de aditivos que consigam associar desempenho e saúde animal, mas também pela viabilidade econômica e produtiva em sua utilização.

Tornar a cadeia produtiva sustentável é fundamental para que seja possível produzir de maneira eficiente sem danos ao meio ambiente e à saúde pública.

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Nesse sentido, os taninos têm despertado interesse por parte das empresas e produtores em função de ser um produto natural com diversas atividades biológicas que podem ser aplicadas na alimentação animal. Tal fato se deve às suas importantes propriedades como:

Os taninos são definidos como um grupo heterogêneo de biomoléculas polifenólicas adstringentes, sendo, portanto, categorizados dentro da família dos polifenóis. Inúmeras plantas sintetizam esses compostos como metabólitos secundários e armazenam em flores, folhas, sementes, frutos, raízes e caules, constituindo papel no mecanismo de defesa contra insetos e herbívoros e auxiliando no crescimento das plantas.

Historicamente, os taninos foram empregados em curtumes para transformação de pele em couro. Além de atuar como agente tanante, os taninos foram utilizados na medicina humana para acelerar a cicatrização de feridas entre outros benefícios. Ainda hoje produtos à base de taninos são utilizados em tratamentos medicamentosos como uma alternativa aos antibióticos.

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Contudo, por muitos anos na nutrição animal, os taninos foram condicionados a classificação de fatores antinutricionais, principalmente por estarem associados a redução da disponibilidade de alguns nutrientes, por meio da precipitação de proteínas, inibição de enzimas digestivas e redução da utilização de vitaminas e minerais. Esses compostos são encontrados em diversos alimentos utilizados em nutrição animal, como cereais, forragens, arbustos e plantas medicinais.

Grãos como o sorgo, por exemplo, tiveram seu uso limitado em dietas devido à alta concentração de tanino, o que desencadeou, inclusive, a busca por cultivares com baixa concentração deste composto.

Em virtude de seus grupos fenólicos e hidroxil, os taninos interagem de vários modos com outras moléculas presentes no alimento. Essas interações são baseadas na ligação hidrogênio ou interações hidrofóbicas, podendo também interagir com moléculas para formar ligações covalentes. Dessa forma, a presença de tanino em altas concentrações pode impactar o uso dos nutrientes da dieta.

Como aditivo fitogênico, os principais taninos utilizados na produção animal podem ser divididos em dois grandes grupos, que diferem entre si pelas unidades monoméricas que os formam e pelo tamanho da molécula:

Na natureza, outras formas também são encontradas como os complexos, porém de menor interesse para uso na alimentação animal.

Figura 1. Classificação dos taninos

As duas principais classes de TH são galotaninos (formados por unidades de ácido gálico) e elagitaninos (mais abundantes, formados de ácido elágico). Os derivados de ácido gálico simples podem ser considerados uma terceira subclasse de TH.

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Figura 2. Estruturas dos taninos hidrolisáveis (A) e condensados (B). (Raja et al., 2014)

As principais fontes encontradas atualmente com produção em escala que possibilita seu uso são os taninos extraídos de árvores como a castanheira portuguesa (Castanea sativa Mill.) fonte de TH, acácia negra (Acacia mearnsii) e quebracho (Schinopsis spp.), fontes de TC, entre outras. Outros taninos são aplicados devido a sua atividade antioxidante, como os de extrato de semente de uva.

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Figura 3. Estruturas dos taninos hidrolisáveis (A) e condensados (B). (Raja et al., 2014)

Na produção animal, o tanino desperta interesse principalmente pela sua ação antibacteriana. Essas moléculas podem afetar o crescimento bacteriano tanto de microrganismos Gram positivos como de Gram negativos.

Os principais mecanismos de ação descritos na literatura demonstram que os taninos atuam em vários processos biológicos dos microrganismos tais como:

Outros meios de ação dos taninos são através da redução de fatores de virulência, que compreendem em:

Por meio dessas várias ações entende-se que a aplicação do tanino na produção de suínos pode ter amplo uso no decorrer da vida produtiva. Contudo, devido ao seu uso recente em nutrição animal, são poucas as informações acerca dos taninos e seus efeitos frente aos desafios encontrados na produção animal.

As principais pesquisas têm foco na avaliação do controle de diarreias pós-desmame, um dos momentos mais críticos na vida produtiva do suíno. Como já é de conhecimento e amplamente difundido, o desmame provoca alterações repentinas na alimentação, no ambiente e na interação entre indivíduos, expondo os animais à diversos agentes patogênicos.

Os patógenos são capazes de causar distúrbios intestinais e, consequentemente, disbiose, tornando frequentes os casos de diarreia pós-desmame.

Como efeito, o desempenho produtivo é prejudicado, causando alta morbidade e taxa de crescimento reduzida, o que onera os gastos com medicamentos, resultando em perdas econômicas significativas aos produtores.

Um dos principais agentes etiológicos de interesse nessa fase é a Escherichia coli enterotoxigênica (ETEC) (Girard et al., 2018). Como modo de combate desse patógeno, é comum o uso indiscriminado de moléculas antimicrobianas, as quais por sua vez são associadas a quadros de resistência antimicrobiana.

Recentemente a União Europeia iniciou a restrição do uso de óxido de zinco, uma das moléculas mais difundidas para controle de diarreia pós-desmame em leitões.

A ETEC coloniza o trato gastrointestinal pela ligação na porção apical dos enterócitos através da adesão das fímbrias da bactéria aos receptores da parede intestinal. Uma vez ligada aos receptores a bactéria secreta as enterotoxinas, toxina termolábil e toxinas estáveis ao calor (Girard et al. 2020). Essas toxinas por sua vez causam uma cascata de sinalização intracelular que resulta na hipersecreção de eletrólitos e água no lúmen intestinal, causando a diarreia aquosa.

Os taninos podem atuar na supressão desse patógeno, indisponibilizando minerais para seu crescimento, inibindo a formação de biofilme e a adesão bacteriana no epitélio intestinal. Seu uso é promissor como um possível substituto do óxido de zinco (Liu et al., 2020) bem como em programas que fazem uso racional de antimicrobianos.

 

Adicionalmente, os taninos também têm sido estudados para auxiliar no controle de Salmonella spp.

Costabile et al. (2011) e Reyes et al. (2017) avaliaram in vitro e verificaram a efetividade de várias fontes de taninos na supressão de Salmonella typhimurium. Um dos possíveis mecanismos é por meio da inibição do sistema de comunicação através de sinais químicos, chamado quorum-sensing (Sivasankar et al., 2020).

Outros patógenos também têm demonstrado sensibilidade ao tanino, como Clostridium perfringens (Elizondo et al., 2010), um gram positivo que acomete os suínos em diferentes fases.

Nesse sentido, os taninos podem ser aplicados como estratégia uma vez que esse patógeno não cria resistência (Hassan et al. 2020), e possui capacidade de suprimir o crescimento e os efeitos deletérios desse microrganismo.

Vale ressaltar que outras ações dos taninos devem ser levadas em consideração, como a modulação da microbiota e do sistema imune, complementando o efeito antimicrobiano dos taninos em desafios entéricos.

Além disso, em particular, seu potencial antioxidante (Molino et al. 2018) e efeito anti-inflamatório (Reggi et al. 2020) em leitões são interessantes para auxiliar os animais no controle da diarreia pós-desmame, por meio da melhora da saúde intestinal, auxiliando na estrutura e função de barreira Intestinal (Yu et al., 2020).

A alta capacidade antioxidante por exemplo tem sido estudada com potencial uso desses polifenóis como substituto parcial da vitamina E (Gulçin et al., 2010), tendo inclusive impacto positivo na qualidade da carne dos animais (Tomazin et al., 2020) e na capacidade dos animais resistirem ao estresse por calor (Dong et al., 2015).

CONCLUSÃO

Vale ressaltar que há muito a ser explorado sobre o uso do tanino em desafios causados por outros microrganismos de interesse bem como a aplicação dos diferentes produtos comerciais (tipos de taninos) e dosagens. Com o avanço dos estudos in vivo será possível esclarecer os meios de ação e o impacto produtivo do uso dessas moléculas na criação de suínos.

Por fim, o uso racional de antibióticos passa não só pela identificação de aditivos que consigam associar desempenho com saúde animal, mas também por viabilidade econômica e produtiva. Nesse sentido, os taninos estão longe de serem fatores antinutricionais e na verdade aparecem como moléculas promissoras a serem utilizados na produção de suínos.

Artigo originalmente publicado em suínoBrasil – Tanino, um fator antinutricional… será?

Tarciso Tizziani | Zootecnista, MsC e DsC em Zootecnia

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