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Microbiota e saúde intestinal: desafios e estratégias para modulação eficiente

05 Jun 2020

Microbiota e saúde intestinal: desafios e estratégias para modulação eficiente

O trato gastrintestinal (TGI) dos animais de produção apresenta uma comunidade complexa e dinâmica de microrganismos que influenciam vários processos fisiológicos, incluindo digestão, absorção e metabolismo de nutrientes, desenvolvimento do sistema imunológico e proteção contra patógenos.

Estima-se que existam mais células bacterianas no trato gastrointestinal do que no corpo do hospedeiro. O número e a composição dos microrganismos variam consideravelmente ao longo do TGI, podendo ser influenciados em função da idade do animal, composição da dieta, ambiente em que os animais se encontram, infecções por microrganismos patogênicos e administração de medicamentos.
A intensificação dos sistemas de criação submete os animais a fatores estressantes que podem alterar o equilíbrio da microbiota intestinal e predispor esses animais a diversas infecções, provocando queda nos índices de produtividade e considerável prejuízo econômico.

No intestino saudável as bactérias trabalham em sinergia, onde cada bactéria tem sua função na produção de metabólitos que serão usados pelo hospedeiro. A perturbação desse equilíbrio, por sua vez, leva à seleção de certos grupos de bactérias que resultam na redução das bactérias comensais e suas funções, reduzindo a atividade metabólica da microbiota e propiciando o crescimento anormal de microrganismos patogênicos. Modificações na dieta do animal, por exemplo, podem alterar o substrato disponível para o desenvolvimento bacteriano, levando a um supercrescimento de algumas espécies microbianas específicas e provocando desequilíbrio na comunidade.
Abaixo, Gabriel Jorge Neto, médico veterinário e CEO da empresa Cinergis Saúde e Nutrição Animal, destaca estratégias para modulação inteligente da microbiota:

  1. A microbiota precisa ser instalada o mais cedo possível e antes do alojamento na granja.
  2. O ambiente intestinal precisa ser cuidadosamente manipulado, pois sendo bom desenvolve a boa microbiota, mas sendo mal desenvolve bactérias patogênicas.
  3. O uso de simbióticos (prebiótico junto com probiótico) é mais efetivo que o uso isolado dessas ferramentas.
  4. Se não houver suficientes bactérias boas, os prebióticos podem não funcionar.
  5. Os efeitos positivos e negativos dos prebióticos são dose-dependentes. A subdosagem não funciona e o excesso pode provocar diarreia (mínimo 1 kg/t até 5 kg/t).
  6. Alguns prebióticos auxiliam os probióticos: MOS aglutina bactérias com fímbrias do tipo 1 e multiplica as bactérias produtoras de AGCC; 1,3 e 1,6 betaglucanas adsorvem micotoxinas e aumentam a imunidade ; Inulina, GOS, FOS, LACTULOSE, XOS multiplicam as bactérias benéficas bifidogênicas e láticas e fornecem substrato para a produção de ácidos graxos de cadeia curta e bacteriocinas.
  7. Combinar cepas probióticas reforçadas com prebióticos é estratégia relevante para a redução de salmonelose e campilobacteriose transmitida por alimentos aos humanos.
  8. As bactérias probióticas funcionam melhor quando fornecidas constantemente.
  9. A técnica “spot-on-the-lawn” permite a avaliação “in vitro” da inibição das bactérias patogênicas pelas bactérias probióticas.
  10. A colonização do ceco por bactérias láticas é a ferramenta principal para a erradicação da salmonela impedindo sua multiplicação intestinal.
  11. Os probióticos láticos precisam ser MICROENCAPSULADOS para: a) resistirem ao uso de ácidos antibacterianos e antifúngicos; b) resistirem à porção ácida (pró-ventrículo) do sistema digestivo; e c) resistirem ao processo de peletização (não resistem ao EXPANDER).
  12. Os probióticos láticos precisam ser MICROENCAPSULADOS com diferentes espessuras de ALGINATO para serem liberados em escala crescente do duodeno ao ceco.
  13. Quorum Sensingentre bactérias probióticas em aves adultas é uma estratégia essencial no combate à multiplicação no ceco de salmonelas, clostrídios, campilobacter, etc.
  14. As bactérias probióticas precisam ter alta capacidade de fixação e multiplicação e ser produtoras de metabólitos (AGCC, bacteriocinas, etc).
  15. As bactérias probióticas funcionam melhor quando fornecidas via ração do que via água.
  16. Clostridium butyricum transforma os ácidos secretados pelas bactérias láticas em ácido butírico de curta duração, mas de alta atividade nos enterócitos e com equilíbrio biológico.
  17. As bactérias do gênero Bacillus que não são colonizadoras devem ser fornecidas na forma esporulada e constantemente.
  18. Lactobacillus rhamnosus (ATCC 7469) adsorve toxinas entéricas e produz bacteriocinas e AGCC, favorecendo a adsorção de micotoxinas dos adsorventes.
  19. Bactérias probióticas láticas promovem aumento equilibrado da resposta imune na forma de leucócitos CD3+, CD8+, CD4+, células “T” e estimulam a produção de IgA e IgG intestinal e sérico.
  20. Para rações peletizadas, os Bacillusdevem ser esporulados e as bactérias láticas precisam ser microencapsuladas. Nesse caso, a peletização pode diminuir um a dois logs por grama de ração obrigando o fornecimento de um probiótico mais concentrado.

A modulação correta da microbiota desempenha papel fundamental nos mecanismos de defesa e saúde intestinal dos animais. Portanto, se faz necessário o uso de estratégias que propiciem o equilíbrio entre os diferentes componentes da microbiota para o correto e saudável funcionamento da função digestiva e geral do hospedeiro.

Por Daniele Telles, Analista Técnica da Cinergis Saúde e Nutrição Animal. 

 

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