Uso de Xilo-oligossacarídeos e Xilanase como ferramenta de modulação da inflamação entérica em frangos de corte
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Uso de Xilo-oligossacarídeos e Xilanase como ferramenta de modulação da inflamação entérica em frangos de corte
A avicultura atual busca de um equilíbrio paradoxo: aumento da pressão por crescimento e produtividade com redução do uso de antibióticos, aumentam os desafios sanitários no campo, em especial os que afetam a integridade intestinal.
O termo “Integridade intestinal refere-se à capacidade funcional e estrutural da microbioma intestinal de atuar como uma barreira seletiva, que permite a absorção eficiente de nutrientes e água, ao mesmo tempo em que impede a translocação de patógenos, toxinas e antígenos indesejáveis para a corrente sanguínea’’ de acordo com Gresse et al., (2017).
O microbioma intestinal desempenha múltiplas funções vitais, como a fermentação de fibras dietéticas, a síntese de nutrientes e ácidos graxos de cadeia curta, a proteção contra a colonização por patógenos e a modulação do desenvolvimento e da maturação do sistema imunológico do hospedeiro.
Um dos maiores desafios na produção de frango de corte, quando se refere ao termo integridade intestinal, são os desafios por enterite necrótica (EN).
• Ela é causada por Clostridium perfringens e frequentemente agravada por infecção concomitante por Eimeria spp.. Os prejuízos associados vão além da mortalidade: há perda de desempenho, piora da conversão alimentar e aumento de descarte por lesões podais.
Agora, onde o cenário de produção de aves que está cada vez mais orientado por restrições ao uso de antibióticos, a nutrição funcional emerge como importante ferramenta e existem inúmeros aditivos que são utilizados com esse propósito, como por exemplo o uso de estimbiótico.
O estimbiótico desponta como uma alternativa promissora aos promotores de crescimento tradicionais, atuando na modulação da saúde intestinal por meio da ativação da fermentação de fibras alimentares.
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Ao contrário de probióticos e prebióticos tradicionais, o estimbiótico não se limita a oferecer substrato fermentável.
Ele atua como um sinalizador funcional, composto por pequenas quantidades de xilo-oligossacarídeos (XOS) associados a uma xilanase específica, com o objetivo de estimular seletivamente a proliferação de bactérias fibrolíticas.
Bactérias fibrolíticas são aquelas capazes de degradar fibras complexas como os arabinoxilanos que estão naturalmente presentes nos ingredientes como milho, farelo de soja, trigo, podendo ser encontradas em até 4% da composição total de uma dieta a base de milho e farelo de soja.
Essa ativação microbiana das bactérias fibrolíticas induz maior fermentação nos cecos, com aumento na produção de ácidos graxos de cadeia curta (AGCCs), em especial o butirato e propionato, que têm impacto direto na integridade da mucosa intestinal e na imunorregulação.
Um estudo conduzido por Lee et al. (2022) utilizou um modelo experimental, onde simula fielmente um cenário de desafios de campo importante para avaliar o impacto da combinação de xilo-oligossacarídeos associados a xilanase (estimbiótico) na performance de frangos de corte desafiados por EN.
• Para isso, os autores induziram NE utilizando sobredose de vacinas vivas (coccidiose e IBD) seguida de inoculação oral com C. perfringens — estratégia que gerou lesões entéricas graves, inflamação sistêmica e perda significativa de desempenho.
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O resultado foi claro: o estimbiótico não apenas protegeu a mucosa intestinal e reduziu a inflamação, como também restaurou o desempenho produtivo dos animais desafiados. O estudo foi dividido em dois experimentos:
Experimento 1 – Estabelecimento do modelo EN
Foram utilizados um delineamento fatorial 3×2: Vacinação (coccidiose + IBD) em 0×, 10× ou 20× a dose recomendada.
• Desafio com Clostridium perfringens (CP): presença ou ausência.
A condição mais severa (20× vacina + CP) foi selecionada como modelo-padrão para indução de NE, por causar lesões intestinais graves e diarreia intensa, simulando um surto comercial.
Experimento 2 – Efeitos do estimbiótico
Foram utilizados em delineamento fatorial 3×2:
• Aditivos,
• Grupo controle: dieta controle sem aditivos;
• Grupo 1: dieta com estimbiótico (Signis®, 100 mg/kg) e
• Grupo 2: combinação de aditivos – Signis® combinado com óleos essenciais, probióticos e mana oligossacarídeos.
• Desafio: Sem desafio (NE–) ou com desafio (NE+), conforme modelo de Exp. 1.
Os tratamentos com combinação de aditivos foram formulados com três ingredientes adicionais: (probióticos + FOS), (óleos essenciais de hortelã, anis e cravo) e (MOS + β-glucanos).
Os resultados de revelam o potencial do estimbiótico como agente funcional mesmo sob desafio, os frangos que receberam Signis (100 mg/kg) tiveram:
• O desafio NE reduziu significativamente o ganho de peso e piorou a conversão alimentar.
• Frangos desafiados e suplementados com STB apresentaram desempenho comparável aos não desafiados, superando significativamente o grupo controle (CON).
• Melhorias no ganho de peso e menor conversão ao longo de todo o ciclo (1–30 dias);
• Redução significativa da translocação de endotoxinas para a corrente sanguínea, com queda nos níveis séricos de TNF-α – marcador inflamatório chave;
• Melhor morfologia ileal, com vilosidades mais longas e menor profundidade de criptas, o que se traduz em maior área absortiva;
• Redução da contagem de C. perfringens e E. coli no ceco e tendência à preservação da população de Lactobacillus spp.;
• Menor incidência de dermatite plantar, reflexo direto da redução de diarreia e melhora da consistência da cama.
Curiosamente, os resultados obtidos com o uso isolado do estimbiótico foram equivalentes aos de uma combinação complexa contendo probióticos, óleos essenciais e mananoligossacarídeos, indicando uma eficiência funcional superior por unidade ativa.
Por que isso importa?
A lógica do estimbiótico não é aumentar o aporte de substrato fermentável, mas mesmo em baixas dosagens estimular metabolicamente a microbiota intestinal para degradar melhor as fibras já presentes na dieta, como os arabinoxilanos.
• Isso o torna particularmente eficaz em dietas com ingredientes ricos em NSPs (polissacarídeos não amiláceos), sem a necessidade de reformulações onerosas.
Além disso, ao modular a resposta inflamatória e preservar a integridade da mucosa intestinal, o estimbiótico contribui para um melhor uso de nutrientes, menor conversão alimentar e maior previsibilidade zootécnica, mesmo em situações de alto estresse sanitário.
Além disso, sua ação sinérgica com as fibras da própria dieta permite uma abordagem de baixo custo e alta adaptabilidade, sendo aplicável tanto em dietas convencionais quanto em formulações com coprodutos fibrosos.
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Referências sob consulta junto ao autor.
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