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Aditivo fitogênico e problemas de estresse térmico na produção de monogástricos

01 Sep 2021

Aditivo fitogênico e problemas de estresse térmico na produção de monogástricos

Os desafios relacionados a ambiência e conforto térmico circundam a produção animal desde o início dos processos de intensificação dos sistemas produtivos, sendo a temperatura a variável ambiental que mais afeta o bem-estar e saúde dos animais (Ipek e Sahan, 2006; Dias et al., 2014).
Dentre os vários segmentos da cadeia de produção de proteína animal, de acordo com Iuspa (2014) a avicultura é o mais dependente das altas tecnologias. Ainda assim, mesmo com toda tecnologia existente, alguns problemas relacionados ao conforto térmico, como amplitude térmica e umidade, ainda afetam os sistemas produtivos.
A compreensão dos problemas relacionados a ambiência é maior quando alguns conceitos são esclarecidos, como o da zona termoneutra, ou também chamada de zona de termoneutralidade ou zona de conforto térmico.

A zona termoneutra é definida como sendo a faixa de temperatura ambiental dentro da qual um endotérmico é capaz de manter sua temperatura corporal sem aumentar sua taxa metabólica acima de uma taxa basal (McNab, 2012).

A temperatura do ar na qual a taxa metabólica começa a aumentar acima da taxa basal para fins de termorregulação, conforme a temperatura do ar diminui, é denominada temperatura crítica inferior. À medida que a temperatura do ar aumenta, a temperatura na qual o resfriamento evaporativo ativo se inicia, ou na qual o metabolismo excede a taxa basal, é então chamada de temperatura crítica superior.

Sendo assim, a temperatura crítica inferior e a superior demarcam o menor e o maior limite da zona de conforto térmico (Mitchell et al., 2018). Os efeitos adversos das temperaturas fora da zona de conforto térmico demandam gastos energéticos para a manutenção da temperatura corporal, que afetam o desempenho e, em casos extremos, podem levar à morte do animal (Dias et al., 2014).

Os sistemas produtivos de aves e suínos apresentam complexidades no que diz respeito a variações nas temperaturas de conforto térmico, de acordo com a idade e o ambiente no qual o animal se encontra.

Na avicultura moderna, o emprego de tecnologias como uso de ventiladores, aspersores, nebulizadores, exaustores e aquecedores por exemplo, buscam adequar o ambiente para máxima eficiência produtiva no decorrer das fases de criação, que possuem temperaturas de conforto térmico que variam de 35°C no início de vida, até 21°C na sexta semana de idade das aves (Iuspa, 2014).

Da mesma forma, na suinocultura, além das variações de acordo com a idade, em algumas situações do sistema de produção, são reunidas diferentes categorias animais em um mesmo ambiente, como é o caso das maternidades, onde se alojam porcas em lactação, com temperatura de zona de conforto térmico de 15 a 17°C, e os leitões, com temperatura de zona de conforto térmico variando de 27 a 33°C.

A depender de fatores como intensidade e frequência que os animais são submetidos a temperaturas fora da zona de conforto térmico, podem ocorrer problemas desde redução no consumo de ração, até comprometer o sistema imunológico do animal, facilitando o acometimento de infecções por agentes patógenos, com consequente prejuízo na produção (Tekce e Gul, 2017).

Um exemplo clássico dessa situação, é a incidência da síndrome ascítica (ascite) aviária, que no final do século passado ocasionou prejuízos na casa de um bilhão de dólares na cadeia avícola, e que pode ter como uma das causas o estresse térmico (Ipek e Sahan, 2006; Petrolli et al., 2019). Além disso, leitões são frequentemente estressados devido variações térmicas na fase de creche, o que ocasiona diarreia e os tornam mais susceptíveis a ação de bactérias.

Tendo em vista a dificuldade no controle de variáveis ambientais como por exemplo a temperatura, bem como a extensão do território brasileiro, que confere de forma geral a característica de ser um país tropical, onde é comum variações térmicas na ordem dos 15°C dentro de um mesmo dia, algumas estratégias, como uso de aditivos fitogênicos, são aplicadas na busca de diminuir os efeitos deletérios na produção animal ocasionadas por problemas relacionados a amplitude térmica.

O uso de aditivos fitogênicos na produção animal vem sendo utilizado com maior frequência nos últimos anos na busca de alternativas ao uso de antimicrobianos.

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Comparados com outros aditivos alternativos, como prebióticos e ácidos orgânicos, o uso dos aditivos fitogênicos é mais recente, e por consequência os exatos modos de ação ainda não são completamente esclarecidos (Cao et al., 2010; Gheisar e Kim, 2018).
Entre os compostos fitogênicos, os óleos essenciais são os compostos mais estudados (Burt, 2004), e possuem diversas propriedades benéficas como:

bactericida,

antifúngico,

anti-inflamatório e

antioxidante (Cowan, 1999; Yoshino et al., 2006).

Entretanto, são poucos os aditivos fitogênicos utilizados visando o auxílio nos problemas relacionados ao estresse térmico, seja por calor ou frio, bem como problemas relacionados a doenças respiratórias.

Nesse sentido, a empresa Biochem, que é sediada na Alemanha e que também está presente no Brasil (Biochem do Brasil Nutrição Animal Ltda), possui em seu portfólio de aditivos tecnológicos o BronchoVest®, que é a base dos óleos essenciais de eucalipto, hortelã e cristais de mentol, e visa dar suporte a animais submetidos à condições de estresse térmico e problemas respiratórios, uma vez que estudos recentes mostram respostas promissoras sobre o uso de aditivos fitogênicos nestes aspectos.

Zmrhal et al. (2018) avaliando a inclusão de um aditivo fitogênico rico em flavonóides na dieta de frangos de corte, submetidos a aumento de temperatura e redução de umidade ambiental de 21°C e 66% aos 28 dias de idade, até 27°C e 44,5% aos 33 dias de idade, respectivamente, observaram redução de comportamentos relacionados ao estresse térmico, como bico e asas abertas, nas aves suplementadas com o aditivo fitogênico em comparação aos animais do grupo controle.

Avaliando um aditivo fitogênico tendo como principal componente o óleo essencial de Eucalyptus globulus na água de bebida de frangos de corte, e que foram submetidos a duas temperaturas ambientais (22 ou 36°C), Tekce et al. (2020) constataram maior ganho de peso e consumo de ração para os animais em condição de estresse térmico alimentados com o blend de óleos essenciais, em comparação aos animais que se encontravam em ambiente com temperatura amena.

Ainda, os autores também observaram menor concentração de substâncias reativas ao ácido tiobarbutírico (Tbars), um indicativo de oxidação lipídica, na carne do peito dos frangos alimentados com o aditivo fitogênico.

Os grupos hidroxila fenólicos (OH) presentes nos compostos de alguns óleos essenciais inibem a oxidação de ácidos graxos insaturados, levando à formação de peróxido de hidrogênio, aldeídos e cetonas nos tecidos lipídicos da carne.
Além disso, alguns desses compostos fenólicos podem agir como antioxidantes, aumentando a atividade de enzimas que desempenham esse papel e inibe processos oxidativos (Nakatani, 1997; Kanani et al., 2017).

 

O óleo de eucalipto, além de ser uma promissora alternativa para melhorar o conforto térmico dos animais, também pode estimular respostas imunológicas, bem como funcionar como bactericida (Awaad et al., 2010). Essa característica é conferida devido o óleo de eucalipto ser rico no composto 1,8-cineol, que possui caráter lipofílico, e altera a permeabilidade e fluidez da membrana de microorganismos, afetando o transporte iônico e a ação seletiva da membrana, comprometendo a atividade enzimática e a homeostase do citoplasma de bactérias patogênicas (Petrolli et al., 2019).

Além disso, o óleo de eucalipto é rico em monoterpenos, que também complementa sua função bactericida, comprovada por Damjanović-Vratnica et al. (2011), que observaram forte atividade antimicrobiana do óleo de eucalipto para as cepas dos microorganismos Streptococcus pyogenes, Escherichia coli, Candida albicans, Staphylococcus aureus, Acinetobacter baumannii e Klebsiella pneumoniae.

Além de ter como constituinte o óleo de eucalipto, o BronchoVest® também possui em sua composição o óleo de hortelã, que é rico em compostos nutracêuticos como mentol, limoneno, mentona, piperitona e terpenos (Verma et al., 2010).

Foram observadas redução na formação, e rompimento de biofilmes maduros de Candida albicans, bem como redução da expressão do gene de proteases aspárticas e da principal proteína adesina que se liga covalentemente às transglutaminases das células hospedeiras, quando foram submetidos ao óleo de Mentha piperita (Benzaid et al., 2019).

Por fim, além do mentol oriundo do óleo de hortelã, o BronchoVest® completa sua composição ativa com cristais de mentol, enriquecendo o aditivo com esse composto que confere alívio na respiração dos animais acometidos com doenças respiratórias, muitas vezes ocasionadas pela amplitude térmica que debilita o sistema imunológico dos animais.

Isso ocorre devido o mentol ativar receptores específicos nos neurônios sensitivos, os chamados canais potenciais de receptores transitórios.

Esses receptores são expressos através do trato digestivo e na cavidade oral, e desempenham vários papéis no controle da motilidade, quimio e mecanossensação, termorregulação, dor e hiperalgesia, funções da mucosa, homeostase, bem como no paladar (Lee et al., 2008; Holzer et al., 2011).

Esse receptores, além de terem sido identificados em mamíferos, também estão presentes nas aves (Yakamoto et al., 2016). Uma vez ativados, esses receptores causam a sensação de resfriamento, e facilita a entrada de ar, conferindo alívio na respiração para animais com sintomas de problemas respiratórios.

Pensando que a qualidade do ar respirado pelos animais pode aumentar a possibilidade de lesões no trato respiratório, proporcionando condições ideais para a instalação e replicação de agentes infecciosos, e além do trato respiratório ser vinculado ao sistema gustativo, que possuí os receptores de mentol, o BronchoVest® além de poder ser aplicado via água de bebida, também pode ser aplicado no ambiente via spray, buscando ação antisséptica para prevenir infecções respiratórias, e ativação dos receptores de mentol com consequente sensação de resfriamento e alívio ao respirar.

Ao integrar as características dos componentes ativos presentes no BronchoVest®, sua utilização possibilita exercer efeitos no combate de problemas respiratórios, como descongestão do trato respiratório com alívio para respiração, capacidade antimicrobiana, bem como alívio no estresse por calor.

Em diversas situações nos sistemas de produção de aves e suínos no Brasil, o BronchoVest® é uma alternativa viável, desde ao combate no estresse térmico sofrido por galinhas de postura, matrizes, frangos de corte, e porcas em lactação que tem consumo de ração reduzido em épocas quentes, até sua utilização para leitões em fase de creche que sofrem com problemas respiratórios ocasionados por agentes patogênicos.

REFERÊNCIAS
Awaad, M. H. H.; Abdel-Alim, G. A.; Sayed, K. S. S.; Kawkab, A.; Ahmed, A.; Nada, A. A.; Metwalli, A. S. Z., Alkhalaf, A. N. 2010. Immunostimulant effects of essential oils of peppermint and eucalyptus in chickens. Pakistan Veterinarian Journal, 30:61-66.
Benzaid, C., Belmadani, A., Djeribi, R., Rouabhia, M. 2019. The effects of mentha x piperita essential oil on c. albicans growth, transition, biofilm formation, and the expression of secreted aspartyl proteinases genes. Antibiotics, 8:10. DOI:10.3390/antibiotics8010010
Burt, S. 2004. Essential oils: Their antibacterial properties and potential applications in foods–A review. International Journal of Food Microbiology, 94:223–253. DOI:10.1016/j.ijfoodmicro.2004.03.022
Cao, P. H., Li, F. D., Li, Y. J., Ru, Y. J., Péron, A., Schulze, H., Bento, H., 2010. Effect of essential oils and feed enzymes on performance and nutrient utilization in broilers fed a corn/soy-based diet. International Journal of Poultry Science, 9:749-755. DOI:10.3923/ijps.2010.749.755
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Damjanović-Vratnica, B.; Đakov, T.; Šuković, D. and Damjanović, J. 2011. Antimicrobial effect of essential oil isolated from eucalyptus globulus labill. from montenegro. Czech Journal of Food Science 29:277-284. DOI:10.17221/114/2009-CJFS
Dias, C. P., Silva, C. A., Manteca, X. 2014. Bem-estar dos suínos. 1st ed. Londrina, 403p.
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